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domingo, 26 de abril de 2020

Descobrindo Campo Grande

Após me mudar para Campo Grande "definitivamente" - pois logo eu iria embora -, aprendi que, no final das contas, tinha muita coisa pra fazer em Campo Grande, além daquilo que já havia conhecido na minha primeira passagem pela cidade, que era o "city tour": Parque das Nações Indígenas, Mercado Municipal, Casa dos Baís e camelódromo, fora as praças ao longo da Av. Afonso Pena e as outras coisas, que conheci com meus amigos poloneses que relatei no post anterior.

Morada dos Baís. Hoje é um museu mantido pelo SESC. Possui a parte histórica contando sobre a criação da cidade e a construção da casa bem como outras exposições e apresentações culturais de noite em alguns dias da semana.

Uma das pinturas de Lídia Baís, moradora da casa e pintora, musicista e compositora no início do século XX.

Fim de tarde no Parque das Nações Indígenas.

A primeira delas foi quando ainda "morava" no hostel. Em algum dia do mês de Agosto, conheci uma paranaense que era guia em uma fazenda pantaneira e ficou hospedada alguns dias no hostel, enquanto resolvia algumas coisas "na cidade" em seus dias de folga. Como ela já havia passado pela cidade algumas outras vezes, já sabia de alguns lugares interessantes para ir que eu não fazia ideia que existiam. Combinamos então, de irmos até uma cachoeira chamada "Inferninho", que fica localizada a mais ou menos 18km do hostel. Fomos apenas nós dois, pois ninguém mais quis ir. Peguei minha bicicleta, enquanto ela alugou uma outra em uma bicicletaria próxima ao hostel para irmos.

Estávamos sem pressa, então o percurso demorou umas duas horas mais ou menos. Mas também demorou mais, pois havia um caminho mais reto e com mais asfalto que não sabíamos. Acabamos pegando um longo trecho de terra cheio de curvas. Mas chegamos e é o que importa. Dado momento, avistamos um pequeno córrego que cortava a estrada que estávamos e que leva ao morro do Ernesto, e ali, do nosso lado esquerdo, estava a tal da cachoeira do Inferninho. Impressionante como aquele pequeno córrego, que não chegava ao tornozelo de água e tinha algo em torno de 1m de largura, podia fazer uma cachoeira e alimentar um poço para banho 20 ou 25m abaixo dali. A cachoeira leva este nome pois, de acordo com a história que me contaram, ali era um lugar de desova de corpos em anos passados.

Vista de cima do barranco

Passamos algum tempo procurando um lugar para descer e outro para deixarmos as bicicletas. Havia um mato alto e deitamos as bikes ali, perto de onde havíamos achado uma trilha. Começamos a descida, mas logo descobrimos que a trilha acabava numa enorme raiz de árvore que se espalhava pela encosta do barranco, e tivemos de passar pela raiz para chegar ao rio, e ainda tínhamos de escalar algumas pedras dentro do rio até chegar ao poço formado pela cachoeira.

A raiz espalhada (foto tirada já na volta)

Pedras a escalar até chegarmos na cachoeira

Chegamos, enfim, até a cachoeira. A água é bem barrenta, então não é uma visão tão bonita, mas é agradável tomar um banho após a descida, principalmente por termos ido de bicicleta. Tanto pela visão, como porque precisaríamos escalar pedras dentro do rio, eu não levei o celular até a cachoeira, então não tenho fotos de perto. O poço é bem raso, não tem nenhuma parte que me cobria, o que é bom em água barrenta, então é possível, e fácil, chegar até a queda dágua, onde dá para ficar sentado nas pedras relaxando, enquanto a água cai sobre nós.

Ficamos algum tempo lá, não vou saber precisar quanto exatamente, nem aproximadamente e nos preparamos para voltar. Já estava escurecendo quando ainda subíamos a encosta do barranco e já estava escuro quando começamos a pedalar de volta. Fizemos o mesmo caminho mais longo, tortuoso e difícil, mas era o que conhecíamos. Paramos para tomar um caldo de cana ao chegarmos no asfalto (e na civilização) e seguimos caminho. Resolvemos mudar o caminho mais à frente, passando por bairros e ruas desconhecidas (como se eu conhecesse alguma coisa da cidade na época), mas conseguimos nos encontrar e chegamos. Não acho que chegamos a estar perdidos, mas ficava aquela dúvida se estávamos indo no caminho certo.

No outro dia, ela já voltaria para seu trabalho no Pantanal, então nos despedimos, mas mantivemos contato. Acabei ficando um mês no hostel, pois eu ainda tinha alguns serviços de intérprete agendados para agosto e setembro e não sabia se iria embora logo ou se ficaria ali por mais tempo, então ficar no hostel era mais fácil. Chegou um momento em que eu resolvi ficar por algum tempo na cidade, então comecei a entregar currículos nas outras agências de turismo e também em escolas de inglês. Meses depois, quando eu já havia ido embora de lá, eu fui descobrir que meu número estava errado no meu currículo. Nesta mesma época, comecei a procurar um lugar para morar, com a condição que fosse mobiliado, mas não com muito afinco.

Eu resolvi sair definitivamente do hostel quando tive meu celular furtado durante a noite, enquanto dormia. Por sorte, achei uma casa com quarto mobiliado, onde eu poderia usar a cozinha para cozinhar (impressionante como a cozinha é de uso restrito nestas moradias). Estava me fixando em Campo Grande, sem me fixar realmente.

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Tem, sim, o que fazer em Campo Grande!

No último dia de estada no Pantanal, o sol saiu e espantou o frio. Antes tarde do que mais tarde, diria meu avô. Como falei, fiz amizade com o casal polonês, de nomes: "Theo", que na verdade é a versão inglesa do nome verdadeiro dele, que é Bozydar, e sua esposa Ela, nome bem mais fácil, convenhamos. Nem parece polonês. Hahaha. Eles estavam voltando de carro para Campo Grande, então perguntei se poderíamos pegar carona com eles e eles permitiram.

Sol iluminando o Pantanal, espantando o frio

Viemos conversando bastante na volta e combinando o que fazer nos dias livres que eles ainda teriam na capital sul-matogrossense, antes de irem embora. Marcamos de fazer um city tour, tomar banho numa cachoeira próxima da cidade (provando que tem sim coisas pra fazer em Campo Grande) e tomar um tereré no hostel à noite. Mas a viagem ainda nos reservava uma surpresa. Num dado momento, passando por um dos vários campos abertos existentes pelo caminho, o nosso motorista avistou uma criatura solitária caçando comida e perguntou se gostaríamos que parasse o carro para aproximarmo-nos, e a resposta foi positiva. Lá estava um belo Tamanduá Bandeira, animal que eu já falei, em um post passado, que desperta excitação nos europeus, e não foi diferente desta vez. A minha amiga Helena ficou no carro junto do motorista, enquanto eu, junto com os poloneses, fui atrás do comedor de formiga, que é literalmente o nome dele em inglês - Anteater. Era um terreno um pouco acidentado, não exatamente plano, e eu estava de chinelo, o que dificultava um pouco minha locomoção, mas fomos mesmo assim. O casal um pouco atrás, nos aproximávamos passo a passo. Minha vontade era de chegar perto o suficiente para, quem sabe, passar a mão nele. Como não sabia se iria conseguir, fui tirando algumas fotos pelo caminho. Consegui chegar até uma distância de 3 ou 5 metros, quando ele percebeu minha presença, ou pelo olfato (afinal ele é metade nariz) ou pela audição; seja como for, ele parou de caçar e levantou a cabeça, como quem presta atenção, fazendo com que eu parasse ao mesmo tempo, pois não queria assustá-lo. Um fato importante é que eles são praticamente cegos, então não tenho certeza se ele me viu, apesar de se voltar para mim. Ficou alguns segundos parado, até que baixou a cabeça e deu uma acelerada no sentido contrário ao meu, como quem mostra que não quer papo e que está ciente da presença, e foi embora.

Foto tirada pelo meu amigo polonês com sua super ultra mega hiper blaster camera

O mais perto que cheguei dele

Quando ele se virou e partiu, resolvemos fazer o mesmo e voltar ao carro, que estava a uma certa distância, uns 80 ou 100m. Quando chegamos no carro, a minha amiga me falou que achou que eu iria morrer, e eu perguntei, rindo, o que ela queria dizer com isso: ela me contou, então, sobre o risco que eu corri sem saber. Aparentemente, o Tamanduá Bandeira é um animal extremamente perigoso, que, quando se sente ameaçado, fica em pé com as patas dianteiras abertas; patas estas que possuem garras grandes e afiadas, e quando atacado, "abraça" o predador, fincando suas garras em suas costas. É daí que vem o termo "morrer abraçado", pois ele consegue matar uma onça desta forma. Depois deste choque de realidade de um garoto urbano que não fazia ideia do risco que corria, retomamos nossa viagem de volta.

Chegamos em CG sem maiores sustos, com exceção do já relatado acima. O casal foi para o hotel onde estavam com reserva feita e nós voltamos para o hostel, depois de combinarmos como seria o dia seguinte. O plano (ai, os planos...) era nos encontrarmos de manhã para conhecerem a parte central da cidade, um pouco de sua história, irmos ao mercadão onde eles queriam comprar algumas coisas, almoçarmos e irmos à tarde tomar banho de cachoeira e vermos o pôr do sol no Morro do Ernesto. Combinamos com um motorista para nos acompanhar durante o dia nos passeios e deixamos tudo preparado.

No dia seguinte, o motorista passou no hostel e me pegou para irmos ao hotel deles começarmos nossa turistada pela cidade. Nossa primeira parada foi o camelô e em seguida o mercadão, que fica atrás do camelô. Compraram algumas especiarias regionais e brasileiras para levar para a Polônia, como café, erva pra tereré, alguns presentinhos e outras coisas que não me lembro agora. Provaram pastel com caldo de cana, como bons brasileiros. Andamos mais um pouco por ali e fomos para a cachoeira Ceuzinho.

A aproximadamente 17km do centro, são 3 cachoeiras, se não me engano, pois não fomos em todas. Pelo que me disseram, a terceira tem uns 15m de altura, mas paramos na segunda. A primeira é a mais lotada e, consequentemente e infelizmente, a mais suja. Muitas pessoas vão até lá para fazer churrasco, beber e usar drogas. Eu e o meu amigo Bozydar cortamos nosso pé dentro do rio, por causa de vidro ou lata jogados. Porém, isso não impediu que nos refrescássemos e nos divertíssemos, principalmente na segunda cachoeira, que tem menos gente e a queda dágua acontece na pedra, permitindo ficar sentado recebendo massagem da água que cai sem parar. Também descemos escorregando, pois do lado esquerdo da queda, a pedra tem desnível em direção ao leito do rio e curtimos nosso "toboágua natural".

Segunda queda, com o "escorregador" do lado esquerdo

Uma das minhas descidas "radicais"

No final da tarde, pegamos o carro novamente e fomos em direção ao morro do Ernesto, que dizem possuir o por do sol mais bonito da cidade, a mais ou menos 5km dali, porém, chegamos lá e estava fechado. Descobrimos, da pior forma, que a entrada só é permitida aos finais de semana, e tivemos de voltar para trás (ai, os planos...). O que tínhamos a fazer então era voltar para o hostel para nossa roda de tereré e bate papo, e foi o que fizemos. No dia seguinte eles já iriam embora logo cedo, então nos despedimos após terem me feito o convite de visitá-los na Polônia. Quem sabe um dia, não?

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Desbravando o Pantanal sul-matogrossense, parte 4/6

Antes de começar o post de hoje, gostaria de dizer algumas coisas: os relatos que tenho feito aqui, aconteceram antes de eu começar a viajar de bicicleta, quando ainda estava pensando apenas em fazer um mochilão pelo Brasil, parando ocasionalmente para trabalhar e fazer dinheiro. Logo chegarei na parte em que começo meu tour no pedal. Gostaria de dizer também, que o relato de hoje é sobre a melhor experiência que tive no Pantanal, de todas as que tive. Vamos a ele então.

Como vocês já devem saber, pelo menos quem leu os últimos relatos sabe (aliás, se manifestem: por aqui, pelo Facebook, pela Instagram, pelo whatsapp, por latinhas com barbante...), voltamos para o ponto de encontro dos turistas com os transportes das fazendas respectivas a cada reserva para seguirmos para a última fazenda que visitaríamos nesta nossa excursão pelo Pantanal de Corumbá: a Fazenda São João. Esta fazenda fica um pouco mais à frente do que a que estávamos, a Santa Clara, relatada no post anterior, cerca de 25 ou 30km adentro da estrada parque.

Chegamos na fazenda e comecei a ficar mais animado, pois estava achando que seria apenas mais uma fazenda "fake" com tudo montado e ensaiado pra turista ver. Estava enganado. Logo na entrada, pude ver campos alagados ao redor do caminho de ligação da estrada com a fazenda, mesmo sendo aquela data o auge da época seca. Foi o primeiro ponto surpreendente. Ainda fazia frio, mas vimos várias araras azuis em uma árvore seca e acima da placa de identificação do local, comendo algumas frutas deixadas ali pelos trabalhadores. Na hora que chegamos, por volta das 15 ou 16h, só havíamos nós dois de hóspedes, todos os outros estavam em passeios. Por "todos os outros", entenda um casal de poloneses. Ao longo do dia e da noite, foram chegando outros visitantes: um grupo de japoneses, alguns ingleses, um casal de um esloveno e um, se não me engano, israelense e alguns holandeses ou alemães (loiros gigantescos).

Araras-azuis na entrada

Campos alagados entre a fazenda e a estrada parque

Maritacas barulhentas. Reclamando? De jeito nenhum! 

Campos alagados na lateral da fazenda

Mais araras-azuis

Logo na entrada, do lado esquerdo, fica localizado o restaurante e o guichê de check-in; de frente ao restaurante fica o estábulo onde ficam os cavalos para os passeios e para trabalho dos peões também; ao lado do restaurante fica o escritório da fazenda; seguindo entre o restaurante e o estábulo, passando pelo escritório, ficam os quartos da hospedagem, após um redário coberto. Havia um galpão meio vazio, meio em reforma (que deu uma impressão de abandono) e o quarto que ficamos ficava atrás, indo pelo lado esquerdo; era um quarto com beliches para uso coletivo. Os quartos individuais ficavam no mesmo local, porém indo pelo lado direito do galpão. Após nos instalarmos, tiramos o resto da tarde para andar pela fazenda, tirar fotos, relaxar e comer umas bolachas com chá no restaurante, enquanto aguardavamos a chegada da noite que traria a janta e nosso primeiro passeio, uma trilha noturna pela estrada parque. Já falei que ainda fazia frio? Não estava tão frio como nos dias anteriores, mas ainda não estava quente. Até neblina baixou.

Gavião carcará (se não estiver enganado) descansando ao lado de outros dois habitantes locais, apreciando o pântano aos fundos da fazenda.

Neblina, pra quem não acreditou.

A Helena estava tentando, desde a nossa primeira parada, fazer uma fogueira com os guias e peões, para uma roda de conversa e cachaça com os turistas, uma verdadeira experiência pantaneira, mas não havia conseguido ainda. Desta vez, parece que iria rolar. Seria após a volta do passeio noturno. Voltamos ao quarto, tomamos banho e nos preparamos para a janta e para o passeio noturno. Comida muito gostosa e, o principal, sem suco de mentira. Na hora da saída para o passeio, a Helena não quis fazer, dizendo que tava muito frio e cansada. Fomos então eu e o guia (os únicos brasileiros), o casal polonês, o casa israelense/esloveno, a inglesa e talvez mais alguém que eu não me lembre. O grupo conversava muito, principalmente o guia, e falando alto, o que fez com que não avistássemos quase nenhum animal, com exceção de um veado já na nossa volta e um outro, que foi o ponto alto do passeio: um filhote de jacaré. Porém, o surpreendente foi como o avistamos.

Quem viu primeiro foi alguém do grupo, mas não sabia o que era, apenas viu que tinha algo (alguns do grupo carregavam lanternas, e o segredo para avistar animais no escuro, qualquer animal, é focar a luz no olho do aninal, que emitirá um reflexo. Claro que não sabemos onde o animal estará, então ficamos jogando a luz para todos os lados à procura do brilho). Quando o guia foi chamado, ele viu que era um filhote de jacaré e disse que iria lá buscá-lo para nós o vermos de perto. O filhote estava numa parte alagada descansando no meio da vegetação e na água turva. Todos nós estávamos com calçado e perneira (caneleira de couro para proteger contra mordida de cobra), inclusive o guia. Ele pediu para que eu focasse no bichinho enquanto ele tirava calçados e perneiras. Quando tirava a segunda perneira, após ter tirado as duas botas e a primeira perneira, o lacostezinho mergulhou e sumiu, sem que o guia visse. Eu falei pra ele o que aconteceu com desânimo na voz, sabendo ser impossível de reencontrar o bicho no meio das plantas, em água turva, de noite! Porém, o guia confiante, disse que iria lá buscar a lagartixa anabolizada.

Entrou na água e começou a caminhar cuidadosamente, observando e procurando, atentando onde pisava, até que, 3 ou 4 passos depois, agachou e enfiou a mão na água trazendo consigo aquela miniatura de godzila. Foi o segundo ponto surpreendente. Não preciso nem dizer o quanto fiquei abismado com aquilo, com a sabedoria, conhecimento e domínio da terra e do terreno, bem como da fauna, que aquele homem pantaneiro semi-analfabeto tinha nos mostrado. No final do dia, a fogueira até foi feita, mas ninguém ficou para ver, foram todos dormir nos seus quartos e camas quentes.

Alguns arriscaram passar a mão, e eu fui um deles, com medo e respeito.

Fui dormir em êxtase pelo que pude presenciar, sem poder contar a ninguém, pois não tinha wi-fi na fazenda e a Helena já dormia. No dia seguinte, no café da manhã, contei o que acontecera na noite anterior e me aproximei do casal polonês. Eu era o único brasileiro no local que falava inglês, e eles estavam desesperados para se comunicar, pois já havia 3 dias estavam lá, fazendo passeios com guias que não compreendiam, nem eram compreendidos. O passeio seguinte, o último, tanto da fazenda, como desta visita ao pantanal, parece que foi escolhido para fechar com chave de ouro: cavalgada pelos pântanos e por uma floresta. Eu nunca havia andado a cavalo e estava louco de vontade de fazê-lo. Novamente a Helena não quis fazer o passeio, mas desta vez acredito que foi por querer fazer marketing com o pessoal da fazenda, mas também imagino que ela já tenha andado muito a cavalo. Talvez não pelo Pantanal, mas não teria o mesmo peso que pra mim, que nunca havia andado. Porém, mesmo assim, tenho certeza que ela perdeu, pois foi demais!!! Com exceção do esloveno "pitizento", que ficou gritando e brigando/reclamando com o cavalo durante TODO o passeio, o que já estava me tirando a paciência, e o fato de eu mesmo ter tido um pouco de dificuldade de controle do animal, foi espetacular. Começamos atravessando o alagado aos fundos da fazenda em direção a um outro alagado maior mais à frente, onde subimos um pouco e entramos num bosque, ou uma pequena floresta. Durante o trajeto, avistamos apenas alguns pássaros, um jacaré e um tatu, mas só de andar a cavalo por pântanos já valeu a pena.

Tatu que avistamos pelo caminho. Não tenho certeza, mas imagino que seja um tatu galinha

O cavaleiro!

Voltamos para a fazenda para almoçarmos e, mais uma vez, pela última vez, juntarmos as coisas para ir embora. Porém, desta vez, estava satisfeito. Eu havia, finalmente, me sentido DE VERDADE no Pantanal. Local simples, com mata nativa e original, sem gramadinho bem aparado, sem lugar enfeitado, sem coisas "fake", campos alagados em todo o derredor e, um detalhe simples que pra mim é positivo, sem wi-fi e sem sinal de celular. Como falei no começo do post, de todas as experiências que tive no Pantanal, esta foi, disparada, a melhor.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Desbravando o Pantanal sul matogrossense, parte 3/6

Após o almoço maravilhoso na Jungle Lodge, pegamos o carro que nos levaria de volta ao ponto de encontro na rodovia, de onde saem todos carros para as fazendas da região, Bonito e Campo Grande. Chegamos lá e ficamos aguardando chegarem as vans vindas de Bonito e Campo grande que traziam os turistas que se dirigiam ao Pantanal de Corumbá. Enquanto esperávamos, minha amiga Helena já ia conversando com o motorista de nossa segunda parada, que acabou se revelando o próprio dono da fazenda Santa Clara, a qual iríamos nos rumar.

Chegaram os turistas e cada um se dirigiu ao carro respectivo à fazenda que iriam visitar, e fomos nós também para o nosso. Ainda estava fazendo muito frio, e eu enrolado na minha toalha tentando escapar do vento forte e cortante que soprava. Esta fazenda fica um pouco mais para dentro da estrada parque do que a Jungle Lodge onde estávamos até aquela manhã.

Entrada da fazenda

Chegamos, enfim, à fazenda e fomos fazer o check-in para descobrir como funciona, os horários e o quarto onde iríamos ficar.  Nos instalamos e pegamos o roteiro, que incluía um passeio naquela noite e uma trilha em floresta pela manhã. O dono da fazenda, vendo meu sofrimento, me emprestou uma jaqueta dele. Ficamos então conversando com ele por algum tempo e depois começamos a conversar com os outros hóspedes. Tinha gente de vários países: França, Bélgica, Portugal... Até da Bósnia tinha uma mulher (que era, literalmente, uma Bósnia!!! Que mulher chata!!!!!). Ficamos todos no restaurante, pois havia um fogão queimando lenha e não estava tão frio ali. Também tinha chá, café e bolachas.

Bela recepção

Na fila do check-in

No restaurante, já apropriadamente agasalhado

A janta estava, como de costume, deliciosa. Nosso primeiro passeio seria uma cavalgada noturna (se não me engano) que começaria às 20h, porém começou a chover neste horário, e como já estava frio, o guia conversou com o grupo que resolveu não fazer o passeio, infelizmente. Ficamos então conversando ali mesmo até que, um a um, todos foram para o quarto fugir do frio e do cansaço da viagem, e fui também.

No dia seguinte, acordamos cedo para o café da manhã e para o nosso primeiro, e último, passeio. O café da manhã estava gostoso, não delicioso, porém, o pior de tudo, foi descobrir um pouco tarde, que o suco era artificial, daqueles de pozinho!!!!! Fiquei indignado (nem tanto por mim, pois eu não paguei pra estar lá, mas pelos turistas) por estar numa fazenda turística no Pantanal, cercado de vegetação, árvores frutíferas, diárias caras, pra beber suco de pó!!!!! Mais tarde, conversando com o dono novamente, ele nos disse que é difícil ficar comprando e levando frutas até a fazenda por estar longe da cidade... Desculpa muito da esfarrapada se querem saber. Mas ok.

Terminamos de comer e nos preparamos para o passeio. Nos reunimos no local apontado pelo guia para nossa saída de carro até a floresta onde a trilha aconteceria. No caminho, passamos pelo rio Abobral, que leva este nome pelo seu tom alaranjado quando recebe a luz do sol diretamente em suas águas. Passamos também por uma comitiva pantaneira, onde os peões levavam seus bois para outro lugar. A maior expectativa nestes passeios, sempre é avistar animais; pra mim, o principal é a onça; para os europeus, para minha surpresa, é o tamanduá Bandeira. Este animal causava êxtase em quase todos os europeus que eu conheci e era o ponto alto da viagem. Infelizmente, os únicos animais que encontramos, foram alguns quatis (que também são agradáveis) e um grupo de perus! Não esperava encontrar perus no Pantanal, mas lá estavam eles.

Rio Abobral

Ponte sobre o mesmo rio

Um dos quatis avistados, o único que consegui capturar

Perus!!!!

Um dos peões da comitiva

Chegamos na floresta que tinha características particulares: ela era formada, basicamente, por palmeiras baixas (chamadas de bacuri) e bem espaçadas umas das outras. A trilha foi bem sem-graça, pois não vimos nenhum animal, exceto um outro grupo de quatis (muito por culpa do próprio grupo de turistas que não parava de falar e fazer barulho). Em determinado momento, o guia parou ao lado de um bacuri e começou a falar sobre as particularidades da árvore e de seu fruto, que serve de alimento para araras e cotias, principalmente. Dentro do fruto, tem água bem salobra, que não agrada a todos, mas que não achei nada demais. Esta água também servia de colírio para os habitantes mais antigos da região. O fruto é como se fosse um coco em miniatura ovalada: duro e com água dentro, porém cresce em cachos, como as bananas. O guia também mostrou como se dá o crescimento do fruto, abrindo um cacho em crescimento.

Trilha na floresta

Cacho novo do bacuri aberto pelo guia

Após andarmos en círculo por aproximadamente uma hora, voltamos ao carro para regressamos à fazenda. Estava chegando a hora do almoço e, consequentemente, nossa hora de ir embora. No horário que restava antes de comermos, fomos conhecer a outra parte da hospedagem, que eles chamam de "hostel": se resume a um barracão com umas quarenta camas uma ao lado da outra, 20 de cada lado, todo aberto com janelas (com tela para evitar a entrada de mosquitos); eu imagino o frio que deveria estar fazendo ali durante a noite, principalmente porque este barracão está na beira do rio Abobral. Também tem algumas redes embaixo do galpão, mas não estavam sendo muito utilizadas, imagino porquê... O almoço foi muito gostoso, apesar do suco de pó novamente, só que desta vez eu estava avisado e não peguei. Comemos e fomos arrumar as coisas para passarmos pelo mesmo ritual: voltar ao ponto de encontro para pegarmos outro carro para nossa terceira e última parada, mas isso fica para o próximo post. Para encerrar este post, deixo as fotos da parte do "hostel" e digo que, de todas as vezes que visitei o Pantanal, esta foi a pior: passeio sem graça, suco de pó, pouco contato com a natureza na área em comum e dos apartamentos; fora o passeio cancelado, apesar de, na hora, fazer sentido. Não acho que valha a pena visitar esta fazenda, mas o Pantanal, com certeza, vale!


Restaurante do hostel, barracão acima. Na foto, um francês e um português que estava hospedados por lá