No ano de 2020, enquanto eu morava em Primavera do Leste-MT, em uma das minhas pausas na viagem para trabalhar e juntar uma grana pra seguir pedalando pelas estradas do cerrado brasileiro, eu fiz amizade com uma garota, que já comentei por aqui (neste post https://pedaladordehistorias.blogspot.com/2021/08/explorando-primavera-do-leste-parte-2.html ) e ela me recomendou conhecer a cidade vizinha, chamada Paranatinga. Me falou que tem lindos balneários lá e que eu deveria conhecer em algum momento. O único problema, é que é uma cidade localizada ao norte de Primavera do Leste e o meu caminho me levaria ao sul. Porém, como todos os anos, desde 2014, eu tenho uma tradição de viajar no meio de Julho, eu conversei com o pessoal da escola para me liberar por alguns dias para que eu pudesse ir e eles permitiram.
Assim sendo, no dia 17/07, sexta, fui à rodoviária de Primavera do Leste com destino a Paranatinga. A ida foi tranquila, consegui levar a Frankenstina sem maiores problemas. Cheguei lá por volta das 20h e comecei a rodar a cidade em busca de um lugar para ficar (eu não considerei a possibilidade de acampar, fazia pouco tempo que tinha a barraca, não estava acostumado a isso). Eu rodei por algum tempo procurando um hotel barato e achei um. Porém, o hotel era bem estranho, com os quartos do lado de fora do hotel, sem banheiro no quarto e sem café da manhã, e aí eu continuei procurando. Fui para o outro lado da cidade, o que não é muito longe, e vi um que tinha uma diferença de 5 ou 10 reais e que os quartos eram mais privativos, eu teria um lugar para guardar a Frankenstina, o banheiro era dentro do quarto e tinha café da manhã. Nisso, já eram quase 22h. Deixei as coisas no quarto e fui para a praça central comer alguma coisa.
No dia 18, sábado, acordei cedo para tomar o café da manhã e pedalar os 20km, em estrada de terra, até o Balneário do Ito. Porém, como sempre, fiquei enrolando e acabei saindo por volta das 9h. O meu pouco conhecimento de fotografia e de fauna e seu comportamento, me prejudicou várias vezes, pois eu não sabia que os animais se escondem/se recolhem nos horários próximos ao meio-dia. Além de eu pedalar com o sol forte, a possibilidade de ver animais diminuía muito. Porém, o caminho foi interessante e a vista foi bonita mesmo assim. O cerrado que, à primeira vista, parece ser um bioma feio por não ter árvores altas, vistosas e com muitas folhas, tem seus encantos e belezas, que acabaram por me conquistar.
A mata pouco ou nada intocada me fascina
O caminho, apesar de meio cansativo pelo sol, pela seca da época, onde fazia já uns 2 meses que não chovia e, mesmo com tanta, terra/poeira, foi bom e tranquilo. Cheguei ao balneário perto do meio dia, já com fome, mas com muito mais vontade de mergulhar no rio do que de comer. Mesmo sendo sábado, não haviam muitas pessoas no local, o que para mim é ótimo. O rio não é fundo, muito pelo contrário, é bem raso, com exceção de um ponto específico, que chegava a mais ou menos 2m ou 2,5m. Por ser bem raso e com a água bem cristalina, era muito fácil ver os peixes. Aliás, estes são um dos atrativos do local: o cardume de Matrinxãs, que fica rondando os arredores do balneário, esperando por comida dos turistas (algo que eu aprendi não ser um ato saudável). Depois de passar alguns minutos descansando e resfriando dentro da água, saí para comer o que tinha levado.
Água bem tranquila e rasa, boa para crianças
Matrinxãs
Parte mais escura, onde era mais fundo
Não tinha muito mais para ver neste local, pra cima ou pra baixo do rio. Então acabei apenas ficando por ali, descansando, tomando banho, deitando na sombra das árvores... Uma tarde relaxante. Pelo menos até a hora de ir embora, pois ainda tinha 20km para pedalar. Saí de lá pouco antes das 16h para chegar na cidade antes do anoitecer. Não gosto muito de pedalar à noite e, na época, não tinha lanternas boas para isso. A volta foi tranquila, assim como a ida, aproveitando a paisagem marrom da poeira que o vento espalha pela baixa umidade e ausência de chuvas. Ao chegar na cidade, tomei um banho no hotel e saí para comer, novamente na praça, mas em outro restaurante desta vez. Uma amiga de Primavera disse que estava lá, mas não conseguimos nos comunicar direito e acabamos não nos encontrando.
Curicacas (Theristicus caudatus) garantindo sua janta no caminho de volta
No domingo, 19, foi a vez de ir a outro balneário. Desta vez, eu fui ao Balneário Vale da benção, que fica um pouco depois do Balneário do Ito, coisa de 1km entre eles. Como eu já conhecia o caminho, fiquei mais ainda na enrolação e saí ainda mais tarde. Fui chegar ao balneário perto das 13h. Mas eu acho que isso também se deve ao fato de que eu fico entediado logo. Tanto pela data, que me é pesada, quanto pela falta de companhia, de ter alguém pra conversar, dividir e passar o tempo junto. Sendo assim, eu fico adiando para poder aproveitar ao máximo aquele tempo ali e ir embora satisfeito, antes de ficar maçante. O problema, neste dia, foi que o Vale da Benção é mais legal e maior que o do Ito. Tem até uma quedinha d'água. Logo que cheguei, tinha uma família enorme almoçando próximo da entrada. Eles ficaram meio abismados/surpresos de ver alguém chegando lá de bicicleta naquele horário de sol a pico e me convidaram para almoçar com eles. Foi uma delícia. Falei que iria dar um mergulho para relaxar e logo me juntaria a eles.
Depois de almoçar com eles, voltei ao rio e comecei a andar pelo balneário. Cheguei até à quedinha, um pouco mais acima no rio e fiquei por ali algum tempo, descansando, tirando fotos, apreciando o barulho da água caindo e longe do barulho de vozes e músicas que rolavam no local. Só não dava para nadar muito, pois não tinha profundidade nesta quedinha. Muita pedra para sentar e receber uma massagem, mas nenhum ponto mais fundo.
De costas para a quedinha
Já na base da queda
A quedinha. Pequena, como falei, mas gostosa
Ariramba-de-cauda-ruiva (Galbula ruficauda)
Quando voltei para a frente do balneário, havia uma família de Patos-do-mato, mãe com filhotes, desfilando pelas águas. Lá pelas 15h30, 16h, ouvi o alarme disparando para ir embora: as Siriemas começaram a cantar e eu levantei para juntar minhas coisas e partir de volta para a cidade, para chegar, ou tentar, pelo menos, antes de escurecer. O pessoal que me ofereceu o almoço falou que tava cedo, mas eu ainda tinha alguns quilômetros para pedalar e não gosto de pedalar à noite. Ou, não gostava. Eu não possuía lanternas boas o suficiente para tal e sempre procurava já estar na cidade antes de escurecer, o que consegui. E ainda tive um presente no caminho de volta, que foi o pôr-do-sol em um lugar muito privilegiado para a vista, já próximo à cidade, onde haviam algumas construções que pareciam como o início de um novo bairro ou condomínio. Depois de voltar a Primavera do Leste, fiquei sabendo que o dono da escola havia ido para lá também, para pescar na região, e tinha me visto indo ao balneário, enquanto ele voltava para sua casa e achou que eu estava voltando também.
Pato-do-mato (Cairina moschata)
Pipira-vermelha (Ramphocelus carbo)
O presente que recebi
Assim se encerra mais um 19/07
Na volta, o motorista do ônibus quis encrencar com a Frankenstina. Reclamou, disse que não levaria, brigou... Até que ele falou que se eu desmontasse, talvez ele levasse. Desmontei em menos de 5 minutos, coloquei ela no bagageiro e subi no ônibus. No meio do caminho, ele fez uma parada. Ao voltar ao ônibus, me perguntou sobre minha passagem, sendo que eu nem havia descido do ônibus. Isso nunca havia acontecido em nenhuma viagem que fiz, nem comigo, nem com ninguém. O máximo que acontece é alguém contar os passageiros. O problema é que, em um momento de raiva, eu havia jogado fora o bilhete, o que eu sei que não se deve fazer. Falei pra ele que havia jogado fora, ele ficou absolutamente irritado, disse que não deveria ter feito isso, que eu deveria manter o bilhete até a minha parada final e eu disse que poderia procurar no lixo onde havia jogado, dentro do ônibus, para entregar pra ele. Assim o fiz, achei e entreguei pra ele. Quando ele pegou, se virou para seu assento para seguir viagem. Aí foi minha vez de ficar absolutamente irritado e perguntar pra ele porque ele havia pedido para conferir apenas o meu bilhete em um ônibus com mais de 30 passageiros e ameacei processá-lo por discriminação. Depois de um bate-boca acalorado, a viagem seguiu. Chegamos em Primavera, peguei a Frankenstina, montei ela novamente e fui embora, desejando nunca mais ver aquele cara na minha frente.
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