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quinta-feira, 19 de março de 2020

Desbravando o Pantanal sul-matogrossense, parte 2/6

Quando fui de mudança para Campo Grande, passei alguns dias na casa da mulher que conheci, como disse anteriormente; ela tinha feito uma cirurgia e eu precisava de um lugar para ficar alguns dias, então nos ajudamos, se bem que ela me ajudou mais do que eu a ajudei. Após alguns dias lá, quando ela já estava um pouco melhor, fui para o Hostel Orla Morena, onde já tinha me hospedado por duas vezes, até decidir o que iria fazer. Acabei "morando" 1 mês lá. Neste tempo que fiquei lá, conheci muita gente que por lá passou, conversei com várias pessoas e me aproximei mais da dona do hostel e dos seus "meninos".

Comecei a enviar currículos para as agências da cidade, oferecendo serviço de intérprete de inglês ou como agente mesmo, enquanto não aparecia outro trabalho para fazer. Depois de vários meses é que fui ver que meu número de telefone estava errado no currículo. Nunca vou saber quantos tentaram entrar em contato comigo para me contratar...

O pessoal do hostel estava começando a planejar abrir uma agência de turismo junto ao serviço de hospedagem que já era oferecido; eles já tinham vários contatos de motoristas, agentes e guias que faziam Pantanal e Bonito, e foram amadurecendo a ideia enquanto eu estava lá. Em um certo dia de Agosto, a Helena (dona do Hostel e minha amiga), me disse que estava indo ao Pantanal visitar algumas fazendas para fazer contato e apresentar a nova agência e me convidou para ir junto. OBVIAMENTE eu aceitei. Visitar fazendas no Pantanal e fazer passeios de graça é tudo aquilo que eu buscava nos empregos que procurava. Precisei pagar apenas a van de ida, na volta... Depois eu falo.

Chegou o dia de irmos, e a van estava marcada para chegar às 10h. Estava fazendo um friozinho de fim de inverno em Campo Grande, por volta dos 14 ou 16ºC. Eu arrumava minha mala quando, às 9:30, fui avisado de que a van havia chegado. Comecei a jogar tudo dentro da mochila com pressa e corri para não perder minha chance, pois a van não podia esperar, pois ainda tinha algumas pessoas que precisava buscar. Chegamos no "Buraco das Piranhas", ponto de encontro das vans de transporte com os transportes das fazendas turísticas por volta das 13h. Estava com fome e frio. A temperatura lá estava mais baixa, fazia uns 10ºC. Comecei a procurar na mochila pela minha blusa e não a achei; na pressa de colocar tudo na mochila e sair correndo para a van, a blusa ficou em cima da cama. Iria enfrentar 4 dias e 3 noites no frio pantaneiro sem blusa!!! O jeito foi me enrolar na toalha (como diz o Guia do mochileiro das galáxias, toalha é item indispensável para qualquer mochileiro). Serviu por algum tempo, mas não por muito.

Quando chegou a hora de embarcarmos no transporte para a nossa primeira parada, foi uma alegria dupla, pois estava indo para o Pantanal novamente, e desta vez mais para dentro do que da primeira, e iria sair do frio. Nossa primeira parada foi a Pousada Jungle Lodge. Para isso, pegamos a Estrada Parque (que corta o Pantanal quase por inteiro e é onde estão localizadas grande parte das fazendas turísticas) e o começo do caminho já é uma maravilha. Passamos por algumas pontes pequenas com alguns alagados ao lado da estrada com vários tipos de pássaros, jacarés, capivaras e outros animais. Cruzamos em seguida a ponte sobre o Rio Miranda, primeiro grande rio da região. Ponte alta pois grandes barcos passam por ali. Logo após a ponte, viramos a direita rumo ao nosso destino.

A Pousada Jungle Lodge é um local de hospedagem com quartos compartilhados e individuais, construído em palafitas na beira do Rio Miranda. Como fomos no final do inverno, estávamos no meio da temporada seca, e o rio estava um pouco afastado do hotel, mas em época de cheia do rio ele sobe muito, por isso a pousada foi construído em palafitas. Chegamos na pousada e fomos nos apresentar ao contato da Helena que já estava sabendo de nossa chegada. Eu ainda estava enrolado em minha toalha, o que não estava resolvendo muito pois lá era ainda mais frio graças ao vento que vinha do rio. Tomei algumas doses de cachaça grátis para ver se esquentava, mas também não foi efetivo. Quando fomos ao nosso quarto, o jeito foi pegar o cobertor e me enrolar nele, mas somente pensei nisto após a primeira atividade, que foi a pesca esportiva de piranhas.

Vista da ponte sobre o rio Miranda na Estrada Parque

Quarto que ficamos hospedados



Sobrevivendo ao frio antes de pensar em pegar o cobertor para me enrolar

Depois da pesca, ficamos algum tempo sem fazer nada, só sentados no restaurante pelo frio que fazia. Lá eu acabei conhecendo uma baiana que não é mochileira, mas tem um coração cigano, e já morou em vários lugares. Estava lá junto do filho. Por incrível que pareça, ela morava em Bonito e tinha dois amigos em comum comigo. Foi preciso eu sair de Bonito para conhecê-la no Pantanal... Coisas da vida. Ela já estava lá fazia alguns dias então não iria fazer os mesmos passeios que nós. Ela me disse que trabalhava em um hostel/agência mas também vendia os passeios por conta própria e tinha um Airbnb em sua casa. Estava lá no Pantanal graças aos contatos de agente que possuía.

Tomando as cachaça enrolado no cobertor

O nosso segundo passeio foi focagem noturna no rio Miranda. Saímos às 19h após a janta e fomos descendo o rio, para a direita da pousada. Estava muito frio e acabamos não vendo quase nada, apenas uma capivara aqui e um jacaré ali. Minha nova conhecida bonitense fez o mesmo passeio um dia antes e avistou uma onça descansando numa árvore seca que se estendia por cima do rio. Eu não dou sorte mesmo!

No dia seguinte, após um café da manhã delicioso, fomos fazer outro passeio no rio, mas desta vez subimos o rio, indo para o lado esquerdo da pousada. O passeio foi dividido em duas etapas: a ida, com seus desvios, e a volta com seus desvios. Na ida, entramos no rio negro, que deságua no Miranda, que foi onde vimos o único animal "diferente" das capivaras e jacarés, uma ariranha. Ela estava saindo da água para entrar na mata, então foi muito rápido e não consegui uma boa foto dela, apenas ela subindo a encosta. Na volta, subimos um pouco mais o rio Miranda até uma curva que ele faz. Infelizmente, não avistamos nenhum animal a não ser as capivaras e jacarés costumeiros. Eu digo isso excluindo as aves, pois são muitas e não as conheço a ponto de identificar cada uma. Falo apenas dos animais terrestres ou anfíbios.

Eu no frio e as duas alemãs companheiras de passeio atrás, com nosso guia ao fundo. 

A ariranha (mais ou menos) avistada

Retornamos então à pousada para arrumar nossas malas, almoçar e partirmos para a próxima fazenda, que vou contar no próximo post.

Saldo da visita: frio, cachaça, pescaria frustrada, focagem noturna de capivaras e jacarés, duas pessoas novas, uma ariranha, mais frio e uma bermuda rasgada que ficou por lá mesmo. Mas valeu a pena.

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