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terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

A ponte, o ribeirão e a pedra

Antes de continuar a história, (re)lembro que as partes entre parênteses são comentários de hoje sobre o que escrevi no caderninho lá atrás.

25/08/2019: Domingo. A previsão era de 75km até a cidade de Ribeirãozinho, mas não foi o que aconteceu. Ontem, no hotel, só consegui congelar 1l de água. Normalmente eu ando com 4l congelados e uma outra garrafinha de 500ml gelada. Aí, à medida que vai descongelando, eu vou bebendo. Cheguei em Ponte Branca sem água (que não estivesse quente), depois de 30km em 3h30 de subida na terra. Nem algumas partes de descida eu aproveitei. Muita areia e/ou pedras/buracos. Parei num lugar para perguntar de hospedagem e me indicaram dois hotéis. No caminho, avistei um posto de gasolina. Conversei com o dono, Eneas. Perguntei se tinha um quartinho pra dormir uma noite e falei que estava sem água. Quarto ele não tem, mas me deu 2l de água congelada e encheu as minhas outras garrafas e colocou no freezer pra dar um grau. Conversamos mais um pouco e ele perguntou se eu tinha almoçado. Disse que não e ele falou que iria me pagar um almoço e ver se conseguia um lugar para eu passar uma noite. Estava fazendo 34°C, com sensação de 37. Impossível continuar sem água. 

(Depois do almoço, o Eneas me indicou ir até à ponte, que não é branca, que separa MT de GO, por cima do Rio Araguaia. Infelizmente, não dá para tomar banho no rio, pois é um "mini-canion", sem praia ou parte mais baixa que chegue ao nível da água, sem falar da correnteza e reentrâncias submersas abaixo das paredes rochosas. Resumindo, é perigoso, praticamente mortal. Porém, é uma vista sensacional. Do lado de Goiás, após a ponte, não tem cidade, então voltei para a cidade, depois de algum tempo admirando a vista e tirando foto. Quando voltei para a cidade, fui buscar minhas águas no posto do Eneas e ele disse que tinha conseguido um lugar para eu passar a noite e queria conversar mais um pouco comigo. Depois da janta, ficamos conversando em frente à casa dele até a hora de dormir.)
 
Centro da cidade. Bem charmosa, bem pacata, bem gostosa, com exceção da temperatura


Cânion no Rio Araguaia

O outro lado da ponte

26/08/2019: Segunda. As maravilhas da estrada... Cheguei em Ribeirãozinho (49km) depois de 4h30 de pedal. Demorei um pouco mais do que o previsto por alguns fatores: as recorrentes subidas, apesar de ter tido menos do que no último trecho, o clima muito seco e vento contrário. Teve uma subida que quase me venceu. Quando acabava, não acabava, tinha outra. Grau de inclinação alto e muito longa. Não sei precisar quantos quilômetros ela tinha, porque não uso nada para mensurar isso, mas sei que foi longa. Porém, acredito que o pior foi o vento. Por 4 vezes foi mais difícil ainda. Em 3 destas vezes, vento lateral me empurrando pra fora da pista - em duas eu tive de parar; uma, porque fez uma roda de vento, que levantou poeira, e em outra eu levei um "soco" e quase caí - e, na outra vez, vento diagonal me empurrando para trás e para dentro da pista. Ao chegar na cidade, fui, ao primeiro posto que vi, tentar hospedagem. Não consegui, mas me indicaram um cara da rádio que é bem ligado ao ciclismo. Chegando na rádio, vi dois caras conversando na esquina. Perguntei onde era a prefeitura pra ver se conseguia lá pela assistência social. Um deles era o tal cara da rádio, o Catolé, o outro era o secretário de obras (Adalto). A gente conversou um pouco e eles me colocaram num hotel com tudo pago. 

(Na cidade de Ribeirãozinho, eu não fiz muita coisa. Apenas comi e dormi. A única coisa que posso dizer que fiz, foi ver passar os jipes que disputaram o Rali dos Sertões em Costa Rica-MS, que estavam indo para a etapa de Barra do Garças-MT, e pararam ali para tomar uma cerveja, comer alguma coisa e logo seguiram.)

27/08/2019: Terça. Penúltimo trecho, antes de fazer uma parada maior, na cidade de Barra do Garças-MT. Foram 54km até a cidade de Torixoréu (que, na língua indígena Boróro, significa "Pedra Preta"). 5h do pedal mais preguiçoso que já fiz. Tive três paradas pelo caminho: duas para comer e uma quando eu passei por um rio, para dar um mergulho. Mas hoje eu estava muito preguiçoso. E nem foi tão difícil assim o percurso. Depois da última parada, decidi não parar mais e apertei o pedal. Nem uma subida longa me parou. Mas quase! Quando já estava chegando na cidade, já avistando as casas, acabou o asfalto. É brincadeira?? E foi um trechinho curto, de uns 2 ou 3km, com areia, pedras e buracos. Tudo pra dificultar. Cheguei e comecei a caçar hospedagem. Fui na prefeitura, nada. Em dois postos, nada. Fui na igreja, nem padre tem. Faz dois anos que estão sem padre fixo. Fiquei rodando algum tempo, procurando hospedagem. Achei um bar, que tem uns quartinhos do lado, mas acho que eram pagos e, pela cara, não passava cartão e meu estoque de dinheiro físico tinha acabado. Amanhã, já sei que vou enfrentar 13km de terra, dos 62km que tenho até Barra do Garças.

Lugar onde parei para tomar banho. Estes pontos durante o caminho são uma benção e um alívio

A vista na estrada, em algum ponto do trecho entre Ribeirãozinho e Torixoréu

708km pedalados entre cidades.

28 comentários:

  1. Emocionante! Acho que eu ia gostar de viver uma aventura desta. Mas primeiro teria que aprender a andar de bicicleta. Kkk Deus te abençoe!

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    1. hahahahaha. Nunca é tarde pra começar. Olha uma outra inspíração pra você:

      http://www.clubedecicloturismo.com.br/artigos-1/58-historias-de-cicloturista/257-a-historia-do-cicloturista-valdo

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  2. Trabalho incrível !
    A forma como é descrito nos faz sentir se presente nos passeios

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  3. Aventuras, adrenalina , histórias e belezas.

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  4. Histórias e paisagens lindas! Dá vontade de sair pedalando também.....Muita emoção em cada pedalada!

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  5. Achei formidável sua rotina diária!! Parabéns!!!

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  6. Parabéns pela história, coragem e sucesso 👏👏

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  7. Parabéns pela iniciativa, dessa forma podemos conhecer lugares maravilhosos junto com você.

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    1. Esta é a ideia. Mas não fique só na leitura, vá visitar, porque vale muito a pena. Vamos viajar!

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  8. Uma aventura e tanto. Parabéns pelo blog e pela coragem!

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  9. Muito legal passar para o "papel" essas aventuras. Uma forma de nunca esquecer. Parabens

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  10. Adorei seu texto, recordei meus vinte anos que aventura maravilhosa! Parabéns

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  11. Uau!! Muito bom!! Experiências enriquecedoras ... desafiadoras hein?? Que Deus o guarde .... o abençoe!!

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  12. Oi Lucas, aqui é a tia Helena. Estou feliz por suas aventura no pedal. Deus te abençoe sempre e te guarde. Volte logo. Saudades.

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  13. Oi Lucas !! Deus é contigo irmão !!! Estou orando por você !!! Grande abraço !!

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