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sexta-feira, 31 de julho de 2020

Rio Verde de Mato Grosso: primeiro balneário

O Bruno, meu anfitrião, morava junto de sua esposa e a filha dela, de outro casamento, num mesmo quarto. Em outro quarto ficam o parceiro dele no negócio que eles tinham na própria casa, de conserto/fabricação de cadeiras de varanda, daquelas de fio de plástico, junto de seu pai, que era bem idoso. Este já não tinha mais consciência do que acontecia, nem de onde ou quando estava. Também não tinha muito controle motor, estava sempre sentado ou deitado. Não conseguia levantar, nem andar sozinho. Tinham também alguns cachorros pequenos, filhotes bagunceiros e comilões, mordiam tudo. Várias vezes eu acordei com meus tênis e/ou meias espalhados pela casa ou quintal. Depois de isso ter acontecido algumas vezes, passei a deixar os tênis e meias dentro de sacolas ou dentro da mochila. Agora, continuemos a história, lembrando que as partes entre parênteses são comentários de hoje sobre o que aconteceu no dia.

Continuação do dia 09/01/19: De manhã, fiquei só descansando na internet (afinal, estava cansado do pedal e não tinha dormido direito, como falei no último post). Depois do almoço, enrolei um pouco e saí para conhecer algum balneário (existem 5 balneários, um ao lado do outro, sendo que TODOS têm, pelo menos, uma cachoeira ou queda d'água, fora outros dois ou três em outros pontos da cidade em outros rios. Um estava fechado, não sei se reabriu, mais o Sítio Passarim e o Rancho da Princesa, que não são balneários, mas tem acesso ao rio. O acesso é somente para hóspedes das acomodações existentes nestes locais, mas isso não quer dizer que eu não tive acesso. hehehe. Só que isso fica para um post futuro). Estava disposto a entrar no primeiro que aparecesse devido ao meu cansaço de ontem. Uma ciclovia linda apareceu no caminho para me levar tranquilo. Passei num hotel e entrei. Perguntei ao dono se era balneário e ouvi que sim (o nome do local é Hotel Fazenda Paraíso. Pelo menos era na época. O dono tinha me falado que pensava em mudar o nome, já que ele tinha assumido a administração recentemente. É o primeiro balneário para quem está vindo da cidade, o último para quem está voltando. São dois rios que se encontram, apesar de eu achar que um deles foi desviado para fazer a cachoeira, mas eu não tenho certeza. Tem uma cachoeira gostosa, mas com muita folha. Para quem não gosta, aconselho ir direto ao rio, que fica mais à frente).


Cachoeira bem rasa. Tem um cano no lado esquerdo. Logo abaixo tem uma roda d'água. Isso que me faz acreditar que o rio foi desviado, há muitos anos, para alimentar a energia da propriedade

Paguei a entrada e fui curtir uma cachoeira e um rio maravilhoso de águas claras, corredeiras e partes tranquilas, partes rasas e partes fundas para brincar (tem algumas quedas d'água menores no rio e são bonitas, mas a melhor parte é um poção que uma barreira natural de pedras formou, onde a profundidade é um pouco maior e tem uma árvore bem acima. Nesta árvore, tem uma corda amarrada para nos jogarmos dentro do rio. Já dizia a velha música, "brincadeira de criança, como é bom..."). Porém, chegou uma chuva forte que escureceu de repente o céu e estragou a brincadeira (voltei à recepção e fiquei conversando com o dono do local. Ele me contou alguns planos que tinha para o local, algumas mudanças que pensava em fazer. Estava construindo mais quartos, melhorando o restaurante... Deve estar bonito lá, hoje).

"encontro das águas"

Água bem clara. Só não é mais visível, porque as pedras ao fundo são escuras


À esquerda da foto fica o "poção" natural onde é possível dar uns pulos gostosos







Na volta, quando parou de chover, duas árvores e um galho grande haviam caído pelo caminho. O galho, inclusive caído na ciclovia, bloqueando-a. Ao chegar na casa do Bruno, conversei um pouco com ele, que me falou que estava pensando em assar uma carne, amanhã, lá no rio, que é seu aniversário. Vamos ver se vai sair.

domingo, 26 de julho de 2020

2 em 1

Tô chegando num dos trechos que mais me encantou, desde quando comecei a viajar, pedalando por aí. Enquanto não chego lá, fiquem com o relato de mais uma parte do "trecho" (gíria "hippie", que se refere à estrada e à vida sem raízes). Lembrando que, as partes entre parênteses são comentários de hoje sobre o que aconteceu na época que eu escrevi no meu caderninho.

09/01/19: Algumas coisas aconteceram nestes dias, mas não deu para escrever. No dia 07, parti de Rio Negro em direção a São Gabriel Do Oeste (62km). Era o caminho mais longo para chegar a Rio Verde de Mato Grosso, mas pelo menos era asfaltado (o caminho direto são 75km). A estrada direta é de terra e não quero pedalar na terra com a Frankenstina pesada (na verdade, não é a estrada inteira, mas dá uns 50km e, pelo que me falaram, cheio de subidas. Ainda estava no começo da minha viagem e não quis arriscar. Saí às 7h da manhã de Rio Negro e cheguei em São Gabriel do Oeste às 10h).

Bem no começo, quando virei à direita para tomar a rota de asfalto, ao invés de seguir em frente para a estrada de terra, havia um restaurante na "esquina". Neste restaurante, um cachorrinho começou a me seguir. Parei de pedalar e ele chegou, meio tímido, meio com medo. Brinquei um pouco e fui pedalando com ele me seguindo. Um pouco mais à frente, passei por uma chácara com cachorros maiores que ficaram latindo e ele não passou. (Pensei em voltar para trazê-lo junto de mim, mas achei que seria um problema para conseguir hospedagem. Na época não tinha barraca ainda).

Depois de mais ou menos 1 hora pedalando, eu vi que o tempo estava fechando e que já chovia mais pra frente. Pouco depois, um caminhão encostou, ofereceu carona e eu aceitei. Prendi a Frankenstina no caminhão e subi. 5 minutos depois, veio a chuva (eu gosto de fazer o percurso inteiro no pedal, dá um pouco de orgulho e sentimento de conquista, mas a estrada que eu estava só tinha uma faixa indo e uma voltando e não tinha acostamento. Eu pedalava no limite da estrada, em cima da faixa lateral e achei que pedalar nesta estrada, na chuva, não seria uma boa ideia). Conversamos muito pouco, a maior parte do tempo ficamos em silêncio. Ele me deixou na entrada da cidade e me explicou como chegar ao centro. Fui até um posto de gasolina, na saída da cidade, abastecer as garrafas com água. Perguntei onde tinha uma bicicletaria para corrigir umas coisinhas e dar um banho na Frankenstina. Deixei-a lá junto das minhas coisas e fui atrás de hospedagem.

Pedalada começou com céu aberto

Uma das coisas mais legais da pedalada, é ver coisas lá na frente...

... e alcançá-las. Não por ansiedade, porque eu nem sabia se a estrada me levaria para perto do morro, mas pelas pequenas conquistas do caminho


Serra de Maracaju, que corta o estado do MS.

Tempo começando a fechar

Achei um wi-fi aberto e sentei para almoçar (feijão descongelado e ovo cozido), de frente à praça da igreja, que esteve fechada o tempo todo (fiquei ali na praça algum tempo vendo se a igreja iria abrir para pedir hospedagem, mas não adiantou). Fui, então, à uma escola, só que não podia receber ninguém, a menos que fosse feito um pedido à secretaria da educação 30 dias antes (peguei a ideia da escola do livro Fé Latina). Porém, o pessoal da escola me indicou um abrigo, na "casa de passagem" (que nada mais é do que um albergue. Neste caso, me parece que é mantido em conjunto entre a prefeitura e a igreja católica). Ao chegar, fiz o cadastro e recebi, mais ou menos, as regras. Teria as 3 refeições, as coisas ficariam trancadas em armários e as chaves ficavam com as assistentes sociais, só podendo abrir duas vezes por dia, sendo que, a segunda, era só na hora dos abrigados irem embora (por esse motivo eu não escrevi nada em São Gabriel do Oeste) e não poderia ter nada cortante/perfurante. As outras regras, fui pegando aos poucos. Não pode sair depois das 17h, não pode ficar no quarto durante o dia, nem de noite, antes da hora de dormir. Assisti a um filme, então (pelo celular, apesar de não ter wifi lá. Já tinha baixado pra pode assistir em casos assim).

Fui dormir, para ser acordado às 5h30 para o café da manhã. Tomei café, enrolei um pouco e fui caçar uma cachoeira que tinham me falado que existia na cidade, que na verdade eram 3 em sequência. Uns 15km depois, sendo 10 de terra/barro/pedra, várias perguntas e confirmações do caminho e uma entrada errada, cheguei. Fui bem cauteloso por não conhecer o local e pelo fato da água ser barrenta, mas era tudo raso. Tentei ir até a segunda, que parecia ser muito alta (só vi a parte de cima dela), mas não achei trilha que me levasse até lá e eu tinha visto várias pegadas que acho que eram de jaguatirica, lobo-guará e onça parda, então não quis me arriscar muito em mata fechada (pois estava muito fechada), principalmente porque ela se afastava do rio e estava interditada em vários pontos. Voltei na hora do almoço. Comi e "tirei a siesta", sentado no sofá. Quando acordei, fiquei pensando no que iria fazer, pois minhas 24h estavam acabando e eu não podia ficar mais uma noite, pelas regras do local. Eu até voltei à igreja, mas ainda estava fechada. Decidi, então, ir embora para Rio Verde de Mato Grosso, naquela hora mesmo.

Algumas das pegadas que encontrei pelo caminho

Cachoeira "Los Pagos" (ou uma delas, pelo menos. A única que consegui alcançar)

Tempo nublado, sem sol comendo o juízo, sem sofrimento, fui embora. Apesar dos pesares, foi bom eu ter ficado no albergue: eu jantei no dia 07, tomei café da manhã, almocei e tomei café da tarde no dia 08 e ainda peguei umas bananas pra levar comigo. Tá ótimo! Saí 15h30 de lá e parti para 65km de pedal (isso no dia 08/01. Em Rio Verde de Mato Grosso, eu já tinha uma hospedagem garantida me esperando, através do Warmshowers, que é outra plataforma de hospedagem gratuita, porém exclusiva para cicloviajantes). Estrada duplicada e com acostamento largo todo para mim!!! Melhor coisa é pedalar sem precisar ficar olhando pra trás a cada 5 segundos, pra ver se vem carro, caminhão, ônibus... Nem me importei com os 30km de subida constante, porém leve (foram 30km em ritmo constante e velocidade boa, sem mudar marcha), que começaram apenas 2km após ter saído da cidade. Subidas ruins são aquelas que são curtas, mas íngremes. As longas e íngremes são pesadelos. Quando acabou a subida, acabou também a pista dupla e o acostamento direto virou "vai-e-volta". Começaram, também, algumas subidas mais íngremes. Mas, vamos lá. Sobe a marcha e pedala com convicção!

Acostamento delicioso

Momento para descansar, beber água, comer e fazer graça

Algumas fotos da estrada, ou são porque eu achei o lugar bonito ou interessante...

... ou são só pra poder descansar

Faltando 2km pra chegar, vi uma placa indicando Rio Verde a 10km. Eu vim acompanhando a quilometragem da pista o caminho todo. No final, fiz a conta errada. Droga! Queria chegar antes de escurecer, mas não deu. Os últimos 3-5km foram já no escuro. Às 20h em ponto cheguei na cidade. 4h30 de pedal, de novo, só que, desta vez, eu já havia pedalado 30km de manhã e não estou tão cansado como das outras vezes. Na próxima, tentar diminuir o tempo. Procurei um lugar com wi-fi para falar com o Bruno, meu anfitrião, irmão do Domingos, quem eu conheci no Warmshowers, mas que não mora em Rio Verde de Mato Grosso, mora em Dourados. Enquanto esperava por ele para irmos à sua casa, tomei um isotônico (sem propaganda grátis). No caminho pra casa dele, ele me falou que também queria fazer uma cicloviagem junto do irmão, mas que havia casado e adiado os planos (eles até começaram a fazer: saíram de Campo Grande com destino a Rio Verde de Mato Grosso, mas pararam em Bandeirantes e pegaram um ônibus. O que não é pouca coisa, pois são 70km entre as duas cidades). Chegamos na casa dele, jantamos, tomei um banho e capotei de cansado, mas não dormi direito, pela quantidade de mosquitos e outros insetos. Tomei outra banho, desta vez de repelente (um resto que eu tinha trazido comigo de Ilhabela, à base de citronela, que funciona maravilhosamente bem) às 3h da manhã, e dormi bonito, só acordando às 9h50.



Fim do dia. Eu achei que ia conseguir chegar antes de escurecer, mas não deu.

Estrada da besta!

Banheiro onde tomei banho, da melhor maneira que consegui. E eu não estava em cima de nada!

Os acontecimentos do dia 09, propriamente dito, continuam no próximo post.

170km pedalados entre cidades.

terça-feira, 21 de julho de 2020

Um final que poderia ter sido evitado

Este final de semana, pude voltar a pedalar longas distâncias. Fui para uma cidade vizinha de onde estou (eu precisava viajar, manter a tradição de viajar nesta data) e passeei em dois balneários. Foram momentos agradáveis de sentimento profundo e recarga das energias. Mas, fica para um post futuro, pois hoje vou falar do que aconteceu em Rio Negro, após os primeiros momentos relatados no post anterior. No clima da data, segue o post. Só para lembrar, o que está entre parênteses é comentário de hoje.

26/12/18: Hoje eu vou fazer diferente: começarei pelo fim. Pela primeira vez, em muito tempo, estou me sentindo sozinho e sofrendo com isso. Eu sempre tinha algo para me distrair: um filme, seriado, jogo, música, alguém pra conversar, piscina ou só dar um rolê. Tirando piscina, filme e alguém para conversar, eu até tenho as outras opções. Nem conversar online dá, porque não tem wi-fi, nem sinal na cidade. Eu estava, inclusive, assistindo seriado, mas me cansou. Me fez pensar e avaliar o que eu estou fazendo. A viagem não me trará felicidade. As cachoeiras também não. Eu preciso de uma companhia, mas não acho que vou encontrá-la aqui. Porém, também não quero voltar para São Paulo ou Campo Grande. Aqui, talvez, eu consiga me distrair com um emprego e voltar a ter internet e meu notebook. Mas, o que eu quero mesmo, é uma companheira. Tendo alguém ao meu lado, não preciso de mais nada. Eu disse que iria começar pelo fim, mas encerro por aqui o dia de hoje.

(O dono tinha viajado para Santa Catarina de férias e o balneário estava fechado. O sócio dele, a quem eu ainda não havia conhecido, iria aparecer por lá algum dia, que eu não sabia quando. Estava numa cidade que eu não conhecia ninguém, a não ser o Márcio. O balneário estava fechado, a cachoeira mais famosa da cidade interditada, tudo fechado numa minúscula cidade do interior do Mato Grosso do Sul, inclusive os outros balneários... O tédio me absorvia. Eu acabei me deixando envolver pelos planos do dono e pela hospedagem gratuita. Estava no começo da minha viagem e já estava colecionando erros e comodismos. O sócio chegou na cidade no dia seguinte, dia 27. Tinha uma personalidade totalmente diferente da do dono. Muito escrachado, piadista, arrogante e com pouca verdade. Eu nunca sabia se ele estava falando a verdade, se mentia ou se brincava. Ele foi para lá com um amigo que iria ajudá-lo a fazer as coisas que precisavam ser feitas: pintar, carpinar, limpar... Enfim, serviços gerais. Levou também um outro amigo, pedreiro, para construir um quarto atrás da lanchonete. Nós acabamos trabalhando muito pouco. Ficávamos a maior parte do tempo jogando sinuca e tomando banho de rio. Fora os churrascos que ele fazia. Levou um monte de gente da família para passar o fim de ano. Eu não ia muito com a cara do sócio. Não sentia credibilidade em nada do que ele falava. E isso só se confirmou quando ele me falou de um outro balneário ali perto, que eu só fui descobrir que não existia depois de pedalar quase 2h. Já estava quase chegando no Pantanal.)

02/01/2019: Pouca coisa aconteceu até o dia 30/12. Muito tédio, alguns filmes e seriados. No dia 30, família e amigos do sócio chegaram para a virada do ano. Muito churrasco, cerveja, sinuca, truco e banhos de rio e cachoeira. Eu até dormi lá com eles nos dias 31/12 e 01/01. Hoje, o pessoal foi embora e voltei para o quarto na cidade. Hoje também bateu a saudade da minha esposa. Depois de algum tempo, lágrimas rolaram. Me lembrei de como ela cobria a cabeça, principalmente as orelhas, para dormir, para não ser incomodada por pernilongos ou qualquer outro inseto. Daí, o pensamento voltou, como sempre volta, ao hospital. E aos acontecimentos do dia 23/02/16. Eu deveria ter quebrado alguma coisa. Me falta um surto. É uma merda ser controlado e segurar a raiva aqui dentro. Mas, não vou descontar em quem não merece. E quem merece está ausente e inalcançável. Não tem "feliz" ano novo.

05/01/19: Hoje, creio que foi o dia decisivo para que eu vá embora. O dono voltou de viagem e foi ao balneário. Estávamos limpando a beira do rio, que estava cheia de galhos trazidos pelas chuvas que encheram o rio. O sócio disse para juntar tudo e fazer uma fogueira. Fui contra, mas ele disse que faria mesmo assim. Juntei a contragosto, mas ele disse que a fogueira seria na pedra, o que causaria pouco impacto e seria fácil de controlar. Algum tempo depois, fez outra fogueira ao pé de uma árvore. Nisso, eu parei de juntar e fui dar uma volta para me acalmar. Quando voltei, os vi tacarem gasolina em uma árvore meio seca que crescia na pedra e pendia para dentro do rio por não ter raízes fortes e tacarem fogo logo em seguida. Eu me segurei para não explodir, mas questionei novamente. A resposta que obtive do sócio foi: "Você é do Ibama?". Então, subi e abandonei o serviço, pois seria inútil discutir. Acabei pegando no sono na rede. A noite chegou e eles subiram do rio. Me perguntaram o que foi e eu respondi que não concordava com nada que foi feito. O sócio ficou com raiva, disse que eu não era sócio, nem nada, e eu me calei novamente. Depois, ele veio me pedir desculpa, mas ficou muito claro que meu valor é nulo. Amanhã (domingo) vou jogar bola de manhã e ir à uma outra cachoeira em seguida. Segunda eu parto daqui.

06/01/19: Não joguei bola, não fui à cachoeira interditada e também não fui à outra cachoeira, que o Márcio me falou que o dono da propriedade recebe banhista na bala. Fiquei o dia todo na internet. No horário do almoço, o dono veio buscar a tia para almoçar no balneário e nem fez menção de me chamar. Só falou comigo para que eu devolvesse a camisa do balneário que ele tinha me dado para usar enquanto trabalhava lá com eles. Falou numa boa. Meio envergonhado, mas numa boa. Porém, só reafirmou que devo partir. À noite, veio me dizer que o clima tá ruim, que a tia (irmã da dona da casa que estava hospedado) não me quer aqui. Disse que eu sou cachaceiro, que fico no bar o dia todo (o que não deixa de ser verdade, porque era o único lugar que eu conseguia wi-fi, porém, nem cerveja eu bebia, quanto mais cachaça, que eu nem gosto. No máximo, um suco aqui e ali. Só é permitido ser "cachaceiro" quando você conhece a pessoa, como no caso do sócio do dono, que era amigo da família e a própria tia dele, que bebia todo dia, mas, como era dentro de casa, tava liberado). Assim, chegou ao fim minha estada prolongada (desnecessariamente) em Rio Negro: melancolicamente.

(Pra alegrar um pouco este post depressivo, algumas fotos de pôr-do-sol de Rio Negro)


quarta-feira, 15 de julho de 2020

Rio Negro: Cidade e Rio.

Enquanto eu vou escrevendo estes relatos, vou relembrando as paisagens, os acontecimentos, os sentimentos, as cores... É uma delícia! Principalmente neste momento de pandemia, onde está tudo parado, tudo fechado, tudo isolado... Já que não tá dando pra tomar banho de cachoeira, o jeito é relembrar de quando eu consegui tomar banho de cachoeira. Então, prepare-se para mais um relato do meu pequeno grande caderninho de anotações. Lembrando que as partes entre parênteses são comentários de hoje sobre o que escrevi na época.

24/12/18: Acordei umas 8h e fiquei enrolando na net. O padre precisava sair, então eu tive de parar de enrolar. Fui até o balneário mais próximo da cidade (não queria pedalar grandes distâncias. A cachoeira que eu queria conhecer, a do Rio do Peixe, que é a mais famosa, estava interditada, pois um homem havia morrido afogado alguns dias antes. Final de ano, festas, bebida, cachoeira... Não dá certo). Chegando lá, fui recebido pelo dono, que é de Campo Grande, que havia assumido a administração do balneário há 1 mês, junto de sua esposa Joice, irmã da antiga dona e filha do proprietário do terreno, também junto de seu sócio. Contei a ele sobre minhas viagens e ele me convidou a entrar e conhecer o local. Me levou, pelas pedras dentro do rio, até uma parte que é fechada para os turistas, mas que pretende abrir no futuro. Levou-me à uma cachoeira muito forte para contemplação, ao lado de um paredão de uns 15m de altura, onde ele quer construir uma ponte que vai ligar o paredão à uma rocha grande no meio do rio, que divide o rio em dois, até que ele se junte novamente depois da rocha. Me levou também à cachoeira que é aberta ao público.

Foto da "prainha". Bom local para crianças. Correnteza moderada e não muito fundo. Um adulto consegue atravessar o rio andando

Foto tirada da prainha para o outro lado. A corda delimita até onde os banhistas podem ir

Caminho que fizemos pelas pedras no meio do rio para chegar até a cachoeira sem nome

Foto de cima da cachoeira com o paredão ao lado esquerdo e a pedra gigante que divide o rio ao lado direito

Cachoeira sem nome

Muito forte. A água cai em pedra, então não tem profundidade, mas é impossível chegar nela pela força da água

Local onde ele pretende fazer a ponte

A pedra no meio do rio

O outro braço do rio, do outro lado da pedra. Neste lugar, deu pra sentar e tomar uma deliciosa massagem da água

O caminho do rio do outro lado da cachoeira, com sua mata virgem preservada, como deve ser!

Vegetação crescendo em cima da pedra

Já de volta à parte aberta aos turistas, um pouco mais para a frente da prainha. Neste trecho, é possível brincar descendo o rio com uma boia ou sem nada, como eu desci várias vezes

Principal queda do balneário, mas não sei seu nome. É possível chegar até às quedas do lado esquerdo, mas é bem difícil, tanto chegar como, principalmente, voltar, pois é necessário escalar uma pedra alta

Queda do lado direito das quedas principais. Não é muito alta, mas dá para entrar atrás da queda e ficar relaxando "escondido" 

Conversamos bastante sobre passado, presente e futuro na andança e no almoço que ele fez e me convidou a participar. Fez vários planos pra mim, aqui na cidade, com futebol, e até me arranjou um lugar para ficar: a casa da sua sogra. Em troca, eu o ajudo no balneário, enquanto o projeto do futebol não sai. Voltei para a igreja para tomar banho e saí para a casa da sogra dele, para conhecê-la e conhecer o lugar onde iria ficar, que ele quer transformar em um hostel.

Uma senhora super simpática. Conversamos por pouco tempo, pois eles estavam indo para Campo Grande, onde moram, para a ceia de natal da família. Encontrei o Márcio, que havia conhecido ontem, e ficamos conversando na rua por quase 3 horas. Nesse tempo, presenciamos um acidente. Uma moto descia a avenida e bateu na frente de um carro que não respeitou a placa de "pare". O motoqueiro voou por cima do carro, mas, aparentemente, só teve alguns arranhões e machucou um pouco a perna. A moto teve apenas um retrovisor e uma parte do para-lama quebrados e o carro teve a sua dianteira completamente destruída. Espantoso!!!

Voltei para a igreja, esquentei as fatias de pizza que sobraram e fui pro quarto. Umas 22h, o padre bateu à porta e me chamou. Havia me trazido uma marmita com ceia de natal, que trouxe da casa de alguém, e uma sacola com várias frutas. Acabei nem comendo, pois estava sem fome. Guardei na geladeira quando o padre saiu de novo. Comi só uma laranja deliciosa. Almoço garantido.

25/12/18: Acordei com a mesma música tocada nos auto-falantes da igreja, chamando o povo para a missa. Já era a 4ª vez, em 3 dias que eu ouvia ("e o seu nooooooome era JesUUUUUUUUUUUs de Nazarééééééé"). Fui tomar café e comi o pão de forma todo quebrado que comprei em Rochedo uns 5 dias atrás, mais uma maçã da sacola de frutas. Arrumei minhas coisas para " me mudar", pois o padre viajou e tive de sair da igreja. Fui para a nova casa depois de me despedir e agradecer ao padre Arlei. Chegando na casa, procurei no lugar onde a chave deveria estar e não a achei. Uma hora depois, consegui falar com o dono do balneário, que me disse que eles tinham levado a chave. Eu estava com a Frankenstina cheia e pesada demais para andar 3km (eles estavam no balneário), em uma estrada de terra ruim com subidas e descidas (na verdade, eu tava era com preguiça. Já andei umas 10x a mais do que isso em outros momentos, em estradas tão ruins quanto). Comecei a procurar um lugar que estivesse aberto para deixar minhas coisas e ir buscar a chave. Achei uma padaria, mas já estava fechando. Eram 10h da manhã. Achei, depois, uma loja de roupas, que também estava fechando. Fui, então, à lanchonete que sempre ia para usar o wifi. Eram 10h50 e me disseram que fechariam meio dia. Deixei as coisas lá e corri pro balneário. Cheguei lá e o dono me falou que estava indo pra cidade comprar almoço. Se eu soubesse, nem teria ido! Falei que tava tudo fechado, só tinha um mercado aberto. Fomos, peguei minhas coisas, deixamos na casa e compramos as coisas pro almoço. Miojo e sardinha. Delícia!!! (A marmita do padre ficou para a janta).

Hoje, tinham 110 pessoas no balneário, contando crianças, que deveriam ser por volta de 25. Na volta, ainda tudo fechado, menos o mercado. Comprei calabresa e pão para a janta. Na última facada na calabresa, cortei o dedo meio fundo e meus band-aids tinham ficado na necessaire, que eu esqueci na igreja, junto da minha toalha de viajante (essa toalha, eu ganhei do casal de poloneses que conheci no Pantanal. É uma toalha que tem um "compartimento" nela mesma, que você dobra ela de uma forma que consegue guardar ela dentro dela mesma, dentro desse compartimento e carregá-la como se fosse uma bolsinha). O jeito agora, é deixar aberto mesmo, jogando água boricada, ocasionalmente, e ir dormir com os carrapatos. Achei um na minha perna, que não sei se veio do mato, do cachorro ou se já estava na cama.

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Primeiro trecho completo a gente nunca esquece

Não. Eu não visitei os "zigurates".

Mas a cidade de Corguinho se tornou importante para minha história. Porém, foi uma curta passagem e a história continuou. As partes entre parênteses são comentários de hoje sobre o que escrevi na época.

23/12/18: Consegui, finalmente, completar um trecho no pedal. Saí às 7h30 de Corguinho e cheguei às 13h em Rio Negro. Os primeiros 25 ou 30km foram tranquilos, com exceção de um ônibus que passou muito perto e deu uma desestabilizada (normalmente, os veículos respeitam as bicicletas na estrada e desviam quando podem. Porém, nesta estrada em que eu estava, era apenas uma faixa indo e uma voltando e sem acostamento, o que me fez pedalar no limite da estrada, em cima da faixa lateral [NA MÃO CORRETA, nunca andem na contra mão] o tempo todo. Eu estava num trecho de subida onde, no final, tinha uma parede de pedra. Quando o ônibus passou, o vácuo balançou a bicicleta e o vento que voltou da parede me empurrou para a estrada de volta. Até hoje, foi o momento mais tenso em que eu quase perdi o controle da Frankenstina), mas, graças à cesta que ganhei, usei as duas cordas para prender a mochila da frente e consegui segurar o guidão (antes da cesta, eu usava uma corda elástica de 3m para prender a mochila de trás e uma de 1,5m para prender a da frente, mas nenhuma das duas ficava estável o suficiente).

Depois destes 30km, comecei a sentir as pernas pesando. No caminho, fiz algumas paradas para fotos da serra. Faltando 18km, já com 4h de pedal, cheguei a um restaurante onde abasteci minha água gelada. O pouco que eu tinha já estava quente. Parti novamente, mas, em 3 ocasiões de subida, não aguentei e desci para empurrar. Algum tempo depois, cheguei à uma vilazinha e parei num bar para descansar. Tomei uma cerveja (literalmente uma) e conversei por uma hora com o pessoal que lá estava. Ainda ganhei um salgadinho de bacon, a pururuca. Me despedi e parti para os 5km finais. 1km depois, começou a chover. Mais 1km e a chuva parou. Mas aliviou e muito! Última subida para entrar na cidade e consegui vencê-la em cima da Frankenstina (até este momento, eu ainda não a chamava assim. Tentava pensar em algum nome inspirado no Beto do livro: "Fé Latina", que chamava a bike dele de princesa. Eu pensei, por algum tempo, em preciosa, mas achei que seria muito parecido e muita cópia).

Fotos que tirei da serra




Cheguei!!! (54km em 4h30, descontando a uma hora que fiquei conversando com o pessoal no bar. Pra primeira vez, tava bom). Domingo, 2 dias para o Natal, passado do meio dia, numa cidade com mais ou menos 5mil habitantes... Tudo fechado! Só um posto de gasolina e uma lanchonete estavam abertos. Sentei na lanchonete onde virei (literalmente) um isotônico (sem merchan!!!) e fui comer minha marmita de ontem, que já estava com cheiro e gosto ruim. Completei com 1l de suco de laranja. Fiquei algumas horas ali, pensando se iria ao rio ou se procuraria hospedagem. Na maior parte do tempo que fiquei ali, foi conversando com o Márcio (amigo que fiz na cidade). Resolvi, então, tentar hospedagem e fui à igreja da cidade ver se conseguia. Fiquei 2h30 batendo e nada do padre. Pelo menos, tinham duas crianças brincando, na praça ao lado, que logo me incluíram na brincadeira, "atirando" em mim e "me matando" toda vez que eu levantava.

Na hora da missa, o padre (Arlei) apareceu e conversei rapidamente com ele, que pediu para que eu esperasse a missa acabar. Após o final, ele apenas me convidou para entrar, me mostrou onde ficava o banheiro para que eu tomasse banho, o quarto onde eu iria dormir e ainda me pagou uma pizza e um suco (eu achei que ele iria querer conversar antes, fazer algumas perguntas... Eu amo o interior). Ele foi visitar alguma família da igreja para participar da ceia de natal. Quando ele voltou, ficamos conversando por algum tempo. Contei parte da minha história e fui dormir, exausto do pedal.

84km pedalados entre cidades.

domingo, 5 de julho de 2020

Uma visita não planejada

Quando ainda estava em Rochedo, uma pessoa me indicou conhecer Corguinho, principalmente pelos "zigurates", os seguidores terraplanistas do ET Bilu. Eu me segurei para não rir na cara da pessoa. Disse apenas que Corguinho não estava nos meus planos, que iria seguir direto para Rio Negro, apesar de Corguinho estar no caminho e eu ser obrigado a cruzar a cidade. Pois bem. Segue relato do que aconteceu. Lembrando que, o que está entre parênteses, é um comentário que eu faço hoje, sobre o que aconteceu na época.

22/12/2018: este dia costuma ter altas emoções todos os anos.

Saí de Rochedo às 7h38, com destino a Rio Negro (cerca de 70km). Porém, após mais ou menos 30 minutos de pedal, o câmbio da Frankenstina quebrou e entrou no aro. O "menos pior", é que eu estava na subida e logo parei a bike, sem danificar muita coisa. Por sorte não quebrou nenhum raio. Arrumei minimamente, apenas para poder empurrar, sem que entrasse no aro novamente (nas descidas eu conseguia montar e descer "na banguela"). Andei por volta de 1h30 empurrando a bike e pedindo carona sem sucesso. Ninguém parou. Cheguei a Corguinho às 9h30, hora que eu queria estar, ao menos, próximo de Rio Negro (pela minha experiência atual, nesse tempo de pedal, eu não estaria nem na metade do caminho planejado). Parei no primeiro posto de gasolina que vi, bebi água e perguntei se havia alguma bicicletaria na cidade. Me indicaram onde era e fui. Sábado, faltando 3 dias para o Natal, numa cidade de mais ou menos 5mil habitantes, ela estava... aberta!!! Me cobrou R$50,00 pelo serviço e pelas peças. Precisou trocar também a corrente (o câmbio que ele tinha era inferior ao meu, mas era o único que ele tinha). Detalhe que, o dinheiro que eu tinha em um dos bancos que tinha conta, havia acabado e o que tinha em moeda não era suficiente. Só me restava a grana que tinha em outro banco, mas eu não tinha como sacar, pois não tinha agência deste banco na cidade, nem caixa 24h (o bicicleteiro não passava cartão). Eu fiquei ligeiramente em pânico, pois não tinha como pagar e, até onde me constava, o meu cartão servia apenas para saque, não funcionava como débito. O cartão anterior, do mesmo banco, era assim. Fui à uma loja ao lado, pedir o Wi-Fi, para falar com a família ver o que dava pra fazer, se alguém conseguia me ajudar, mas, mesmo que me enviassem dinheiro, era sábado, não iria cair a tempo (alguém, que não lembro quem, me falou para tentar passar o cartão como débito, então conversei com o dono da bicicletaria). Ele me falou para passar o cartão no mercado ao lado e levar o recibo para ele. Tentei passar os R$50 e não deu. R$40 e nada. Minha última esperança era passar R$30, pois tinha uma nota de R$20 e pagaria o conserto (como eu ia comer era outra história). Passou então os R$30 e consegui pagar o conserto. Também aproveitei o wi-fi para assistir a final do mundial.

Nisso, já eram 11h40 e a fome batia forte pelo esforço. Fui no único restaurante que achei aberto ver se conseguia alguma coisa, no mínimo, mais barato, pois ainda tinha alguns trocados. Ao chegar, o dono me falou que já tinha acabado o almoço. Seu funcionário não tinha ido e ele fez pouca comida. Uma pessoa me falou que estava tendo almoço grátis num salão, na esquina de cima. Fui lá, na caruda, e perguntei para uma moça, que estava na cozinha, quanto era o almoço, já sabendo que era 0800, e contei um pouco da minha história. Ela me falou que era gratuito, mas só para funcionários do município, pois era uma confraternização de fim de ano da prefeitura, mas eu poderia sentar e comer. Sentei à mesa um pouco mais tranquilo. Fui me servir e era um buffet de churrasco, com linguiça e carnes de porco e de boi, mais a mandioca, que não pode faltar nos churrascos do centro-oeste. Delícia! Ainda vi várias pessoas enchendo potes com comida para levar pra casa. Não pensei duas vezes e enchi meu pote de sorvete pra garantir a janta.

Depois do almoço, voltei para a bicicletaria, que ficava quase de frente para a loja, para continuar usando o wifi. Nesse momento, passou uma menina da loja, de onde eu estava usando o wi-fi, e falou para eu ir tomar banho de Rio no balneário municipal. Não sabia nem que tinha um balneário (como já estava tarde, e o sol estava quente, eu estava na dúvida se passaria a noite ali ou se iria embora. Resolvi então, tomar um banho de rio para relaxar e pensar melhor. O balneário é gratuito e muito bem arrumado. Possui uma área de camping, banheiros masculino e feminino com chuveiros, estacionamento, quadra de areia e brinquedos para crianças). Novamente estava no Rio Aquidauana. Barrento, correnteza forte e pedras, mas a água estava deliciosa, só que não para beber (quis confirmar se era, de fato, o rio Aquidauana e perguntei a um cara que também tomava banho lá. A resposta dele foi afirmativa, com o adicional do apelido "matador de turista", pela perigosa corrente que "vai e volta", talvez pela quantidade de pedras, formando vários redemoinhos e sendo cheio de buracos. Já não fazia um sol forte e minha vontade de ir embora aumentou). Às 16h15, saí do rio para aprontar minha viagem bem em cima da hora. Queria sair no máximo 16h30 (ainda sem muita noção de tempo de estrada). Só consegui sair às 16h50, exatamente quando começou a chover. A princípio, era uma garoa que dava pra enfrentar, então continuei. Duas quadras depois, ainda na cidade, uma pessoa que estava sentada na calçada com seus filhos me chamou, e falou que estava chovendo forte na estrada, e que era melhor eu ficar por aqui (principalmente porque era subida de serra). Esse cara era o Leonardo. Me aconselhou a dormir na rodoviária. Pensei bastante, pois a garoa havia passado (rodei um pouco pela cidade procurando opções de pouso: rodoviária, praça... Nada me parecia interessante. Na época eu não tinha barraca). Na rodoviária seria meio complicado, mas dava pra dar um jeito. Então, veio a chuva. Quase 50 minutos de água caindo.

Desisti, de vez, de ir embora e voltei para a cidade. Voltei ao wi-fi para passar o tempo. Conversando com minha família, minha mãe sugeriu de procurar alguma igreja para tentar hospedagem. Quando a chuva passou, fiz o que ela sugeriu. A primeira que tentei, foi uma católica grande de esquina que estava aberta. Conversei um pouco com o padre Fábio, contando minha história, que permitiu que eu passasse a noite. Abriu uma das salas de catequese, nos fundos da igreja, com ventilador, colchão e travesseiro. Ainda trouxe um outro pote de sorvete com comida, mais um copo de suco para minha janta, mesmo eu tendo falado que tinha comida. Ele disse pra guardar pra comer no dia seguinte.

Comi a comida e sobrou. Deixei minhas coisas na igreja e fui para a rodoviária tomar banho. No caminho, cruzei novamente com o Leonardo. Conversamos bastante e ele me deu uma cesta de feira, para eu acomodar a mochila no bagageiro, mais várias cordas (algumas, inclusive, que ele mesmo usou para amarrar a caixa ao bagageiro). Além de ficar mais fixa, vai me poupar todo o tempo de amarrar a mochila para prender direito. Só colocar dentro da cesta e pedalar. Fui até a rodoviária, mas o banheiro já estava fechado. Voltei para tomar banho de balde e cruzei com a Lauane, a menina da loja que me falou do balneário. Voltamos conversando um pouco e ela me falou que os vestiários do balneário ficam abertos de noite, nos fins de semana, por causa dos acampantes (precisei cortar rapidamente a conversa, porque todo o churrasco que eu comi neste dia estava gritando pra sair). Fui lá e tomei uma ducha gelada maravilhosa. Há males que vêm para o bem. Alguns. (Não. Eu não visitei os "zigurates").