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segunda-feira, 29 de junho de 2020

Cidade de Rochedo

Seguem mais relatos do caderninho. Lembrando que as partes entre parênteses são comentários de hoje.

20/12/18: Ajudei a carpinar. Ou tentei, pelo menos. É muito difícil! Além de minhas mãos não estarem acostumadas, fiquei com 2 calos e uma parte sem pele no dedão esquerdo. Aguentei 1h30 e morri. Fui tomar banho e dormi. Acordei na hora do almoço e fui comprar marmita. Depois do almoço, cama de novo. Não sei se é o calor, o esforço da enxada, o cansaço do pedal, ou tudo junto. Acordei, no meio da tarde, com uma chuva forte que frustrou meu plano de ir à cachoeira. Mas tudo bem, porque o seu Valdevino me convidou para dar um rolê pela cidade. Me mostrou o alojamento que possui (onde moram trabalhadores rurais) e me falou dos planos que tem para negócios futuros e sobre o que eu poderia fazer para estar junto (falou sobre eu dar aula de educação física ou inglês, em escolas que ele conseguiria para mim. Queria que eu ficasse lá de qualquer jeito). Me mostrou também o Rio Aquidauana e a Cachoeira Dos Diamantes (que fica dentro da cidade, quase em frente ao alojamento. Tem esse nome, pois foi ponto de garimpo em décadas passadas, apesar da forte correnteza). Para mim, é uma corredeira apenas, mas ok. Novamente me contou seus planos de negócios, desta vez no turismo (eu havia falado pra ele que morei em Bonito e ele me disse que tinha interesse em aumentar o turismo na cidade). Discordei, para mim mesmo, do que ele gostaria de fazer (que era algo como uma ponte ou deck para contemplar a tal "cachoeira", que é uma corredeira baixa. Existe um ponto, onde é possível ficar quase de frente à cachoeira sem precisar desta ponte/deck poluindo a paisagem. Falou também do desejo de fazer passeios de barco, subindo e descendo o rio com turistas, porém eu não sei como seria viável; o rio, além de não ser muito fundo, é cheio de pedras e quedas d'água. Em resumo, não é navegável). Espero que não consiga, ou que venha alguém com maiores conhecimentos, e o faça repensar (eu não sou expert em turismo. Aliás, meu conhecimento é muito limitado e empírico). Lá no rio, encontrou um casal de amigos e começaram a falar sobre o descaso das autoridades com o turismo na cidade. Ao final da conversa, a mulher jogou sua bituca de cigarro nas pedras às margens do rio, o que me fez rir pela ironia, mas não achei que deveria falar algo, pois sairia com raiva (eu estava furioso, ao mesmo tempo que dava risada internamente). Seguindo o passeio, fomos a um bar jogar sinuca e tomar cerveja. Pediu 3 fichas e fomos jogar. Perdi a primeira partida, o que é comum para mim, não sou exímio jogador (aliás, perdi por muito. Fizemos o jogo da maneira errada. Ele acabou ficando com 8 bolas, + a 8, enquanto eu fiquei só com 6 e nem consegui derrubar todas as minhas para chegar na bola 8). Porém, ganhei as outras duas. A primeira derrota ativou o meu modo competitivo. Voltamos ao hotel e ele continuou falando dos seus planos para que eu ficasse na cidade. Eu disse que iria pensar e daria a resposta, apesar de não ter a mínima vontade. Por consideração, não quis recusar na hora. Amanhã é o dia de conhecer a cachoeira. Espero que seja melhor que a Dos Diamantes. (Ele não me cobrou esta diária, apesar de eu não ter ajudado em quase nada com a enxada. Aliás, ele ficou todo preocupado com minha mão, pois não queria atrapalhar minha viagem. Neste dia eu não tirei fotos. Eu não sabia que iríamos ver uma cachoeira e acabei não levando o celular, mas a paisagem não era tão bonita, também. A água é barrenta e era uma queda baixa).

21/12/18: Acordei cedo, decidido a ir â tal Cachoeira do Sossego. Seu Valdevino me indicou onde eu encontraria a pessoa responsável (o "alemão"), já que fica numa propriedade particular. Fui até o local (ainda na cidade) e falei com a esposa do alemão. Ela autorizou e disse que avisaria ao tal alemão. Peguei minha bike e parti. Uns 40min depois, cheguei (o caminho foi bem tranquilo. Plano, sem muito carro, sem muita areia e foi um pedal rápido). Eram mais duas corredeiras, que chamam de cachoeiras. Nadei um pouco em cada uma, em lugares um pouco distantes das quedas, devido à correnteza e à quantidade de pedras. No caminho, vi algumas pegadas que acredito serem de jaguatirica ou onça filhote, mas ficou só na pegada. Tirei um cochilo à beira do rio e também a roupa para nadar. Voltei para o hotel e fui dormir. Acordei e fui comer um açaí. Ficou um pouco caro, R$29,00, porque foi por quilo e eu tava com fome, mas valeu a pena. Recarregou as energias e refrescou do calor, ao mesmo tempo. Agora são 21h10 e estou indo dormir para pedalar amanhã rumo à cidade de Rio Negro. (Durante o dia, em meio a agradecimentos, avisei ao seu Valdevino que iria embora no dia seguinte. Para ir à Cachoeira do Sossego que visitei, passei por um posto da polícia ambiental, que fica dentro da propriedade do "alemão", a quem eu só encontrei na hora que estava indo embora. Ele me falou que sua esposa o tinha avisado da minha ida. Os policiais, logo quando cheguei, tinham me aconselhado a ficar longe da queda, pois é bastante perigosa e falaram de uma "prainha" onde daria para eu, ao menos, entrar na água. Foi onde eu consegui me molhar).

"Cachoeira do Sossego". Realmente era bem sossegado. Tive medo de aparecer algum bicho, mas a correnteza era realmente forte. Difícil ter animais em águas assim. Eu mesmo, quase não entrei no rio direito.

sexta-feira, 26 de junho de 2020

Começando a nova etapa

Seguindo com os relatos do meu caderninho, contarei sobre o dia em que comecei a minha viagem de bicicleta. O relato, farei na íntegra e no tempo verbal usado quando escrevi, então será no presente, mesmo tendo acontecido 1 ano e meio atrás. Assim como no post anterior, as partes entre parênteses são comentários feitos hoje que eu não escrevi no caderno, na época. Meu destino era Rio Negro, cidade localizada a 150km de Campo Grande. Que inocente, e arrogante, que eu era...

19/12/18. Hoje foi o dia que comecei, efetivamente, o plano inicial para viajar, feito lá em Ilhabela assim que cheguei aos hostel: viajar de bicicleta. Como todo iniciante, fiz coisas erradas. A principal, foi ter começado na hora que eu deveria estar chegando. Saí do hostel às 10:49 em definitivo. Eu já havia saído antes, mas precisei voltar para diminuir o peso da frente, pois eu não estava conseguindo controlar o guidão. Deixei a comida que estava trazendo, pacotes de arroz, feijão e macarrão e já resolveu. Mas não vejo a hora de diminuir mais o peso (até hoje tô tentando). Usando os produtos de higiene, já vai aliviar mais um pouco.

Também precisei voltar na bicicletaria, pois o selim estava frouxo e pedi dicas de como trocar câmara do pneu, se necessário. Feito tudo isso, parti às 10:49. Pedalei algo em torno de 15 ou 20km. Quando deu meio dia, resolvi parar por causa do sol (neste momento eu entendi o porquê de sair tão cedo em viagens de bicicleta. Na minha cabeça, era por prevenção contra imprevistos que pudessem atrasar, como um pneu furado ou alguma coisa quebrada. Eu aprendi, da pior forma, o peso do sol e do calor que vinha de cima e de baixo que o asfalto devolvia e, além de queimar, causava um enorme cansaço. Também aprendi a importância de carregar água congelada, para ir descongelando aos poucos e sempre ter água fresca).

Encontrei um mercadinho de beira de estrada onde pedi água e tomei uma cerveja. Sentei em uma cadeira, tirei o tênis e relaxei, pois sabia que ficaria ali por algum tempo (ali, eu já tinha desistido de chegar em Rio Negro. Nem estava cansado fisicamente, mas o sol estava muito forte e eu ainda tinha mais de 100km de estrada até chegar ao meu destino. Iria parar na próxima cidade que encontrasse). Pouco depois, encostou uma moto, pilotada pelo seu Waldemar (resolvi começar a nomear as pessoas). Conversamos um pouco, pedi informações sobre as distâncias e as cachoeiras e ele me convidou para passar em sua casa quando passasse por lá (ele me explicou como fazia pra chegar, mora numa chácara na beira da estrada e eu iria passar por ela. Ele tinha me oferecido um lanche da tarde/janta). Eu aceitei o convite e ele partiu. Logo depois, encostou um caminhão, dirigido pelo Ricardo. Ele viu minha bicicleta e disse que havia cruzado com outro cicloviajante e que o havia ajudado. Conversamos um pouco e ele se ofereceu para me pagar um refrigerante. Eu disse que não bebia refrigerante, mas que aceitava um suco. Ele pagou, então, o suco. Conversamos mais um pouco e eu, sutilmente, sem nenhum interesse, disse que estava esperando o sol baixar ou aparecer uma carona. Ele apontou para o caminhão e eu perguntei se cabia a Frankenstina. Ele disse que não, mas logo disse que daria pra amarrá-la se eu tivesse corda. Ora, eu tinha duas! A amarramos na traseira e partimos. Andamos uns 40km até ele chegar ao seu destino, que ficava a uns 10km do meu, a cidade de Rochedo (infelizmente não deu pra visitar o seu Waldemar, mas eu pedi pro dono do mercadinho na beira da estrada avisar e agradecer a ele por mim. Se ele o fez, nunca vou saber).

Montei a Frankenstina, me despedi e parti pedalando novamente. Cheguei em Rochedo às 15:12. Parei no primeiro posto de gasolina que vi, na entrada da cidade, para pedir água. O frentista me indicou um bebedouro grande, quadrado, com uma torneira que a água sai congelando (depois eu percebi que isso é comum. Todos os postos de gasolina têm um desse, inclusive dentro das cidades, para "abastecer" [entenderam?] o tereré. Bendita bebida maravilhosa que fez com que eu tivesse água gelada para beber).

Abusei um pouco e lavei braços, cabeça e pescoço que agora estão vermelhos do sol. Até fez aquele barulho "tssss" quando molhei os braços (e não estou exagerando. Ouvi, de fato. Esta é minha história e vou confirmá-la ad eternum). Perguntei para o frentista onde poderia me hospedar e ele me ensinou a chegar no, "único???", hotel da cidade. Cheguei lá e não tinha ninguém. Havia apenas uma placa com um número de telefone pedindo para ligar, pois "não estava longe". Sentei para esperar e comecei a preparar meu lanche de pão de forma e ovo cozido. No meio do lanche, chegou o Sr. Valdevino, dono do hotel. Um senhor muito simpático, que, rapidamente, virou amigo após pedir meu RG, para fazer o check-in, e ver que fazemos aniversário no mesmo dia, apesar de ele ter nascido 43 anos antes. E também é corinthiano. Conversamos um pouco e falei, sutilmente e de novo sem nenhum interesse, que eu estava hospedado num hostel em Campo Grande em troca de serviços prestados. Ele disse que amanhã, vai precisar de ajuda para limpar o terreno atrás do hotel e, bem, aqui estou. Também me falou sobre uma cachoeira que tem na cidade e passarei por lá antes de ir embora.

terça-feira, 23 de junho de 2020

Compilação de relatos

Quando eu ainda estava em SP, e falei pras pessoas que iria viajar, minha ex namorada foi uma delas a quem contei. Ela me deu dois presentes para a viagem: uma doleira (aquela "bolsa/pochete" de dinheiro que vai por baixo da roupa, que quase não tem utilidade, porque eu nunca tenho dinheiro e, quando tenho, não ando com) e um caderninho para eu fazer anotações, como um diário, mas não exatamente como um diário, pois eu cheguei a ficar dois meses sem escrever. Tudo bem que eu morava em Bonito na época que fiquei sem escrever, não estava viajando, mas fiquei mesmo assim. Para vários posts aqui do blog, eu consultei o caderninho. Para outros, não precisei, contei apenas com minha memória. Hoje vou compartilhar, na íntegra, dois relatos que fiz no tal caderninho. As partes em parênteses serão comentários que farei hoje, pois não fazem parte do relato original. Elas servirão para explicar, completar ou comentar o que eu achar importante. Algumas coisas serão repetidas do último post, mas tudo bem.

14/12/18: Estou na reta final do meu tempo em Campo Grande. Amanhã é o último dia do (no) hostel em que estou como worldpacker. O mesmo que sempre escolhi (Hostel Orla Morena). O pessoal está indo para Floripa e me chamou para ir junto. Fiquei bastante tentado (a ir junto) e busquei formas de ir, mas sempre tinha um detalhe que impedia e sempre sentia que não deveria ir. Decidi não acompanhá-los e seguir (a minha) viagem. (O) Destino escolhido foi Rio Negro. (Eu vou) Partir para lá algum dia da semana que vem, que ainda não decidi. Esta é a primeira vez que escrevo durante o dia (normalmente escrevo a noite para falar sobre tudo o que aconteceu). Fiquei com vontade lendo o livro "Fé latina" e viajando nos pensamentos, perdendo um pouco da leitura, lembrando de algumas coisas e aprendendo algo que precisei escrever: tome cuidado com arrogância para não querer ensinar aos outros como se viver. Compartilhe experiências e sentimentos, mas não como um professor da vida que possui todas as respostas, pois eu não as possuo nem para mim (mesmo. Aliás, esta semana, eu estava recordando deste ensinamento. É muito fácil e rápido surgir o desejo de ensinar aos outros, de me achar superior por não "viver a mesma vidinha". Cada um sabe o que quer e o que gosta. Eu tenho consciência de que a vida que eu escolhi, ou que restou, para mim, não será todo mundo que vai escolher. E tudo bem! Porém, para aqueles que têm vontade e não vão por medo de alguma coisa, eu digo: se programem, façam viagens curtas, em lugares próximos ou distantes e se acostumem com a estrada. Então, vão! Mas, nas palavras de Bilbo Baggins: "a estrada é um negócio perigoso. Se você não cuidar dos pés, você nunca saberá para onde ela te levará". Porém, esta é uma das belezas de viajar.)

16/12/18: Começo a sentir uma pequena ansiedade por e para ir embora. Quero logo pegar a bike e sair por aí sem muito rumo e sem certeza de nada. Terminei o livro "Fé latina" do Beto Ambrósio e amanhã vou devolver para a ... (por algum motivo, que eu não sei exatamente explicar qual, eu não falo nomes nos meus posts, com algumas raras exceções. A devolução seria feita para a guia no Pantanal, que eu já falei sobre, em posts anteriores, mas acabou não sendo feita, pois ela não quis me encontrar. Deixei o livro no hostel e ela foi buscar algum outro dia). Espero que amanhã também seja o dia que a bike fique pronta para (eu) ir embora dia 18 (mas não ficou. Ficou pronta apenas dia 18 e eu fui embora dia 19. O serviço que eu pedi para fazer, foi prender um shape de skate ao bagageiro para colocar a minha mochila deitada, pois, em pé, ela não iria ficar e deitada, o bagageiro era muito pequeno, ela ficaria metade para fora e cairia na roda e no chão. Com o shape de skate, eu poderia deitá-la por completo e amarraria com uma corda elástica de 3m). Preciso aprender ainda algumas coisas básicas de conserto de bike, mas vai muito de prática também. Porém, YouTube tá aí para ajudar. Agora vou dormir para estudar amanhã.

domingo, 21 de junho de 2020

A volta ao "plano" original

Quem leu os meus primeiros posts, sabe o que me levou a estar onde estou e sabe que, a princípio, eu tinha pensado em viajar de bicicleta, mas mudei para mochilão ao voltar para onde morava. Quem não leu, leia.

Em meados de agosto ou setembro, quando morava em Campo Grande-MS, decidi voltar ao "plano inicial" e viajar de bicicleta. Comecei a procurar uma que fosse boa, mas que não fosse o valor de um carro ou moto. Acabei encontrando um anúncio, na Olx, de uma bicicleta usada. O anúncio dizia que era uma bicicleta aro 29 de 21 velocidades. Marquei com o dono para olhar a bicicleta em um estacionamento de mercado num dia de semana à noite. Meu total desconhecimento ciclístico não me deixou perceber que ela era aro 26 e não 29 como anunciada. Porém, eu vi que era boa pelas peças de marca de qualidade e a comprei. O antigo dono me contou que ele havia comprado as peças separadamente e ele mesmo a montou, só que ela estava parada havia algum tempo, pois ele tinha comprado um carro e tinha engordado muito e ela não estava aguentando o peso dele. Hoje eu não acho que esse era exatamente o motivo, pois ela tem aguentado muito peso. Acredito que ele tenha ficado preguiçoso. Disse também que o quadro era importado da Itália, como se isso fosse de alguma importância pra um humilde leigo como eu...

A bicicleta eu já tinha, agora precisava decidir como eu ia fazer para levar todas as minhas coisas nela, principalmente porque eu tinha aumentado a quantidade de coisas após meu tempo morando em Bonito. Algumas coisas que eu tinha deixado quando saí de SP de mochila, eu tinha trazido comigo, após ter ido a SP novamente, em meados de abril. O que antes era apenas uma mochila de camping, agora tinha outra mochila (comum), uma "sacochila" (aquelas mochilinhas de viagem que parecem uma sacola), mais uma pochete e eu não queria me desfazer de nenhuma das mochilas. Fora água e comida que eu ia precisar levar.

Levei a bicicleta numa bicicletaria para fazer uma revisão e colocar bagageiros dianteiro e traseiro. Eu tinha visto algumas dicas de pessoas que viajam, que é importante ter algumas ferramentas para conserto rápido e proteção contra chuva, que poderia ser um saco de lixo. Barato e fácil de achar. Comprei também um capacete que também me acompanha até hoje. Porém, o único trabalho que ele teve, até hoje, foi me proteger quando eu abaixo a cabeça para prender a bicicleta em árvores e não vejo que tem um galho mais baixo ali.

Como eu falei no último post, fui para SP em novembro/18 e aproveitei para diminuir a quantidade de coisas que tinha. Deixei várias camisetas e algumas outras coisas lá para diminuir o volume e o peso. A estrada ensina que não precisamos de tantas coisas assim para vivermos.

Voltei para o MS no dia 06/12 e me hospedei, novamente, no Hostel Orla Morena. Antes de viajar, eu saí da casa em que tinha alugado o quarto. Não fazia sentido pagar aluguel, sendo que ficaria um mês longe. Porém, o tempo que passei na casa serviu para, além de economizar um pouco e ter mais liberdade, que eu também decidisse para onde iria. Dois outros moradores da casa eram de outras cidades (Rio Negro e Rio Verde de Mato Grosso. Cidade esta que, apesar do nome, fica no MS) que possuíam cachoeiras e me recomendaram conhecer. Ambas ficavam ao norte de Campo Grande e a minha rota para o norte estava iniciada. As coisas acabaram se encaixando, tanto na casa, quanto no hostel após eu voltar. Fiquei alguns dias como hóspede e logo "assumi" um cargo de voluntário em sistema de permuta (tipo worldpacker), onde eu fazia algum tipo de serviço em troca de moradia no hostel. Um dos worldpackers "fixos" do Hostel estava saindo de férias (ele faz faculdade na cidade) e fiquei no lugar dele, até o hostel fechar para o fim do ano e eu terminar os preparos para ir embora.

Nesta época, foi quando mais aproveitei o hostel e a cidade. Já estava familiarizado com a equipe e com a cidade e me senti mais à vontade. Nesta época, havia uma australiana residente na Inglaterra alguns brasileiros que voltavam da Bolívia, onde faziam faculdade, e um suíço, filho de brasileira que também morava na Bolívia e falava um português perfeito que aprendeu com a mãe.

Num sábado, nesta época, eu, alguns hóspedes (a australiana, uma amazonense estudante na Bolívia e uma outra menina do Amazonas, mas que mora no MS) e um dos donos do Hostel, fomos ao Morro do Ernesto tomar banho de cachoeira e subir o morro para ver o por do sol. Infelizmente não tenho fotos deste dia, mas a cachoeira estava muito gostosa, apesar da água não ser tão bonita, meio barrenta. Aliás, são duas cachoeiras e uma corredeira gostosa para ficar sentado conversando. A mais alta é a primeira, por volta dos 15 ou 20m de altura. Algumas pessoas estavam pulando do alto do barranco na água, mas eu não tive coragem. Até ameacei, mas desisti na hora. Meu medo é de escorregar e cair errado, nem é tanto da altura, mas é um pouco também. Hehehe.

Acabamos passando tempo demais na água e não deu tempo de subir o morro para ver o por do sol. Após anoitecer, ficamos esperando o irmão do dono ir nos buscar. Eu acabei ficando para a segunda viagem. Mais de uma hora lá aguardando, mas até que valeu a pena.

Acabei conhecendo também uma tocantinense super legal que também estuda na Bolívia. Pena que ela só ficou uma noite no hostel, no outro dia já foi para sua terra natal. Devo admitir que eu pensei seriamente em mudar os planos de subir o estado e ir para a Bolívia, mas mantive meu desejo de conhecer meu país primeiro.

No dia 12 ou 13/12/18, o hostel fechou para novos hóspedes e entrou em férias. A dona, junto de um de seus sobrinhos/sócios, iria para Florianópolis de ônibus/carona e voltaria de bicicleta. Ela me convidou para ir junto e, novamente, pensei seriamente em ir. Mas não fui. Continuei meus preparativos para seguir ao norte com minha querida Frankenstina. A bicicleta recebeu este nome, pois foi montada com várias partes/peças diferentes e isoladas. Aliás, tive a ideia de dar um nome após ler o livro "Fé latina" (emprestado a mim pela guia pantaneira que contei no último relato do Pantanal), que conta a história de um jovem que saiu de uma cidade do interior paulista e chegou ao México de bicicleta, em uma viagem que durou 2 anos e meio. Ele também deu nome à sua companheira de duas rodas.

No dia 19/12/18, finalmente, saí de Campo Grande pedalando.

quinta-feira, 18 de junho de 2020

Tentando me estabelecer em Campo Grande

Após minha última excursão ao Pantanal, sosseguei um pouco em Campo Grande. Aliás, sosseguei demais. Comecei a procurar emprego. Entreguei vários currículos em agências de turismo e escolas de inglês, mas todos sem sucesso. Somente 3 meses após eu ter ido embora de lá, é que eu fui ver que meu número de telefone estava errado no currículo. Nunca saberei quantos tentaram entrar em contato comigo. Ainda fiz alguns serviços de intérprete em Bonito, mas poucos, pois já estava no final da temporada dos gringos.

A Helena, dona do Hostel Orla Morena, me falou sobre um cliente dela que trabalhava com futebol, agenciando jogadores. Ele hospedava os meninos que iriam fazer testes no hostel e me apresentou a ele. A conversa foi legal e me rendeu uma curta experiência no tradicional Comercial de Campo Grande, na equipe sub-20, que disputava uma competição qualificatória para a Copa São Paulo de futebol júnior.

Fui ao treino no dia seguinte para conhecer o treinador e os atletas e já recebi meu primeiro trabalho: assistir a um jogo do adversário seguinte e fazer um relatório sobre a equipe, destacando os pontos fortes e fracos. Na noite da sexta, tive uma reunião com o agente (que também tinha um cargo no clube que eu não sei ao certo qual era) e com o treinador da equipe, onde passei a eles o relatório que havia feito. No dia seguinte, sábado de manhã, os encontrei no alojamento dos atletas concentrados para almoçarmos e irmos juntos para a partida contra o União ABC, onde eu iria como preparador físico. Seguindo as minhas recomendações apresentadas no relatório, fizemos um bom jogo contra uma boa equipe com dois bons jogadores, dentre outros razoáveis e empatamos por 1 x 1 na casa deles, na cidade de Sidrolândia, mesmo com a nossa equipe um pouco desfalcada e sem treinar apropriadamente com todo o grupo. Problemas normais do futebol profissional não-profissional, porque os jogadores recebem salário, mas não existe profissionalismo.

Na semana seguinte, não pude ir aos treinos para a última partida que seria o clássico "comerário", Comercial x Operário, pois estava em Bonito trabalhando, mas assisti a uma partida do Operário e fiz o meu relatório, apesar de não haver muito o que relatar, pois o rival não parecia ser uma equipe organizada, não possuía jogadas ou jogadores de destaque, focavam muito nas ligações diretas e jogadas de bola parada. Também os acompanhei no jogo onde ambas as equipes disputavam a última vaga para a maior competição de base do Brasil, senão do mundo. O primeiro tempo acabou 2 x 0 para o Operário, com duas falhas de nosso goleiro, o que estava dando a vaga para eles com a combinação de outro resultado em outro jogo. No intervalo, o treinador substituiu o goleiro. O que entrou, havia começado o campenato como titular e tinha perdido a vaga por erros seguidos.

No segundo tempo, o outro jogo mudou o placar e o Operário estava perdendo a vaga, até fazer o terceiro e voltar a ter a vaga. A partir daí, nosso único objetivo era impedir a classificação do rival. Por volta dos 30 minutos, fizemos um gol e estávamos alcançando nosso objetivo. O outro jogo estava com um resultado em que, caso o Operário marcasse novamente, ficaria com a vaga. Aos 47 minutos, houve um pênalti para o Operário. A tensão era enorme. O goleiro que estava em baixa defendeu o pênalti e o jogo acabou. O time que havia perdido por 3 x 1 comemorava e o que havia vencido o clássico sofria a frustração de não ter sido suficiente. Futebol é apaixonante!!!

Estádio "Morenão" onde foi disputado o clássico

Jogadores comercialinos comemorando a derrota por 3 x 1

Após a partida, voltei para casa com um sorriso no rosto. Não pelo resultado, mas pela ironia da situação, pelo clima de rivalidade, pela competição... Sentia falta disso. Havia também a possibilidade de pintar uma oportunidade de trabalho, para o ano seguinte, como treinador de alguma categoria do clube. Aproveitei então, que o campeonato havia terminado e que não tinha conseguido um emprego e resolvi visitar minha família em SP. Não os via havia vários meses e juntei o agradável ao agradável e fui para dois shows (também tinha saudade) junto a alguns amigos do nordeste que foram para SP para um dos shows.

Fiquei um mês em SP; fui aos shows, fiz uma tatuagem junto com meu irmão, comemorei o aniversário da minha mãe, matei a saudade da família e confirmei que não tinha a menor vontade de voltar a morar na maior metrópole do hemisfério sul. Voltei para Campo Grande com os planos seguintes traçados. Mas isso fica para um próximo post.

sábado, 13 de junho de 2020

Desbravando o Pantanal sul-matogrossense, parte 6/6

Minha última visita ao Pantanal sul-matogrossense (em fazendas turísticas) se deu "por acaso". Quando eu ainda trabalhava na agência em Bonito, havia uma pousada pantaneira que era conhecida por ser visitada apenas pela "chefia", dado o alto valor da diária, que é a Pousada Caiman. Quem acompanha meu blog sabe que, em Campo Grande, eu conheci uma guia no Pantanal, exatamente nesta fazenda.

A Caiman é uma enorme fazenda, na cidade de Miranda, de propriedade da família Klabin, a mesma das indústrias de produtos de papel. Ela possui 4 "bases": duas hospedagens para turistas, a casa do dono, que é uma vila na verdade, com várias casas e que também pode virar acomodação dependendo de quem for o visitante (algum sheik do petróleo ou alguém assim) e a "vila" dos funcionários. Da portaria até a "base" mais distante são mais ou menos 18km.

Uma das pousadas, a principal da fazenda

Quando eu voltava do meu último serviço de intérprete com o casal suíço, a tal guia pantaneira me perguntou se eu queria ir visitá-la. Só a possibilidade de visitar o Pantanal mais uma vez, já me era interessante, sendo a Caiman, era um bônus. Eu iria conhecer a pousada que só gente muito rica (ou gringo médio, mas que tem 6x mais dinheiro que nós na cotação atual) tem condições de ir. Aceitei o convite. E também, claro, a chance de revê-la. Pra melhorar tudo, no dia seguinte, às 7h da manhã, um táxi aéreo (avião pequeno de aluguel), iria sair de Campo Grande para buscar um casal na fazenda e levá-los de volta à capital para pegarem um vôo de volta a seu país de origem e ela conseguiu que eu pegasse carona de ida no avião. Minha volta, depois a gente iria ver como seria.

Cheguei, então, na casa que havia alugado, onde havia apenas deixado minhas coisas e já saído para o serviço e me apresentei aos outros moradores, coisa que não tinha feito ainda, não os conhecia, só a dona. Mas só deu tempo disso mesmo, pois só dormi e já saí as 6:30 em direção ao aeroporto pegar meu vôo em direção ao pantanal.

No aeroporto, eu fui informado que eu deveria ir até um hangar ao lado do saguão principal. Me dirigi até o hangar e encontrei o portão trancado, que ficava bem distante da porta, sendo do outro lado do estacionamento. Com muita dificuldade consegui decifrar o número telefônico do pessoal do hangar, escrito acima da porta, do outro lado do estacionamento, dando o máximo de zoom na câmera do celular e também na foto depois. Liguei e a pessoa (com uma voz de que havia sido acordada) me disse que o vôo tinha sido cancelado, devido a mau tempo. Mandei mensagem pra minha amiga na fazenda, mas ela me falou que ninguém tinha dito nada lá, que o vôo ainda estava agendado.

Voltei ao saguão pra ver se descobria alguma coisa, mas ninguém sabia dizer nada. Fui novamente ao hangar e, então, estava com o portão aberto. Isso já era mais ou menos 7:30. Entrei, atravessei o estacionamento, abri a porta e a recepção estava vazia. Chamei, bati, nada. Até que ouvi algumas vozes vindo de trás da recepção, dentro do hangar. Resolvi entrar e falei com o rapaz que eu iria pegar um vôo. Ele disse "Ah, é você?" e saiu correndo, pois o piloto já estava dentro do avião, prestes a decolar. Já com o motor ligado, conseguimos chamar sua atenção pelo parabrisa e, assim, entrei no pequeno veículo voador com destino ao pantanal.

O piloto era um senhor por volta dos 60 anos. O que tinha de experiência, tinha em reflexos lentos. Cabiam 4 pessoas apenas, fora piloto e copiloto, mas ele estava sozinho. A viagem foi tranquila, com exceção de um trecho onde pegamos vento forte e o avião chacoalhou até meu cabelo cortado na máquina 2. Já estava fazendo minhas preces de arrependimento quando acabaram os "buracos na pista" e voltou a ir suavemente. Nesta hora, o piloto olhou pra mim e falou com um sorriso: "balançou um pouco aí?". Minha alma voltou ao corpo após alguns segundos e respondi que só um pouco, nada demais. O resto da viagem foi tranquila.


Vista maravilhosa

Chegamos na fazenda por volta das 9:30. O casal já estava ao lado da pista aguardando, mas nada da minha anfitriã. Logo a avistei caminhando rapidamente e fui ao seu encontro. Ela ainda estava a trabalho, mas um tipo de trabalho diferente, não com a incumbência de guiar, então, estava com os horários mais flexíveis e teria uma folga no dia seguinte. A primeira coisa que fizemos foi, como normalmente acontece em minha vida, um tanto irônica: arrumamos o restaurante dos funcionários para uma palestra sobre DSTs, que na verdade tem outro nome agora, mas eu não lembro qual é. Assistimos a palestra com um leve desconforto, mas sobrevivemos.

Eu deveria pagar uma taxa ambiental de R$100,00, mas eu tenho minhas dúvidas de pra onde esse dinheiro foi encaminhado, pois em nenhuma outra fazenda tinha esta taxa. Mas paguei, já estava lá mesmo (e já sabia também). Após a palestra, arrumamos, novamente, o restaurante para o almoço.

Depois do almoço, a acompanhei no serviço, que era basicamente dirigir pela fazenda levando uma coisa ou outra, buscando uma pessoa ou outra. Assim, conheci uma das pousadas, tomei um suco de abacaxi batido na hora, comi umas bolachinhas e ainda vi alguns animais. Um grupo de quatis, vários pássaros, jacarés...

Na recepção da fazenda

Revoada de pássaros, foto mais pantaneira que esta impossível

Quati fotogênico

Conheci algumas amigas dela, à noite, pouco antes de irmos dormir, ficamos conversando um pouco. Também jogamos alguma coisa, mas não lembro o que.

No dia seguinte ela estava de folga, então pudemos passear melhor. De manhã, andamos um pouco ali por perto, onde ela me apresentou para o pessoal do projeto Onçafari, que trabalha na preservação e conscientização sobre onças pintadas. Depois, fomos até a lagoa e fizemos um passeio de canoa. Eu controlei todos os meus desejos de virar a canoa, devido à presença de animaizinhos amigáveis, como jacarés e sucuris. Em um determinado momento do passeio, ouvimos um barulho que, de acordo com ela, que entende MUITO mais do que eu, poderia ser de onça. Ficamos em silêncio, procurando, mas não vimos nada. Voltamos e fizemos nosso almoço, ela estava a fim de cozinhar comigo e fomos para a cozinha do alojamento. Como ela é vegetariana, eu tinha levado alguns bifes pra eu poder comer.

Casal de Tuiuiús caçando

À tarde, pegamos algumas bicicletas da pousada e demos uma pedalada pela fazenda. Fomos até a portaria de entrada, onde moram o porteiro e sua família. Jogamos uma sinuca com ele. Aliás, tomamos uma surra. Jogar contra o dono da mesa, nunca é uma boa ideia. Na volta, no final da tarde, cruzamos com várias araras e um tamanduá bandeira.

Fim de tarde de um dia maravilhoso

Voltamos para a vila dos funcionários para jantar e curtirmos o fim do dia, mas ainda tinha uma outra surpresa reservada pra mim: um lobinho (raposa) cruzou nosso caminho. Eu nunca havia visto um e me deu vontade de levar pra casa. Que lindo animal!!! Não consegui, mais uma vez, ver onça, mas vi um lobinho que também era novidade para mim, então, já valeu.

Tudo que consegui capturar do lobinho com minha pobre câmera de celular sem luz no meio do mato

No outro dia, ela voltou ao trabalho e precisei ir embora. E ainda voltei de carro, acreditam no ultraje??? Absurdo!!! Já tava ficando acostumado a viajar de avião e ter uma guia exclusiva. Hahahaha. Novamente peguei carona, mas desta vez com um motorista que estava voltando a Campo Grande. Terminaram, assim, minhas aventuras no pantanal, pelo menos as em território pantaneiro "selvagem" (apesar de levemente domesticado), pois eu ainda voltaria a território pantaneiro, porém em perímetro urbano. Até a próxima.