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sábado, 13 de junho de 2020

Desbravando o Pantanal sul-matogrossense, parte 6/6

Minha última visita ao Pantanal sul-matogrossense (em fazendas turísticas) se deu "por acaso". Quando eu ainda trabalhava na agência em Bonito, havia uma pousada pantaneira que era conhecida por ser visitada apenas pela "chefia", dado o alto valor da diária, que é a Pousada Caiman. Quem acompanha meu blog sabe que, em Campo Grande, eu conheci uma guia no Pantanal, exatamente nesta fazenda.

A Caiman é uma enorme fazenda, na cidade de Miranda, de propriedade da família Klabin, a mesma das indústrias de produtos de papel. Ela possui 4 "bases": duas hospedagens para turistas, a casa do dono, que é uma vila na verdade, com várias casas e que também pode virar acomodação dependendo de quem for o visitante (algum sheik do petróleo ou alguém assim) e a "vila" dos funcionários. Da portaria até a "base" mais distante são mais ou menos 18km.

Uma das pousadas, a principal da fazenda

Quando eu voltava do meu último serviço de intérprete com o casal suíço, a tal guia pantaneira me perguntou se eu queria ir visitá-la. Só a possibilidade de visitar o Pantanal mais uma vez, já me era interessante, sendo a Caiman, era um bônus. Eu iria conhecer a pousada que só gente muito rica (ou gringo médio, mas que tem 6x mais dinheiro que nós na cotação atual) tem condições de ir. Aceitei o convite. E também, claro, a chance de revê-la. Pra melhorar tudo, no dia seguinte, às 7h da manhã, um táxi aéreo (avião pequeno de aluguel), iria sair de Campo Grande para buscar um casal na fazenda e levá-los de volta à capital para pegarem um vôo de volta a seu país de origem e ela conseguiu que eu pegasse carona de ida no avião. Minha volta, depois a gente iria ver como seria.

Cheguei, então, na casa que havia alugado, onde havia apenas deixado minhas coisas e já saído para o serviço e me apresentei aos outros moradores, coisa que não tinha feito ainda, não os conhecia, só a dona. Mas só deu tempo disso mesmo, pois só dormi e já saí as 6:30 em direção ao aeroporto pegar meu vôo em direção ao pantanal.

No aeroporto, eu fui informado que eu deveria ir até um hangar ao lado do saguão principal. Me dirigi até o hangar e encontrei o portão trancado, que ficava bem distante da porta, sendo do outro lado do estacionamento. Com muita dificuldade consegui decifrar o número telefônico do pessoal do hangar, escrito acima da porta, do outro lado do estacionamento, dando o máximo de zoom na câmera do celular e também na foto depois. Liguei e a pessoa (com uma voz de que havia sido acordada) me disse que o vôo tinha sido cancelado, devido a mau tempo. Mandei mensagem pra minha amiga na fazenda, mas ela me falou que ninguém tinha dito nada lá, que o vôo ainda estava agendado.

Voltei ao saguão pra ver se descobria alguma coisa, mas ninguém sabia dizer nada. Fui novamente ao hangar e, então, estava com o portão aberto. Isso já era mais ou menos 7:30. Entrei, atravessei o estacionamento, abri a porta e a recepção estava vazia. Chamei, bati, nada. Até que ouvi algumas vozes vindo de trás da recepção, dentro do hangar. Resolvi entrar e falei com o rapaz que eu iria pegar um vôo. Ele disse "Ah, é você?" e saiu correndo, pois o piloto já estava dentro do avião, prestes a decolar. Já com o motor ligado, conseguimos chamar sua atenção pelo parabrisa e, assim, entrei no pequeno veículo voador com destino ao pantanal.

O piloto era um senhor por volta dos 60 anos. O que tinha de experiência, tinha em reflexos lentos. Cabiam 4 pessoas apenas, fora piloto e copiloto, mas ele estava sozinho. A viagem foi tranquila, com exceção de um trecho onde pegamos vento forte e o avião chacoalhou até meu cabelo cortado na máquina 2. Já estava fazendo minhas preces de arrependimento quando acabaram os "buracos na pista" e voltou a ir suavemente. Nesta hora, o piloto olhou pra mim e falou com um sorriso: "balançou um pouco aí?". Minha alma voltou ao corpo após alguns segundos e respondi que só um pouco, nada demais. O resto da viagem foi tranquila.


Vista maravilhosa

Chegamos na fazenda por volta das 9:30. O casal já estava ao lado da pista aguardando, mas nada da minha anfitriã. Logo a avistei caminhando rapidamente e fui ao seu encontro. Ela ainda estava a trabalho, mas um tipo de trabalho diferente, não com a incumbência de guiar, então, estava com os horários mais flexíveis e teria uma folga no dia seguinte. A primeira coisa que fizemos foi, como normalmente acontece em minha vida, um tanto irônica: arrumamos o restaurante dos funcionários para uma palestra sobre DSTs, que na verdade tem outro nome agora, mas eu não lembro qual é. Assistimos a palestra com um leve desconforto, mas sobrevivemos.

Eu deveria pagar uma taxa ambiental de R$100,00, mas eu tenho minhas dúvidas de pra onde esse dinheiro foi encaminhado, pois em nenhuma outra fazenda tinha esta taxa. Mas paguei, já estava lá mesmo (e já sabia também). Após a palestra, arrumamos, novamente, o restaurante para o almoço.

Depois do almoço, a acompanhei no serviço, que era basicamente dirigir pela fazenda levando uma coisa ou outra, buscando uma pessoa ou outra. Assim, conheci uma das pousadas, tomei um suco de abacaxi batido na hora, comi umas bolachinhas e ainda vi alguns animais. Um grupo de quatis, vários pássaros, jacarés...

Na recepção da fazenda

Revoada de pássaros, foto mais pantaneira que esta impossível

Quati fotogênico

Conheci algumas amigas dela, à noite, pouco antes de irmos dormir, ficamos conversando um pouco. Também jogamos alguma coisa, mas não lembro o que.

No dia seguinte ela estava de folga, então pudemos passear melhor. De manhã, andamos um pouco ali por perto, onde ela me apresentou para o pessoal do projeto Onçafari, que trabalha na preservação e conscientização sobre onças pintadas. Depois, fomos até a lagoa e fizemos um passeio de canoa. Eu controlei todos os meus desejos de virar a canoa, devido à presença de animaizinhos amigáveis, como jacarés e sucuris. Em um determinado momento do passeio, ouvimos um barulho que, de acordo com ela, que entende MUITO mais do que eu, poderia ser de onça. Ficamos em silêncio, procurando, mas não vimos nada. Voltamos e fizemos nosso almoço, ela estava a fim de cozinhar comigo e fomos para a cozinha do alojamento. Como ela é vegetariana, eu tinha levado alguns bifes pra eu poder comer.

Casal de Tuiuiús caçando

À tarde, pegamos algumas bicicletas da pousada e demos uma pedalada pela fazenda. Fomos até a portaria de entrada, onde moram o porteiro e sua família. Jogamos uma sinuca com ele. Aliás, tomamos uma surra. Jogar contra o dono da mesa, nunca é uma boa ideia. Na volta, no final da tarde, cruzamos com várias araras e um tamanduá bandeira.

Fim de tarde de um dia maravilhoso

Voltamos para a vila dos funcionários para jantar e curtirmos o fim do dia, mas ainda tinha uma outra surpresa reservada pra mim: um lobinho (raposa) cruzou nosso caminho. Eu nunca havia visto um e me deu vontade de levar pra casa. Que lindo animal!!! Não consegui, mais uma vez, ver onça, mas vi um lobinho que também era novidade para mim, então, já valeu.

Tudo que consegui capturar do lobinho com minha pobre câmera de celular sem luz no meio do mato

No outro dia, ela voltou ao trabalho e precisei ir embora. E ainda voltei de carro, acreditam no ultraje??? Absurdo!!! Já tava ficando acostumado a viajar de avião e ter uma guia exclusiva. Hahahaha. Novamente peguei carona, mas desta vez com um motorista que estava voltando a Campo Grande. Terminaram, assim, minhas aventuras no pantanal, pelo menos as em território pantaneiro "selvagem" (apesar de levemente domesticado), pois eu ainda voltaria a território pantaneiro, porém em perímetro urbano. Até a próxima.

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