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segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Primeiro perrengue

Pessoal, dando um salto no tempo, porque eu fiquei um bom tempo sem escrever no meu caderninho, vamos para mais um relato. Terão várias partes entre parênteses, que, como vocês já sabem, são comentários de hoje sobre o que eu escrevi lá atrás.

(Relato escrito em 05/08/2019): Lá se vão 5 meses que escrevi pela última vez. Neste tempo, eu dei aulas particulares de inglês, que duraram cerca de 2 meses e meio. Também dei treinos de futsal numa escola particular, que também não foram para a frente (mas que foi, capengando, até o final do semestre. O lugar onde morei foi um quarto dentro da casa da Rita Maria, uma jovem senhora, maluquinha, que morava sozinha. Ela, primeiro, estava alugando uma edícula nos fundos da casa, mas eu falei pra ela que procurava um lugar mobiliado e ela aceitou que eu ficasse dentro de sua casa. E não só isso, ela também mudou para um quarto menor e eu fiquei na suíte da casa, ao lado da cozinha e da sala de jantar. Na sala de estar, ela tinha um pequeno ateliê, onde passava praticamente todas as noites, quando chegava do serviço de assistente social, bem como os finais de semana. Ela simplesmente não parava de trabalhar. O aluguel deveria ser pago antes de entrar, então eu pagava o mês e ficava na casa).

No mês de Maio, passei por uma dificuldade financeira pesada com a falta de alunos de inglês (eu tinha começado o mês de março com 5 alunas, sendo que, uma delas, uma professora universitária do curso de Letras, fazia 4 aulas por semana; uma aluna universitária do curso de enfermagem, que fazia 4 aulas por mês, sendo 2 a cada 15 dias por conta do estágio da faculdade que ocupava suas tardes semana sim, semana não; a Eliene, que me hospedou e deu a ideia das aulas e que, por coincidência era a diretora do campus de Coxim da Universidade e mais uma garota universitária, que fazia 2 aulas por semana; além de uma amiga de São Paulo que fazia por vídeo-chamada. Logo no primeiro mês, em Abril, a Eliene e as duas garotas universitárias pararam com as aulas, me deixando apenas com a minha amiga de São Paulo e a professora do curso de Letras. 


Felizmente, no mês de Abril, eu consegui começar os treinos de futsal com as crianças da escola - aquela que eu fiquei parado no portão errado e fiquei conversando com a diretora, que relatei alguns posts atrás - onde tínhamos acertado que eu receberia por aluno. Quanto mais alunos treinando, mais eu receberia. A princípio, eram 2 treinos por semana, apenas dos menores, até 10 anos. Comecei com uma quantidade grande, com quase 25 meninos. Foi uma briga para conseguir trazer meninas para os treinos, tanto com pais como com a diretora. Escola com método de ensino moderno, mas com cabeça antiga. Duas semanas depois que os treinos começaram, começaram os treinos dos maiores, até 15 anos, mas a quantidade foi baixa. O máximo que consegui foram 7 garotos. Porém, juntando as aulas de inglês e os treinos de futsal, eu estava conseguindo me manter. Não sobrava, mas também não faltava. Até que chegou o mês de Maio, quando eu estava apenas com duas alunas de inglês e somente a turma dos pequenos no futsal, que diminuiu muito a quantidade, chegando a ter uma média de 9 por treino. Os grandes desanimaram pela baixa quantidade e não foram mais treinar. Por conta de todas estas baixas nos treinos e nas aulas de inglês, eu só consegui terminar de pagar o meu aluguel faltando dois dias para precisar pagar o mês de Junho. Praticamente, todo o dinheiro que entrava das aulas de inglês, que eu recebia por aula, servia para pagar uma parte do aluguel. A minha sorte, foi que a Rita não costumava comer arroz e tinha ganhado - ou comprado - para algum evento, um pacote de 5kg de arroz que estava praticamente inteiro. Por todo o mês de maio eu comi arroz com ovo, variando apenas a forma que o ovo era feito - mexido, frito, cozido, omelete sem recheio, etc - acompanhado de tomate cereja, tirado do pé que ela tinha no quintal de casa. Também tinha um pé de acerola e eu vivia fazendo suco. Aliás, pelo grande tempo livre que eu tinha, eu me incumbia de regar os pés todos os dias, sem pressa. Tanto para passar o tempo, como para continuar tendo tomate e acerola. Na janta, eu inventava ou copiava receitas baratas que via na internet e/ou no youtube). 


Quando eu já estava desanimado ao extremo, surgiu uma equipe feminina no futsal, o que me animou, por ser uma nova experiência (eu já havia treinado algumas meninas no meu tempo de trabalho com futebol, mas nunca uma equipe inteira feminina). Esta equipe durou exatamente 1 treino. No que era pra ser o segundo, das 10 meninas que tinham aparecido no primeiro, apenas 3 voltaram. (Neste mês de Maio, minha mãe começou a ter aulas por vídeo-chamada comigo, mas era apenas um pretexto para me mandar dinheiro. Não que eu não estivesse precisando... Me ajudou bastante. Em Junho, minha aluna de São Paulo também parou e acabei ficando só com uma aluna e 8 alunos no futsal. Porém, esta aluna era a professora de Letras, que fazia 4 aulas por semana, e eu não podia perdê-la de jeito nenhum. Mas, mesmo assim, o mês foi mais tranquilo, pois eu trabalhei na festa junina da escola e deu uma estabilizada nas finanças).

Eu ficava o dia todo mofando em casa, esperando dar a hora de ir pro treino ou ir jogar bola (segunda, quarta e sexta, na escola, tinha um pessoal que jogava lá. O dono da escola não cobrava de mim para jogar lá, então eu marcava presença todos os dias que tinha jogo. Quando não tinha, procurava outro lugar para poder jogar). Sem dinheiro, sem amigos, estava sem vontade de fazer qualquer coisa (o que me salvava, era o fato de ter muitas árvores frutíferas ao redor e por ter um rio próximo, o que fazia com que muitos pássaros visitassem a região. Tucanos, araras, sabiás, periquitos, papagaios, etc). Um dia, meus pais me disseram que viriam me visitar nas férias de Julho. Eu não ficava tão ansioso assim fazia muito tempo. Nem sabia que eu ainda conseguia ficar ansioso por alguma coisa. (Comecei a fazer vários planos, fazer um roteiro de tour pelos lugares onde já havia passado que achei que valia a pena eles conhecerem. Pela Rita ter mudado de quarto e ido para o quarto menor, havia espaço no meu para receber meus pais).

Nesta foto tem um tucano, mas foi tirada com meu celular barato e tá ruim. É só pra vocês verem porque eu não tenho tantas fotos nos posts, principalmente boas.

Continua no próximo post.

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Me estabelecendo numa cidade nova

Preparados para mais um relato sem fotos? Lembrando que, as partes entre parênteses, são comentários de hoje sobre o que escrevi lá atrás, no caderninho.


(Relato escrito em 19/02/2019): Terça feira. Hoje foi um dia meio inútil. Saí de manhã para tentar, pela última vez, ir ao dentista no postinho. Chegando lá, a dentista me falou que a agenda é mensal e só a partir de 01/03 que abrirá novas vagas. Fui passar em outro consultório, mas o dentista estava numa cirurgia e iria demorar. Ainda passei em outro, mas a dentista pareceu fazer apenas o simples. Ela ainda falou que talvez precisasse fazer canal no dente que já estava com canal feito... Voltei para a casa do padre e pedi à minha mãe ligar na faculdade de odontologia pegar informações. Depois de ligar, me falou que a agenda estava cheia para o semestre inteiro, que eu deveria entrar em contato em Julho para ver disponibilidade. À tarde, fiquei assistindo ao jogo Liverpool x Bayern de Munique. O 1º tempo até foi bom, mas já o 2º... Horroroso. Nem dava para sair à procura de emprego, pois deixei os currículos na Nai e ela estava trabalhando. Eu iria buscar de noite, mas estava chovendo e fiquei por aqui (se quer saber onde é o "aqui", leia o post anterior. Hahaha). Amanhã cedo vou buscar e já ir à luta.

(Relato escrito em 21/02/19): Ontem, quarta 20, não escrevi nada, porque não aconteceu nada. Fiquei o dia todo na casa do padre devido à chuva e, também, preguiça. Assisti a Atlético de Madri x Juventus depois de ficar o dia todo no youtube e jogando. De noite ainda saí, fui à casa da Nai terminar de pegar minhas coisas, principalmente meus currículos, para poder entregar hoje (Quarta). Ainda assisti a Corinthians x Avenida. Liguei quando estava 2x0 para o Avenida e tomei um susto, mas acabou 4x2 pro Corinthians. Hoje saí de manhã, mais tarde do que pretendia, para entregar currículo. Deixei em outra escola particular, acho que a única outra, também em alguns hotéis e restaurantes. O que aparecer tá bom. Então, voltei, almocei, dormi e fiquei novamente no youtube. Agora à noite, deixei minhas coisas quase todas arrumadas para mudar amanhã. Vou voltar para a casa da Nai pro fim de semana e depois ir para outro lugar, que ainda não sei onde.

(Relato escrito em 23/02/19): Ontem, sexta 22, segui na minha busca por um emprego. Deixei as coisas na casa do padre e saí pedalando. Voltei na hora do almoço e fiquei a tarde lá, até a hora que o padre chegou e pude sair para vir à casa da Nai. Ela saiu pouco depois, para ir ao aniversário de uma amiga, e fiquei sozinho. Hoje, sábado 23, acordei cedo e saí para ir a um balneário chamado "13 de maio". Lugar muito bonito, com águas cristalinas e uma cachoeira. Conversando com o Vitor, neto do dono e cozinheiro do bar, descobri que aquele lugar está inserido no município de Rio Verde de Mato Grosso, (apesar de ficar a 18km de Coxim, que fica a 45km de Rio Verde de Mato Grosso). Também ouvi suas histórias de apresentações do projeto que ele desenvolve há 2 anos, de estudos com a semente da Pitomba. Um menino de 16 anos, que já foi à Inglaterra para apresentar o trabalho que vem fazendo, mas que está interrompido por falta de incentivo e de materiais. Peguei o contato dele para tentar ajudar de alguma forma (ele me falou também que existe um sítio arqueológico no balneário, um pouco afastado do rio, que não é aberto à visitação e falei que seria bem legal se ele pudesse abrir para visitação. Eu tinha fotos deste local, mas devo tê-las perdido, pois não as encontro em lugar algum, infelizmente. Mas o lugar é bem bonito mesmo. Vale a pena ser visitado. Eu ainda subi um pouco o rio, explorei minimamente o local e cheguei a alguns poços legais para banho e para relaxar, longe da muvuca).

Na volta, pedalei por 10-15min e vi que tinha furado o pneu traseiro. Pedi carona para um pessoal que estava tomando banho debaixo da ponte. Consegui com uma caminhonete, que me deixou em frente à uma oficina. Acabei trocando eu mesmo a câmara pela que já tinha remendado. Isso serviu para eu chegar na casa da Nai, mas enchendo o pneu por 3 vezes pelo caminho, pois o remendo não pegou e ainda vaza. Mas, consegui chegar. A Nai saiu de novo para a festa de formatura da Universidade e estou sozinho de novo. Pelo menos tem internet.

(Relato escrito em 01/03/19): Estou desde o dia 24, domingo, na casa da Eliene, Marcilio, Gabriel e Ravi (graças ao "falido" couchsurfing - por ter se tornado obrigatoriamente pago. Plataforma que me ajudou muito e tenho certeza que já ajudou muitos outros viajantes). Andei bastante pela cidade entregando currículos. Nas andanças, aconteceram alguns fatos curiosos: Fui a um hotel onde o dono, um senhor de uns 70 anos, me disse que o movimento estava fraco, pois não estavam mais indo pescadores, turistas, gente de negócios... nem o "turismo sexual" estava acontecendo mais (pra todos que trabalham com turismo, tá aí uma "nova" área a ser explorada. Nova no estudo, não na prática). Algumas pessoas até pegaram meu currículo, disseram que poderia aparecer alguma coisa ocasional, mas nada surgiu. A Eliene que veio com a ideia de dar aulas particulares de inglês e, inclusive, já divulgou para amigos dela. Hoje, eu já tenho 5 alunas fechadas e vários horários ainda livres. Ontem, quinta 28, teve um evento, numa praça da cidade, com 3 bandas de rock'n roll. Acabei conhecendo o Bruno, que estava com uma camiseta do Hatebreed e eu precisei puxar assunto com ele (para conhecer alguém que, não só conhece, mas gosta de Hatebreed, numa cidade do Pantanal sul matogrossense). Amanhã, estou indo a Campo Grande passar o carnaval (a Eliene tinha uma viagem programada e eu não teria outro lugar para ficar, então resolvi visitar meus amigos no hostel, mas fui de carona. Deixei a Frankenstina na casa da Eliene, junto da maioria das minhas coisas e parti).

(Relato escrito em 07/03/19): Consegui ir a Campo Grande. Fiquei no hostel como "couchsurfing" (a Helena liberou na amizade, pois o feriado seria parado). Agora tem mesa de sinuca e de ping-pong no hostel. Conheci os novos "worldpackers" (plataforma de trabalho voluntário em estabelecimentos de hospedagem para mochileiros, cicloviajantes e todas as pessoas que vivem na estrada) e quase não saí de lá. Apenas fomos a um espetinho tomar cerveja e ao Parque das Nações Indígenas de bike, eu, Helena e Felipe (sobrinho e sócio dela). Foi legal, mas, de novo, eu tive o sentimento de solidão. Sem contar na grana que gastei nas caronas e com comida. Caronas, inclusive, que merecem ser mencionadas. Na ida, foi um casal na frente, com o filho bebê, de mais ou menos 2 anos, na cadeirinha no meio do banco traseiro, eu atrás do banco do motorista e a avó do bebê atrás do banco do carona. No começo da viagem, o bebê dormia. Na metade, paramos para que eles pudessem comer. Isso que dá querer viajar na hora do almoço. Ali, o bebê acordou e começou o inferno. A choradeira foi o de menos, criança chora, é normal. Mas, quando ele, finalmente, se acalmava, a avó queria empurrar água nele, ou a mãe somente olhava para trás, e começava o berreiro novamente. Depois de algum tempo, começou a chover forte, muito forte. Estava difícil de enxergar a estrada. Então, a mãe teve a brilhante ideia de tirar o menino da cadeirinha e ficar com ele na frente, até ele querer ir pro colo da avó e ficar pulando de colo pra colo, como se só a chuva não fosse perigosa o suficiente. Precisava ter uma criança pulando para lá e para cá dentro do carro. Já, a volta, foi bem mais tranquila. Só eu e mais um cara atrás, com um casal na frente. Sem chuva e sem paradas. Ainda rolou um rock'n roll no carro. 


Nesses dias que estive em Campo Grande, fez um ano que eu havia saído de São Paulo, mas não que eu tinha estado lá pela primeira vez. Isso será amanhã (08/03). Eu tinha me decidido a não ler meus relatos antes de completar 1 ano e vi que meu primeiro relato foi escrito dia 07/03/18, apesar de ter iniciado minhas viagens dia 04/03/18. Então, hoje, é o dia que eu posso começar a ler, apesar de ainda não ter começado. Voltei ontem (quarta, 06) para Coxim. Peguei minhas coisas na Eliene e voltei para a casa da Nai, depois de ter visto duas casas para morar. Fechei com uma e me mudo sábado, 09. Amanhã, começo a dar aula efetivamente. (A Nai me ajudou muito durante o tempo que estive em Coxim, nas minhas idas e vindas, tanto de cidade, como de casa, saindo de uma para encontrar outra. Me abrigou por várias vezes e sou muito grato por tudo o que fez por mim).

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Pausa na viagem

Uma leve introdução antes dos relatos.


Uma pergunta que muitas pessoas me fazem, é, se tenho patrocínio, e/ou, como faço pra ganhar dinheiro. Pois bem. Não tenho patrocínio, mas se você quiser me apoiar, ou souber de alguém que quer/pode, estou aberto para receber. Ocasionalmente, dou uma pausa nas viagens para trabalhar em algum lugar, guardar dinheiro e seguir viajando. Não tenho aptidões artesanais para ser um hippie que faz pulseiras/colares ou qualquer coisa parecida. Também não tenho aptidões circenses para fazer malabarismo de rua. E também não tenho saco pra ficar catando latinhas. Então, preciso trabalhar, formalmente, em um emprego. São dois os motivos que me levam a procurar emprego: o primeiro é a cidade ser turística, o que me possibilita conhecer o máximo de atrativos possíveis e da melhor maneira. O segundo, e mais importante, é estar acabando minha reserva financeira. Neste caso, não posso escolher muito onde parar. Coxim foi uma cidade onde parei, pelo segundo motivo. Portanto, começo, hoje, a contar como foi minha saga, que durou 6 meses, nessa cidade. Lembrando que, as partes entre parênteses, são comentários de hoje sobre o que escrevi na época.


17/02/2019: Domingo. Acordei 8h30, sem saber se o celular tinha atualizado a hora, pelo fim do horário de verão. Tomei de café da manhã, torradas que comprei no mercado, com manteiga e orégano, assisti seriado - se não fossem os downloads, eu já teria surtado de tédio - e li mais um pouco do livro, antes de começar a arrumar as coisas para sair em busca de outro lugar para ficar. Arrumei a caixa no bagageiro para ficar mais firme e saí para procurar restaurante para almoçar. O restaurante onde eu tinha comprado a marmita na sexta feira, estava fechado, bem como todos os que passei, próximos a ele. Só fui encontrar um, quase na saída da cidade. Marmita a R$15,00, era lá mesmo. De novo, comi uma parte e deixei o resto para outra refeição. 


Mais um episódio de seriado e fui usar um pouco a internet, achando que o clássico Corinthians x São Paulo seria às 15h, horário local, mas era só às 18h. Voltei, então, para a casa, para terminar de arrumar minhas coisas e partir. Quando saí, fui à casa da Naiely, para devolver o travesseiro que ela havia me emprestado. Só que ela falou para eu dormir lá e aceitei o convite. Ainda assisti ao clássico - que jogo horrível - e um filme, comendo pizza. Não lembro o nome, mas era um filme britânico, de época, sobre um investigador da Scotland Yard. Interessante, porém previsível.


18/02/2019: Segunda. Acordei ao mesmo tempo que a Nai, que ia trabalhar, para enfim, fazer os exames médicos. Ela deixou a chave comigo para eu poder almoçar lá. Fiz todos os exames de sangue. Só não fiz os de fezes e urina, pois eu deveria comprar os copos em farmácia e os de sódio e potássio que só são feitos em laboratórios particulares. Então, voltei à casa dela para tomar café, pois estava em jejum. 


Saí novamente em busca de um lugar para imprimir meu currículo e ir em busca de um emprego. Dei, praticamente, a volta na cidade, procurando (não que isso fosse algo extremamente difícil, pelo seu tamanho, mas foi quase isso mesmo). No caminho, passei por uma escola de cabeleireiros e perguntei o valor do corte. Me falaram que era R$15,00, mas que, hoje, era grátis, pois haveria aula, porém apenas na parte da tarde (voltei à tarde lá para tosar o pelo). Segui em busca de impressora. Cheguei à uma papelaria, que me indicou um lugar. Imprimi alguns e ganhei de brinde um wi-fi para enviar o arquivo pelo whatsapp. 


Fui direto à única escola de inglês da cidade (por onde eu já havia passado algumas vezes e sabia onde era). Deixei um CV lá, apesar de ter ouvido que não havia vagas. Porém, a Gisele, coordenadora da escola, me indicou vários lugares onde eu poderia encontrar algo. Passei na secretaria da educação e deixei lá também. Fui, dali, para os locais indicados pela Gisele. Passei pela maior escola estadual da cidade, onde fica, também, o núcleo que gerencia as vagas da região. Depois, fui à uma escola particular. Fiquei aguardando no portão, sem aparecer ninguém, até que chegou uma mulher ali e me disse que a entrada era em outro portão, pela outra rua. Cheguei no outro portão e a mesma mulher me recepcionou. Era a Karen, a diretora. Ficamos conversando por algum tempo. Ela me disse que só voltou para a escola, pois tinha esquecido o celular. Na conversa, chamou seu marido, que também trabalha na escola, porque viu, no meu CV, que eu trabalhei com futebol. Eles me falaram que estão com o quadro completo, mas que pretendem (re)ativar os treinos de futsal, até expandindo para fora dos muros da escola. Uma boa oportunidade, se der certo. 


Voltei à casa da Nai, almocei o resto da marmita de ontem e descansei um pouco. À tarde, fui ao postinho, ver sobre dentista, mas a dentista já havia ido embora. Fui também atrás do padre Arley (aquele que me hospedou em Rio Negro, que havia sido transferido para Coxim) e consegui encontrá-lo. Ele deixou que eu ficasse alguns dias ali, até que o seminarista chegasse. Assim, voltei para a casa da Nai arrumar minhas coisas para me mudar. Esperei ela chegar e saímos para comer, antes de eu vir para a casa do padre.

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Uma despedida e uma (re)chegada

Lembrando e avisando, aos novos leitores, que as partes entre parênteses são comentários de hoje, sobre o que escrevi na época.

Relato escrito dia 11/02/19: Dia 09, sábado. Este foi o dia de trabalho mais pesado, literalmente. Consistiu em carregar/descarregar areia para construção que o Beto queria fazer, que era o que iríamos fazer desde o começo, quando cheguei. No fim da tarde, com o sol já se pondo, corremos para a montanha para tentar acompanhar o pôr-do-sol, mas o horizonte estava nublado e só vimos uma faixa aberta. Voltamos não totalmente satisfeitos.

Dia 10, domingo. Depois de passarmos a manhã meio na preguiça, só eu e o Marc, porque o Beto tirou leite de duas vacas para bebermos e fazer queijo, depois do almoço começamos, finalmente, a mexer na obra. Eu e o Marc nos encarregamos de fazer a massa e o Beto ia colocando os tijolos. Neste dia, aconteceu o pôr-do-sol mais bonito, mas não pudemos ver, pois estávamos na obra. Vimos apenas a morraria pintada de laranja. Coisa linda! Pena que não vimos o projetor da luz que pintava os morros. À noite, ficamos no papo até a hora que o cansaço bateu. (O Marc era um cara muito legal. Conversava bem, aberto, divertido e ficava impressionado ou interessado por coisas simples que temos aqui no Brasil, que são comuns a nós, como a planta "dorme-dorme", ou sei lá como você a chama... Aquela que se fecha quando passamos o dedo nela. Porém, como todo bom francês, os hábitos de higiene pessoal não são os mais recomendados, pra dizer o mínimo. E eu sofria com isso, pois dormia numa cama que ficava de frente ao quarto onde ele estava. Após todo o trabalho, toda a caminhada, todo o calor, não tomava banho para ir dormir e, pior ou tão ruim quanto, apenas pendurava a camiseta para secar e a usava novamente no outro dia. No máximo, dia sim, dia não, revezando com outra camiseta. O cheiro era insuportável!)

Dia 11, segunda. Hoje, infelizmente, chegou o dia de ir embora. Fomos para a cidade por volta das 9h30. Chegamos na casa do Beto, na cidade, e peguei a Frankenstina para montar e partir. O Beto ainda tentou falar com alguns amigos para me ajudar a arrumar um emprego por aqui, mas sem sucesso. O jeito foi partir, após mais uma despedida, que é a pior coisa nesta vida "cigana". 

Fui, então, buscar o resto das minhas coisas que estava na casa onde havia me hospedado com a Helena. Fiz uma cara de cachorro pidão, quando falei que iria procurar um lugar para passar a noite, pois amanhã partiria para Coxim. Funcionou e deixaram eu dormir lá. Ainda tinha umas comidas que tínhamos comprado e garantiu dois almoços, uma janta e um lanche para a viagem. 

No meio da tarde, passando pela praça central, cruzei com um viajante, o famoso "hippie", fazendo seu artesanato no chão. Sentei para conversar um pouco. Me falou que viaja há 6 anos pelo Brasil, vindo da Venezuela, seu país de origem. Por algum tempo também foi de bike, mas agora só vai de ônibus. Logo depois, chegou seu companheiro de viagens, que se juntou a ele há 1 ano, saindo de uma cidade no norte de Goiás, onde largou tudo e partiu para acompanhar o hippie gringo. Então, voltei para a casa, lavei roupa, jantei e deixei as coisas mais ou menos prontas para partir.

(Relato escrito dia 16/02/19) Dia 12, terça. Chegou o dia de dizer tchau a Rio Verde de Mato Grosso. Pra variar, saindo atrasado. Acordei às 6h para arrumar as coisas e partir por volta das 7h, mas não deu. Fiquei com preguiça e eu sempre fico meio perdido sobre o que arrumar primeiro. Fora que algumas roupas ainda estavam úmidas. Porém, o que são algumas horas de atraso pra quem não tem horário? Só fui sair às 8h50, bem tarde já, mas sabendo que a viagem não era tão longa. Coxim, aí vou eu, de novo. 

Parei no único posto de gasolina que tem no caminho, na saída de Rio Verde de Mato Grosso, para calibrar os pneus, mas a máquina estava quebrada. Dei uma conferida "manual" e achei que dava para ir e fui. No caminho, eu sentia dificuldades para pedalar. Não ganhava velocidade nem nas descidas. Acreditei ser o peso da bike, mas ainda achava estranho. 

Cheguei em Coxim 12h30, 40 minutos a mais do que da primeira vez (eu estava mais pesado, também). Parei no restaurante "Cantinho da Peixada", que já havia ido antes, para pedir água e usar o wifi. Me deram a água, bebi virando e voltei para a bike. Quando já estava montando para partir, o menino do caixa perguntou se eu já tinha almoçado, pois eles poderiam me servir um prato. E eu ia recusar??? Me trouxeram um pratão com arroz, pirão, macarrão, farofa e uns 10 filés de peixe frito. Nem consegui comer tudo. Agradeci ao garoto e parti. 

Ao lado do restaurante tem um posto. Parei lá para calibrar os pneus e consertar o selim que estava caindo (tava meio folgada a alavanca). Normalmente, eu coloco 30-32 libras em cada pneu. O traseiro estava com 20 e o dianteiro 23. Não era de se estranhar que não estava ganhando velocidade (fora que o selim estava "dançando" por estar meio frouxo). E sorte que nenhum pneu furou, só que o selim estava quase desenganado. Precisaria fazer um transplante em breve. 

Saí do posto e fui até o corpo de bombeiros tentar descolar uma hospedagem. Não deu, pois não autorizam civis a se hospedar. Me indicaram um albergue e explicaram como chegar. Cheguei lá e não funcionava mais. Fui, então, em busca da velha conhecida, mas não tão velha assim, igreja católica. Na primeira que encontrei, não havia ninguém. Nem sinal de alma viva. Fui à uma casa, numa rua lateral, perguntar para um senhor que horas o padre estaria lá. Ele disse que o padre só vem uma vez por semana e me perguntou se era para hospedagem. Eu disse que sim e ele falou que eu poderia me hospedar ali. Perguntei aonde e ele apontou para a casa onde estava, assim, sem mais nem menos. Ele é conhecido na cidade como "Professor Eron" e a casa é uma das casas que ele tem para alugar e estava sendo pintada após a saída do último inquilino. Me falou que foi hippie na década de 70 e já tinha viajado muito e passado por vários apertos, então, agora, ele quer ajudar os viajantes. Buscou um colchonete e lençol e permitiu que eu ficasse até eu arrumar um emprego ou até ele alugar a casa. A casa está sem luz e preciso ficar caçando tomada para carregar o celular, mas tem água e dá para usar o banheiro e tomar banho, além das minhas coisas estarem seguras. De noite, fui visitar minha amiga Naiely antes de tomar um açaí e capotar.

Dia 13, quarta. Acordei com dois objetivos em mente: fazer os exames de sangue para doença de Chagas e outros mais, check-up geral, e terminar de resolver as questões de documentação (uma das coisas, era pedir baixa no meu CREF. Pra quem não sabe, sou formado em educação física, mas já havia mais de 1 ano que não trabalhava na área e não pretendia voltar). Fui ao hospital de manhã e vi que os exames só são coletados das 6-8h da manhã de segunda-sexta. Já era quase 10h e tinha um pouco de gente, então resolvi voltar depois. Fiquei enrolando pela cidade, dando rolê, indo aqui e ali até o final da tarde, quando a Naiely chegou e fui à casa dela. 

Quando saí da casa dela e voltava para a casa do "velho hippie", o Professor Eron, passei em frente à casa onde ele morava (por acaso) e ele estava sentado em uma cadeira na calçada (ahhh, o interior... Podemos ficar sentados na calçada até tarde da noite, conversando, tomando tereré, sem medo, sem preocupação). Ficamos conversando por alguns minutos e vim dormir.

Dia 14, quinta. Havia me proposto a fazer os exames e procurar emprego. Coloquei o celular para despertar às 6h. Acordei às 8h30 com o relógio do celular apontando 22h25. Ele faz isso às vezes. Fazer os exames não dava mais, só me restava procurar emprego. Levantei e fui me arrumar. Quando saí, o selim afrouxou de novo e me obrigou a guardar a bike e seguir a pé. Ainda passei na serralheria para tirar mais uma parte da caixa, que acredito ter sido o motivo de ter afrouxado o selim. 

Na hora do almoço, comecei uma saga para encontrar um restaurante barato. Nessas horas, sinto falta de Campo Grande, com seus restaurantes a R$5,00 e marmitas a R$18,00, mas que me alimentava por 3-4 dias, guardando em geladeira. Cheguei num, indicado, às 12h30 e me foi informado que já havia encerrado, pois havia acabado a comida (ahhh interior... tem dessas também, hehehe). Parti à caça de outro. Andei a avenida inteira e não encontrei nenhum. Fui então para as paralelas. Andei por uns 10-15 minutos fazendo curvas e pegando ruas diagonais que quase me perdi. Ainda bem que meu senso de direção é bom e retornei à rua paralela à avenida. 

Cheguei a uma espécie de feira/camelódromo. Um galpão aberto, só coberto por um telhado alto com vários stands vendendo de tudo. Arrisquei ali e achei. R$13,00 o almoço e não aceitava cartão, só dinheiro. Por sorte, e experiência, eu estava com dinheiro. Perguntei o que tinha e a resposta foi "arroz, feijão, frango, farofa, purê... e só". Eu dei risada e pedi um deste. Pedi também uma cerveja. Só tinham (sem propagandas grátis), custando R$7, 8 e 6 respectivamente. Agradeci ao tradicionalismo do povo que só bebe as clássicas "suco de milho e cevada" e pedi a puro malte que estava mais barata. Terminando o almoço, fui fazer hora a tarde. 

Passei por um lugar que estava com uma placa que dizia: "No dia 14/02, fecharemos às 15h por luto". Fiquei pensando em como eles sabiam que alguém iria morrer... Voltei para o lugar onde estava passando minhas tardes: uma loja de açaí com wifi e tomada para carregar o celular. Fiquei esperando dar a hora da Naiely sair do trabalho para ir a casa dela. Preciso bater o ponto. 

Na volta para a casa onde estava, encontrei novamente o Professor Eron, em frente à sua casa. Me falou que uma família mudaria para cá na segunda, 18, mas que eu poderia ficar até domingo. Preciso encontrar o Padre Arley, que conheci em Rio Negro (ele havia me dito que seria transferido para Coxim. Iria tentar uma pousada com ele novamente).

Dia 15, sexta. Esqueci que os exames precisam ser feitos em jejum e já tinha comido. Ficaram para depois novamente. No almoço, uma marmita de R$15,00 que dividi pra duas refeições e lá vou eu de novo para o açaí passar a hora. Minha tia Cláudia me mandou um livro que conta a história de pai e filho que saíram de Itajaí-SC rumo a Ushuaya de bicicleta. Se chama "Pedalar é possível". Comecei a ler o livro já querendo parar, por vários motivos: é mal escrito, começa com um resumo que conta muita coisa, pontuação toda errada, acentuação idem e a história tem início no dia 22/02/16, um dia antes da morte da minha esposa (desculpa tia, não sei se você leu, mas eu aguentei e li até o final. É até interessante a história. Apesar dos problemas, é legal ver o desenrolar dos eventos). Ah, o livro está na 2ª edição. Não sei se era pior ou se o novo editor estragou tudo. De noite, fui novamente para a casa da Naiely bater o ponto. Acabei dormindo lá mesmo.

Dia 16, sábado. Hoje foi dia de faxina na casa da Nai e aproveitei para lavar a roupa suja. À noite, ela foi para o aniversário de um amigo e eu voltei para a casa do "velho hippie".

(Fiquem com uma foto do pôr do sol na margem do Rio Taquari para ilustrar este post "sem figuras")