Pesquisar este blog

segunda-feira, 15 de julho de 2024

Juscimeira Pt. 1

(Continuação do relato escrito em 18/09/2020). Sexta, 18. Parei num posto para perguntar se tinha caldo de cana e para ver se tinha algum lugar que eu poderia armar a barraca, mas foi uma dupla negativa. Sem caldo e sem lugar bom para acampar. Fiquei rodando pela cidade por alguns minutos, até parar numa bicicletaria, mas é impressionante como é difícil encontrar uma onde o dono tenha um mínimo de interesse e vontade de ajudar, nem que seja para indicar/recomendar trilhas ou local para acampar. Fiquei parado ali na frente, pensando no que iria fazer, quando fui convidado a tomar sorvete na sorveteria ao lado, por um senhor que estava acompanhado por umas 50 pessoas. Me convidou também para sentar e conversar e me deu mais um sorvete ainda. Me contou que era algo que faziam, o grupo dele, todo o mês: se reunir em algum lugar. Na conversa, me disse que é vereador de 4 mandatos na cidade, indo para o 5º. Também me falou que eu poderia ficar alguns dias na casa dele. 

Pouco depois de ter escurecido, começou a diminuir o grupo presente, até ficarem umas 10 pessoas apenas. Daí, começou a ter conversa de irem a uma lanchonete, que eu não sabia onde era. Do nada, o vereador levantou e foi embora, sem falar uma palavra. Acho que o convite para ficar na casa dele foi promessa de campanha. Já era perto das 20h e o jeito foi ir a um hotel. Estava louco para tomar um banho gelado e dormir, mas meus planos foram por água abaixo. Eu não sabia, mas Juscimeira é a "capital" mato-grossense das águas termais e todo o abastecimento de água da cidade é feito com água quente. O recepcionista do hotel me falou que eu tinha a opção de tomar banho quente, em um registro, e menos quente no outro. O jeito foi tomar um banho menos quente com água da caixa.

(Relato escrito em 23/09/2020) Sábado, 19. Tirei o dia para descansar e andar um pouco pela cidade. Nessa minha andança, notei que Juscimeira é uma cidade com muitos imóveis abandonados. Não sei se por causa da nova rodovia, que desviou o trânsito da cidade, mas parece estar morrendo. Passei por uma praça com quadra de basquete, pensei em voltar à tarde para ver se aparecia alguém para jogar e voltei para o hotel. Só lembrei de noite, quando saí para comer e nem fui à praça.

Domingo, 20. Saí de manhã em direção à Cachoeira do Prata, que fica a 15km da cidade. Saí às 7h30 de um dia nublado. O caminho é fácil, com poucas subidas fortes. O único trecho complicado é a subida após cruzar a ponte sobre o Rio São Lourenço, que é bem íngreme, esburacada e com areia, sendo impossível subir pedalando e igualmente difícil de descer. Não me perdi, por incrível que pareça. Obrigado placas de indicação do caminho. 

Um Tamanduá-mirim morto na estrada. Provavelmente, atropelado. Triste que o meu primeiro avistamento deste animal maravilhoso tenha sido desta forma

O céu cinza pela fumaça das queimadas

Um Carcará (Caracara Plancus) na beira da estrada

O Rio São Lourenço. É preciso cruzá-lo por uma ponte estreita para chegar à cachoeira. Logo após cruzá-lo, uma subida com um grau de inclinação muito elevado, que era impossível pedalar, seja na ida ou descendo na volta, pela quantidade de pedras, buracos e areia fofa

Pássaro-preto (Gnorimopsar Chopi)

O outro lado do rio São Lourenço


Quando cheguei, já peguei a primeira de várias trilhas para o rio, para dar um mergulho e relaxar. Fiquei alguns minutos e saí para ir à cachoeira, que fica uns 800m pra frente. Antes de chegar na cachoeira, o barulho das caixas de som dos automóveis de pessoas SEM NOÇÃO, já se fazia escutar. Eu já imaginava que poderia estar assim (por ser domingo), mas fui para tentar não gastar mais uma diária no hotel. Foi inútil. Ainda tentei ir para outro ponto de banho, mas não resolveu. Nem as árvores, nem a água E NEM MERGULHAR, abafavam o barulho. Não aguentei ficar 10 minutos. Era melhor voltar os 15km e pedalar mais 30km no dia seguinte, pagando mais uma diária no hotel, do que não ter paz. O jeito foi ficar assistindo aos jogos do domingo, que me fizeram esquecer, de novo, de ir à praça ver se tinha alguém jogando basquete. Pior quem quando saí para jantar, vi um cara indo embora da quadra com uma bola de basquete.

Continua no próximo post.

quinta-feira, 11 de julho de 2024

Fátima de São Lourenço

(Continuação do relato escrito em 18/09/2020) Quinta, 17. Acordei mais ou menos 5h30, como sempre que durmo na barraca e comecei a desmontá-la. A dona deixou eu guardar minhas coisas num salão vazio, onde eu vi várias tomadas para deixar meu celular carregando. Coloquei as coisas lá e fui tomar um café da manhã maravilhoso! Peguei algumas coisas para levar comigo para comer e parti em busca das cachoeiras. A primeira seria a Bom Jesus, a 24km de distância, sendo 20km de subida leve. Quando acabou a subida, peguei a primeira saída à direita, onde tinha um resquício de mata nativa no meio do descampado das lavouras. Pela minha mania de não marcar o caminho no GPS, fiquei meia hora rodando por entre os campos e nada de água. Voltei para a estrada e pedi informações para uma caminhonete que passava na hora. Me disse que ainda faltava uns 2km até sair para a cachoeira, mas não explicou direito e perguntei novamente numa indústria ou algo assim, que tinha mais à frente. Ali, me disseram onde descer e fui. Era uma grande descida, deu mais uns 2km descendo. Cheguei à uma ponte e parei logo depois dela. Sentei ali por algum tempo para comer e comecei a descer o rio, para chegar na cachoeira. Não andei muito tempo, uns 3min apenas, e cheguei num trecho onde o rio se abre e alarga. Nesta parte, estava a "cachoeira": era, na verdade, uma queda de não mais de 1m de altura, se é que chegava a tudo isso. Era bonita por ser larga e tinha força pelo volume de água, mesmo o rio sendo raso em toda a sua largura, com exceção de alguns buracos mais fundos, mas visíveis pela claridade da água, mesmo com o sol encoberto pela fumaça das queimadas. Andei um pouco por ali e pelo rio, mas a falta de local para banho, por ser tudo rocha, mais o lixo presente em abundância, fizeram com que eu logo me cansasse e fosse embora.

Não tenho certeza da espécie, mas acredito que seja uma fêmea de Choca-barrada (Thamnophilus Doliatus)

Benedito-de-testa-vermelha (Melanerpes Cruentatus) fêmea

Pato-do-mato (Cairina Moschata) macho

Casal de Araras-canindé (Ara Ararauna) em seu ninho

Chupim (Molothrus Bonariensis) macho

João-de-barro (Furnarius rufus)

Bem-te-vi-rajado (Myiodynastes Maculatus)

Chegada ao rio, próximo à ponte



A "cachoeira"


Urubu-de-cabeça-amarela (Cathartes Burrovianus)

Urubu-de-cabeça-amarela (Cathartes Burrovianus)

A volta, depois da subida de volta à estrada, foi super tranquila, por ser totalmente descida. Eu até forcei o pedal para variar um pouco e exercitar as pernas. Ao chegar na cidade, fui até à Cachoeira do Bispo. O pessoal do local havia me dito que estava fechada por causa da pandemia, por ser um casal de idosos que mora lá, mas que eu deveria tentar. Pois bem, tentei. E não consegui. O senhor não permitiu minha entrada, não importava o que eu falasse. O jeito foi voltar para onde estava acampando e fazer nada até a hora de dormir e ir embora. Só não foi um total desperdício pelas fotos e pelo café da manhã.

Sexta, 18. Dia de ir embora. Juntei todas as minhas coisas e aguardei o café da manhã, que só começava a ser servido às 8h. Comi bem, fiz minha marmita e coloquei o destino no GPS, para não me perder, pois sou craque nisso (quem me acompanha sabe). Principalmente porque eu iria pegar uma rota secundária, cortando caminho para Juscimeira. Saí tarde, às 10h15, por causa do horário do café da manhã e também pela quantidade de coisas gostosas que tinha (e também porque ainda tirei algumas fotos antes). Porém, não sofri muito, pois o sol ficou encoberto pela fumaça durante todos os 40km do trecho. E isso não era algo que agradava. Apesar de diminuir a força da luz solar, deixava o ar mais seco e difícil de respirar. Além do caminho perder sua beleza das cores da natureza.

Mutum-de-penacho (Crax Fasciolata) fêmea

Mutum-de-penacho (Crax Fasciolata) fêmea

Chora-chuva-preto (Monasa Nigrifons)

Na metade do caminho, cheguei à uma vila que, de acordo com o GPS e algumas placas, tinha um balneário com área de camping. Cheguei lá ao meio-dia, pensando em "desistir" do meu destino, que era Chapada dos Guimarães, por causa da fumaça. Passou pela minha cabeça inclusive voltar a Rondonópolis e pegar um ônibus para voltar a Rio Verde de Mato Grosso, para esperar as chuvas chegarem para apagar o fogo e esperar a fumaça passar, mas meu amigo Beto me falou que lá também estava com fumaça, além de os balneários estarem fechados pela pandemia, então desisti de desistir. Neste balneário, a mulher que me recebeu me falou que a água lá era termal, tendo apenas uma piscina de água fria. Não gosto de água termal e imaginei que, sendo fim de semana, logo iria lotar de gente e eu não estava a fim de ficar acompanhado de multidão alguma. Criei coragem e parti. Acabei pegando o caminho errado e desviei uns 4km, ida e volta, do caminho que deveria ter pegado. Eu aprendi a traçar a rota e ir seguindo, mas, de vez em quando, acontece uma rota errada.

Aproveitei o caminho errado para comer, o que se provou ter sido uma ótima escolha, pois, dos 20km que restavam no trajeto, 13 ou 14 deles foram subida, sendo que a primeira parte era muito íngreme, onde eu tive de empurrar a bicicleta por não conseguir pedalar, mas não por cansaço e sim pela inclinação mesmo. Depois desta primeira subida, o percurso se tornou "pedalável" e consegui dar ritmo, apesar de toda a cortina de fumaça que atrapalhava e muito. Quando cheguei ao asfalto, já estava perto da cidade. Vi no GPS que a rodovia passava pelo meio da cidade e que tinha uma outra que desviava para a direita. Logo avistei a placa que avisava que o retorno para Juscimeira estava 1000m à frente. Ali começou a minha saga para chegar à cidade. O que acontece é que a rodovia ali era nova e foi desviada para não mais passar por dentro da cidade e, esse desvio, era a tal rodovia que desviava para a direita no GPS, mas, até eu entender isso, eu fui e voltei umas 4 vezes na rodovia e ficava pensando "Mas já passou 1km, cadê esta cidade???". No sentido contrário ao que eu vim, tinha a mesma placa de "retorno a Juscimeira a 1000m" e isso só me confundiu ainda mais. "Como que tem retorno dos dois lados e não tem cidade no meio?????" Até que, FINALMENTE, eu vi a continuação da rodovia original, que me levaria à cidade. 2 ou 3km depois, lá estava a cidade escondida.

Continua no próximo post.

934km pedalados entre cidades.