Escrito no final de 2016, entre Outubro e Novembro.
O trabalho delas é – por incrível que pareça – que as coisas não sejam
esquecidas, não importa o quanto isso machuque. E fazem seu trabalho com
excelência. São inúmeras as lembranças de momentos felizes que tive em minha
vida, que atravessam minha alma como uma faca serrilhada de ambos os lados,
mostrando a mim, repetidamente, aquilo que tinha e não tenho mais. Às vezes,
gostaria que esta faca atravessasse meu corpo, para me livrar desta tortura que
vivo constantemente.
Nos momentos mais inesperados, elas chegam. Hoje, estava terminando de
lavar louça, enxugando as mãos num pano de pratos e me veio à mente o momento
quando ainda estava organizando minha casa, após o casamento, com os móveis
chegando aos poucos e precisando arrumar lugar para cada coisa. Uma destas
coisas era, exatamente, um pano de prato, molhado, e não tinha onde colocá-lo
para secar e poder reutilizá-lo. Então, coloquei-o na porta do forno e o que
ouvi foi: “Você achou um lugar!!!” com o sorriso mais lindo que já havia visto
estampado no rosto, extremamente feliz por um simples pano de prato que tinha
encontrado um lugar, que demonstrava felicidade por ter ela mesma encontrado um
lugar e poder viver seus sonhos. O sorriso inocente, que não sabia o que lhe
aguardava.
Hoje não tem mais sorrisos. Dela
ou meu. E o lugar onde ela está agora não é mais o mesmo que era antes, mas
será o mesmo para sempre. A felicidade, a simplicidade, a alegria nas pequenas
coisas se foram.
Mas as memórias, estas serão minhas eternas aliadas. Se assegurando de
que eu nunca me esqueça. E que sofra eternamente. Que assim seja.
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