(Relato escrito em 14/09/2020) Sábado, 12. Fiz mais ou menos o mesmo ritual de ontem: acordei, tirei fotos de pássaros, tomei café da manhã e fui para a trilha das cachoeiras. A diferença é que eu não levei a câmera para a trilha (queria só aproveitar a água) e logo encheu de gente. Outra diferença é que eu só banhei na última cachoeira, onde fui o primeiro do dia a chegar e fiquei aproveitando o silêncio enquanto podia, só sentado ouvindo a água cair. A última diferença é que eu vi algo que não tinha visto na sexta: uma árvore torta, em direção ao rio Ponte de Pedra, com uma corda amarrada nela para se balançar e cair na água. Fui até ela e tentei pegar a corda, mas fiquei com um pouco de medo e só pulei no rio. A correnteza é leve e, logo mais à frente, bem na direção da cachoeira no ponto de encontro dos rios, existem várias pedras, onde dá para se segurar e ficar em pé. Talvez na época cheia não seja possível, ou, pelo menos, não tão fácil.
Não tenho certeza da espécie
Canário-da-terra (Sicalis Flaveola)
Canário-da-terra (Sicalis Flaveola)
Arara-Canindé (Ara Ararauna)
Arara-Canindé (Ara Ararauna)
Curicaca (Theristicus Caudatus)
Arara-Canindé (Ara Ararauna)
Não tenho certeza da espécie
Depois de algumas horas, quando já tinha muita gente, subi de volta à pousada para o almoço, que também estava lotada. Mesma refeição no almoço e na janta de ontem: galinhada. Mas... Que delícia!!! A diferença é que, desta vez, tinha purê de batatas, porém era com maionese, que eu não gosto. Senti o cheiro na hora que ia pegar. Depois do almoço, fiquei fazendo hora novamente, na preguiça de descer para as cachoeiras. Tentei tirar um cochilo, mas estava assando um peru na minha barraca de tão quente e acabei desistindo logo que deitei. Só fui novamente para a primeira cachoeira no final da tarde. À noite, começou minha saga para procurar outro lugar para armar a barraca, pois estava ao lado de um quiosque onde um pessoal que chegou, estava fazendo churrasco e ouvindo música. O problema era que, em toda a parte, acontecia o mesmo. Acabei tendo de me mudar para um areão descampado, perto da casa da Márcia, mas que não tinha tanto barulho perto.
Domingo, 13. Mais um dia, mesmo ritual. Porém, neste dia, criei coragem para pegar a corda na árvore e balançar para cair na água, além de "aprender" a como pegá-la, observando outros fazerem-no. Nem preciso dizer que fui várias vezes. De novo, muita gente na cachoeira, mas eu não fui o primeiro a chegar lá. Tinha uma família quando cheguei, Aliás, eu fiz a trilha correta, passando por trás da cachoeira. Escorreguei e caí. Justo no dia que fui de shorts branco. Lá embaixo, após algum tempo, tirei uma foto da família (a pedido deles) e ganhei uma cerveja. E daí que são 8h da manhã? Toda hora é hora! Quando começou a lotar, fui embora. No almoço, a mesma galinhada, mas agora acompanhada de carne de porco assada. Mais delícia ainda!!!!! No fim da tarde, resolvi mudar o ritual e desci até à última cachoeira novamente. Fui meio correndo, fiz em meia hora a trilha toda, mais ou menos. Como a trilha estava sempre cheia de gente fazendo barulho, não diminuí o ritmo na Trilha do Silêncio. Fui me despedir, pois era a última chance que tinha de ir. Quando voltei, pouco antes de escurecer, já não tinha quase ninguém. Apenas um carro restava para ir. O Kauê (filho da Márcia), me falou que eles iriam para a cidade e não voltariam, então, deixaram uma marmita para minha janta e ainda fiz outra para levar no pedal de volta. No final, acabaram não indo para a cidade. E ainda chegou um outro carro para se hospedar.
Pica-pau-de-banda-branca (Dryocopus Lineatus)
Segunda, 14. Graças à família que chegou e ao fato de a Márcia não ter ido à cidade, teve café da manhã. Comi bem e, pra variar, fiquei enrolando e demorando para partir. Só fui sair às 8h15. O caminho na terra foi bem mais fácil do que na ida, porque, desta vez, eu não estava cansado. Mesmo assim, levei 3h para fazer os 30km na terra e chegar ao asfalto. Isso porque, na reta final, quase chegando à rodovia, eu deixei um caminhão para trás. E não estou exagerando, deixei mesmo. Passei dele e fui embora. Quando cheguei à rodovia, parei embaixo do viaduto de retorno que eu peguei para ir à cidade para descansar, beber água e renovar as forças com a milagrosa maravilha das especiarias culinárias brasileiras: paçoca! E eu conheci uma nova, feita com açúcar mascavo. Não muda nada no sabor e é mais saudável, além de não esfarelar com tanta facilidade, o que é ótimo para mim que as carrego na bagagem. Pedalei mais 1km e parei no posto Ursão. Não lembrava que era tão perto. O Junior tinha me falado de uma outra cachoeira, que ficava atrás do post e levava o mesmo nome. Perguntei para um frentista como fazia para chegar. Ele começou a me explicar e virou para o lado onde eu deveria ir, ficando de costas para mim e continuou falando. Usando máscara, falando de costas e com carros e caminhões, tanto parados no posto, como passando na BR, eu não ouvi absolutamente nada que ele falou. Quando ele terminou, que virou para mim, eu apenas agradeci e fui perguntar a outra pessoa. A primeira não sabia, mas um cara ouviu e me explicou. Eu deveria voltar para a BR, no sentido que vim e pegar a 1ª à direita, seguindo dali. Então, fui. A primeira à direita que vi, estava fechada por um monte de terra e a segunda era a estrada que me levaria de volta à Carimã. Resolvi perguntar na borracharia ao lado do retorno. O cara me explicou um pouco melhor e disse que era ali naquele monte de terra mesmo que eu deveria entrar. As pessoas que explicam o caminho deveriam saber que, quem pergunta, é porque não conhece, então não adianta falar nomes. Mas enfim... Ele me disse também para tomar cuidado, pois ali era uma reserva ambiental que o IBAMA fiscaliza regularmente e que tem Sucuri e Onça-pintada.
Entrei no monte de terra, que tinha uma passagem para bike - pelo tamanho, não pela autorização - e comecei a minha caça à cachoeira no meio da lavoura. Mas, é claro, eu errei o caminho! Cheguei a uma casa e perguntei pela cachoeira. Eu deveria voltar tudo, 3km, e seguir no outro sentido. E lá fui eu. Vale dizer que eu não ouvia música e pedalava bem devagar, tanto pela areia em alguns pontos, como porque eu olhava mais para a mata ao meu redor, do que para o caminho à minha frente. Ouvindo e observando qualquer movimentação. Achei uma trilha e a peguei, mas não dava em lugar algum. Voltei e continuei do mesmo jeito: devagar e atento, também para o barulho de água caindo. Mais para a frente, achei uma trilha mais larga e desci por ela. E era descida mesmo, mas a mão no freio apertado o tempo todo, para fazer o mínimo de barulho (estava morrendo de medo, reconheço. Tanto das onças, como de alguém me pegar naquelas terras de área preservada). Desci em torno de 2km, até um veio d'água cruzar a estrada e nada da cachoeira. Já passava do meio dia, mais de uma hora rodando, procurando por ela num lugar habitado por onças-pintadas, eu com fome e carregando uma marmita que, se já não estivesse azeda, atrairia as onças pelo cheiro. Então, desisti da cachoeira e fui embora.
Continua no próximo post.
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