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terça-feira, 21 de julho de 2020

Um final que poderia ter sido evitado

Este final de semana, pude voltar a pedalar longas distâncias. Fui para uma cidade vizinha de onde estou (eu precisava viajar, manter a tradição de viajar nesta data) e passeei em dois balneários. Foram momentos agradáveis de sentimento profundo e recarga das energias. Mas, fica para um post futuro, pois hoje vou falar do que aconteceu em Rio Negro, após os primeiros momentos relatados no post anterior. No clima da data, segue o post. Só para lembrar, o que está entre parênteses é comentário de hoje.

26/12/18: Hoje eu vou fazer diferente: começarei pelo fim. Pela primeira vez, em muito tempo, estou me sentindo sozinho e sofrendo com isso. Eu sempre tinha algo para me distrair: um filme, seriado, jogo, música, alguém pra conversar, piscina ou só dar um rolê. Tirando piscina, filme e alguém para conversar, eu até tenho as outras opções. Nem conversar online dá, porque não tem wi-fi, nem sinal na cidade. Eu estava, inclusive, assistindo seriado, mas me cansou. Me fez pensar e avaliar o que eu estou fazendo. A viagem não me trará felicidade. As cachoeiras também não. Eu preciso de uma companhia, mas não acho que vou encontrá-la aqui. Porém, também não quero voltar para São Paulo ou Campo Grande. Aqui, talvez, eu consiga me distrair com um emprego e voltar a ter internet e meu notebook. Mas, o que eu quero mesmo, é uma companheira. Tendo alguém ao meu lado, não preciso de mais nada. Eu disse que iria começar pelo fim, mas encerro por aqui o dia de hoje.

(O dono tinha viajado para Santa Catarina de férias e o balneário estava fechado. O sócio dele, a quem eu ainda não havia conhecido, iria aparecer por lá algum dia, que eu não sabia quando. Estava numa cidade que eu não conhecia ninguém, a não ser o Márcio. O balneário estava fechado, a cachoeira mais famosa da cidade interditada, tudo fechado numa minúscula cidade do interior do Mato Grosso do Sul, inclusive os outros balneários... O tédio me absorvia. Eu acabei me deixando envolver pelos planos do dono e pela hospedagem gratuita. Estava no começo da minha viagem e já estava colecionando erros e comodismos. O sócio chegou na cidade no dia seguinte, dia 27. Tinha uma personalidade totalmente diferente da do dono. Muito escrachado, piadista, arrogante e com pouca verdade. Eu nunca sabia se ele estava falando a verdade, se mentia ou se brincava. Ele foi para lá com um amigo que iria ajudá-lo a fazer as coisas que precisavam ser feitas: pintar, carpinar, limpar... Enfim, serviços gerais. Levou também um outro amigo, pedreiro, para construir um quarto atrás da lanchonete. Nós acabamos trabalhando muito pouco. Ficávamos a maior parte do tempo jogando sinuca e tomando banho de rio. Fora os churrascos que ele fazia. Levou um monte de gente da família para passar o fim de ano. Eu não ia muito com a cara do sócio. Não sentia credibilidade em nada do que ele falava. E isso só se confirmou quando ele me falou de um outro balneário ali perto, que eu só fui descobrir que não existia depois de pedalar quase 2h. Já estava quase chegando no Pantanal.)

02/01/2019: Pouca coisa aconteceu até o dia 30/12. Muito tédio, alguns filmes e seriados. No dia 30, família e amigos do sócio chegaram para a virada do ano. Muito churrasco, cerveja, sinuca, truco e banhos de rio e cachoeira. Eu até dormi lá com eles nos dias 31/12 e 01/01. Hoje, o pessoal foi embora e voltei para o quarto na cidade. Hoje também bateu a saudade da minha esposa. Depois de algum tempo, lágrimas rolaram. Me lembrei de como ela cobria a cabeça, principalmente as orelhas, para dormir, para não ser incomodada por pernilongos ou qualquer outro inseto. Daí, o pensamento voltou, como sempre volta, ao hospital. E aos acontecimentos do dia 23/02/16. Eu deveria ter quebrado alguma coisa. Me falta um surto. É uma merda ser controlado e segurar a raiva aqui dentro. Mas, não vou descontar em quem não merece. E quem merece está ausente e inalcançável. Não tem "feliz" ano novo.

05/01/19: Hoje, creio que foi o dia decisivo para que eu vá embora. O dono voltou de viagem e foi ao balneário. Estávamos limpando a beira do rio, que estava cheia de galhos trazidos pelas chuvas que encheram o rio. O sócio disse para juntar tudo e fazer uma fogueira. Fui contra, mas ele disse que faria mesmo assim. Juntei a contragosto, mas ele disse que a fogueira seria na pedra, o que causaria pouco impacto e seria fácil de controlar. Algum tempo depois, fez outra fogueira ao pé de uma árvore. Nisso, eu parei de juntar e fui dar uma volta para me acalmar. Quando voltei, os vi tacarem gasolina em uma árvore meio seca que crescia na pedra e pendia para dentro do rio por não ter raízes fortes e tacarem fogo logo em seguida. Eu me segurei para não explodir, mas questionei novamente. A resposta que obtive do sócio foi: "Você é do Ibama?". Então, subi e abandonei o serviço, pois seria inútil discutir. Acabei pegando no sono na rede. A noite chegou e eles subiram do rio. Me perguntaram o que foi e eu respondi que não concordava com nada que foi feito. O sócio ficou com raiva, disse que eu não era sócio, nem nada, e eu me calei novamente. Depois, ele veio me pedir desculpa, mas ficou muito claro que meu valor é nulo. Amanhã (domingo) vou jogar bola de manhã e ir à uma outra cachoeira em seguida. Segunda eu parto daqui.

06/01/19: Não joguei bola, não fui à cachoeira interditada e também não fui à outra cachoeira, que o Márcio me falou que o dono da propriedade recebe banhista na bala. Fiquei o dia todo na internet. No horário do almoço, o dono veio buscar a tia para almoçar no balneário e nem fez menção de me chamar. Só falou comigo para que eu devolvesse a camisa do balneário que ele tinha me dado para usar enquanto trabalhava lá com eles. Falou numa boa. Meio envergonhado, mas numa boa. Porém, só reafirmou que devo partir. À noite, veio me dizer que o clima tá ruim, que a tia (irmã da dona da casa que estava hospedado) não me quer aqui. Disse que eu sou cachaceiro, que fico no bar o dia todo (o que não deixa de ser verdade, porque era o único lugar que eu conseguia wi-fi, porém, nem cerveja eu bebia, quanto mais cachaça, que eu nem gosto. No máximo, um suco aqui e ali. Só é permitido ser "cachaceiro" quando você conhece a pessoa, como no caso do sócio do dono, que era amigo da família e a própria tia dele, que bebia todo dia, mas, como era dentro de casa, tava liberado). Assim, chegou ao fim minha estada prolongada (desnecessariamente) em Rio Negro: melancolicamente.

(Pra alegrar um pouco este post depressivo, algumas fotos de pôr-do-sol de Rio Negro)


2 comentários:

  1. O choro faz parte, acompanha a dor e alivia. Um dia o amor ressurge, a dor se vai e ameniza o sofrimento.

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