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14-Memória

 Escrito no final de 2016, entre Outubro e Novembro.

                 Nunca tive uma memória muito boa. Não me lembrava de detalhes, de conversas, de informações... Não guardava estas coisas. E são justamente elas, as memórias, que agora fazem parte de minha vida constantemente. Em momentos assim, elas vêm como um furacão, que arranca tudo que está começando a ser reconstruído, após uma enchente que devastou uma cidade. Mas elas não avisam quando estão para vir. Não há alertas de emergência de catástrofe. Não há tempo de se preparar para recebê-las. Elas apenas vêm e derrubam o que estava sendo remontado.

O trabalho delas é – por incrível que pareça – que as coisas não sejam esquecidas, não importa o quanto isso machuque. E fazem seu trabalho com excelência. São inúmeras as lembranças de momentos felizes que tive em minha vida, que atravessam minha alma como uma faca serrilhada de ambos os lados, mostrando a mim, repetidamente, aquilo que tinha e não tenho mais. Às vezes, gostaria que esta faca atravessasse meu corpo, para me livrar desta tortura que vivo constantemente.

Nos momentos mais inesperados, elas chegam. Hoje, estava terminando de lavar louça, enxugando as mãos num pano de pratos e me veio à mente o momento quando ainda estava organizando minha casa, após o casamento, com os móveis chegando aos poucos e precisando arrumar lugar para cada coisa. Uma destas coisas era, exatamente, um pano de prato, molhado, e não tinha onde colocá-lo para secar e poder reutilizá-lo. Então, coloquei-o na porta do forno e o que ouvi foi: “Você achou um lugar!!!” com o sorriso mais lindo que já havia visto estampado no rosto, extremamente feliz por um simples pano de prato que tinha encontrado um lugar, que demonstrava felicidade por ter ela mesma encontrado um lugar e poder viver seus sonhos. O sorriso inocente, que não sabia o que lhe aguardava.

 Hoje não tem mais sorrisos. Dela ou meu. E o lugar onde ela está agora não é mais o mesmo que era antes, mas será o mesmo para sempre. A felicidade, a simplicidade, a alegria nas pequenas coisas se foram.

Mas as memórias, estas serão minhas eternas aliadas. Se assegurando de que eu nunca me esqueça. E que sofra eternamente. Que assim seja.

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