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domingo, 5 de julho de 2020

Uma visita não planejada

Quando ainda estava em Rochedo, uma pessoa me indicou conhecer Corguinho, principalmente pelos "zigurates", os seguidores terraplanistas do ET Bilu. Eu me segurei para não rir na cara da pessoa. Disse apenas que Corguinho não estava nos meus planos, que iria seguir direto para Rio Negro, apesar de Corguinho estar no caminho e eu ser obrigado a cruzar a cidade. Pois bem. Segue relato do que aconteceu. Lembrando que, o que está entre parênteses, é um comentário que eu faço hoje, sobre o que aconteceu na época.

22/12/2018: este dia costuma ter altas emoções todos os anos.

Saí de Rochedo às 7h38, com destino a Rio Negro (cerca de 70km). Porém, após mais ou menos 30 minutos de pedal, o câmbio da Frankenstina quebrou e entrou no aro. O "menos pior", é que eu estava na subida e logo parei a bike, sem danificar muita coisa. Por sorte não quebrou nenhum raio. Arrumei minimamente, apenas para poder empurrar, sem que entrasse no aro novamente (nas descidas eu conseguia montar e descer "na banguela"). Andei por volta de 1h30 empurrando a bike e pedindo carona sem sucesso. Ninguém parou. Cheguei a Corguinho às 9h30, hora que eu queria estar, ao menos, próximo de Rio Negro (pela minha experiência atual, nesse tempo de pedal, eu não estaria nem na metade do caminho planejado). Parei no primeiro posto de gasolina que vi, bebi água e perguntei se havia alguma bicicletaria na cidade. Me indicaram onde era e fui. Sábado, faltando 3 dias para o Natal, numa cidade de mais ou menos 5mil habitantes, ela estava... aberta!!! Me cobrou R$50,00 pelo serviço e pelas peças. Precisou trocar também a corrente (o câmbio que ele tinha era inferior ao meu, mas era o único que ele tinha). Detalhe que, o dinheiro que eu tinha em um dos bancos que tinha conta, havia acabado e o que tinha em moeda não era suficiente. Só me restava a grana que tinha em outro banco, mas eu não tinha como sacar, pois não tinha agência deste banco na cidade, nem caixa 24h (o bicicleteiro não passava cartão). Eu fiquei ligeiramente em pânico, pois não tinha como pagar e, até onde me constava, o meu cartão servia apenas para saque, não funcionava como débito. O cartão anterior, do mesmo banco, era assim. Fui à uma loja ao lado, pedir o Wi-Fi, para falar com a família ver o que dava pra fazer, se alguém conseguia me ajudar, mas, mesmo que me enviassem dinheiro, era sábado, não iria cair a tempo (alguém, que não lembro quem, me falou para tentar passar o cartão como débito, então conversei com o dono da bicicletaria). Ele me falou para passar o cartão no mercado ao lado e levar o recibo para ele. Tentei passar os R$50 e não deu. R$40 e nada. Minha última esperança era passar R$30, pois tinha uma nota de R$20 e pagaria o conserto (como eu ia comer era outra história). Passou então os R$30 e consegui pagar o conserto. Também aproveitei o wi-fi para assistir a final do mundial.

Nisso, já eram 11h40 e a fome batia forte pelo esforço. Fui no único restaurante que achei aberto ver se conseguia alguma coisa, no mínimo, mais barato, pois ainda tinha alguns trocados. Ao chegar, o dono me falou que já tinha acabado o almoço. Seu funcionário não tinha ido e ele fez pouca comida. Uma pessoa me falou que estava tendo almoço grátis num salão, na esquina de cima. Fui lá, na caruda, e perguntei para uma moça, que estava na cozinha, quanto era o almoço, já sabendo que era 0800, e contei um pouco da minha história. Ela me falou que era gratuito, mas só para funcionários do município, pois era uma confraternização de fim de ano da prefeitura, mas eu poderia sentar e comer. Sentei à mesa um pouco mais tranquilo. Fui me servir e era um buffet de churrasco, com linguiça e carnes de porco e de boi, mais a mandioca, que não pode faltar nos churrascos do centro-oeste. Delícia! Ainda vi várias pessoas enchendo potes com comida para levar pra casa. Não pensei duas vezes e enchi meu pote de sorvete pra garantir a janta.

Depois do almoço, voltei para a bicicletaria, que ficava quase de frente para a loja, para continuar usando o wifi. Nesse momento, passou uma menina da loja, de onde eu estava usando o wi-fi, e falou para eu ir tomar banho de Rio no balneário municipal. Não sabia nem que tinha um balneário (como já estava tarde, e o sol estava quente, eu estava na dúvida se passaria a noite ali ou se iria embora. Resolvi então, tomar um banho de rio para relaxar e pensar melhor. O balneário é gratuito e muito bem arrumado. Possui uma área de camping, banheiros masculino e feminino com chuveiros, estacionamento, quadra de areia e brinquedos para crianças). Novamente estava no Rio Aquidauana. Barrento, correnteza forte e pedras, mas a água estava deliciosa, só que não para beber (quis confirmar se era, de fato, o rio Aquidauana e perguntei a um cara que também tomava banho lá. A resposta dele foi afirmativa, com o adicional do apelido "matador de turista", pela perigosa corrente que "vai e volta", talvez pela quantidade de pedras, formando vários redemoinhos e sendo cheio de buracos. Já não fazia um sol forte e minha vontade de ir embora aumentou). Às 16h15, saí do rio para aprontar minha viagem bem em cima da hora. Queria sair no máximo 16h30 (ainda sem muita noção de tempo de estrada). Só consegui sair às 16h50, exatamente quando começou a chover. A princípio, era uma garoa que dava pra enfrentar, então continuei. Duas quadras depois, ainda na cidade, uma pessoa que estava sentada na calçada com seus filhos me chamou, e falou que estava chovendo forte na estrada, e que era melhor eu ficar por aqui (principalmente porque era subida de serra). Esse cara era o Leonardo. Me aconselhou a dormir na rodoviária. Pensei bastante, pois a garoa havia passado (rodei um pouco pela cidade procurando opções de pouso: rodoviária, praça... Nada me parecia interessante. Na época eu não tinha barraca). Na rodoviária seria meio complicado, mas dava pra dar um jeito. Então, veio a chuva. Quase 50 minutos de água caindo.

Desisti, de vez, de ir embora e voltei para a cidade. Voltei ao wi-fi para passar o tempo. Conversando com minha família, minha mãe sugeriu de procurar alguma igreja para tentar hospedagem. Quando a chuva passou, fiz o que ela sugeriu. A primeira que tentei, foi uma católica grande de esquina que estava aberta. Conversei um pouco com o padre Fábio, contando minha história, que permitiu que eu passasse a noite. Abriu uma das salas de catequese, nos fundos da igreja, com ventilador, colchão e travesseiro. Ainda trouxe um outro pote de sorvete com comida, mais um copo de suco para minha janta, mesmo eu tendo falado que tinha comida. Ele disse pra guardar pra comer no dia seguinte.

Comi a comida e sobrou. Deixei minhas coisas na igreja e fui para a rodoviária tomar banho. No caminho, cruzei novamente com o Leonardo. Conversamos bastante e ele me deu uma cesta de feira, para eu acomodar a mochila no bagageiro, mais várias cordas (algumas, inclusive, que ele mesmo usou para amarrar a caixa ao bagageiro). Além de ficar mais fixa, vai me poupar todo o tempo de amarrar a mochila para prender direito. Só colocar dentro da cesta e pedalar. Fui até a rodoviária, mas o banheiro já estava fechado. Voltei para tomar banho de balde e cruzei com a Lauane, a menina da loja que me falou do balneário. Voltamos conversando um pouco e ela me falou que os vestiários do balneário ficam abertos de noite, nos fins de semana, por causa dos acampantes (precisei cortar rapidamente a conversa, porque todo o churrasco que eu comi neste dia estava gritando pra sair). Fui lá e tomei uma ducha gelada maravilhosa. Há males que vêm para o bem. Alguns. (Não. Eu não visitei os "zigurates").

2 comentários:

  1. Lucas, dizem que são muitos os adeptos do Zigurates, lá no Hostel se hospedagem alguns deles. Veja que entre subidas e banguela há muitos amigos. Um abraço

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  2. Lucas, dizem que são muitos os adeptos do Zigurates, lá no Hostel se hospedagem alguns deles. Veja que entre subidas e banguela há muitos amigos. Um abraço

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