(Continuação do relato escrito em 30/08/2020) Domingo 30. IRIA!!! Acordei cedo, desmontei a barraca, carreguei a Frankenstina e parti às 7h30. O guia que eu tinha conversado, me explicou como fazia para chegar e eu estava com as instruções. Saindo da cidade, depois da ponte, virar à esquerda. O único problema é que, depois da ponte, não tinha nenhuma saída para a esquerda, só uma subida com grau de inclinação por volta dos 100º (um leve exagero, mas eu não consegui subir pedalando, precisei descer da bicicleta. Também porque era muito estreita e tinha uma curva que me escondia dos carros). Depois desta subida, tinha um outro bairro. No final do bairro, pedi informações para um morador. Ele começou a falar nomes de vilas e/ou cidades para me explicar. Eu falei que não conhecia nada, pois não era da cidade. Ele disse "pois é" e continuou de onde parou, sem nem se importar com este fato. Só serviu para me confundir. Logo após esse bairro, começou uma subida que se estendeu por 20km. Mas não era uma subidinha, era muito íngreme e longa. De vez em quando, ficava mais plano, mas logo volta a subir. Passei por outra ponte e pensei que poderia ser ali que tivesse uma saída para a esquerda, mas, novamente, não havia alguma.
Às 11h, eu cheguei a um bar na beira da estrada (o primeiro lugar que encontrei com pessoas) e perguntei se faltava muito para a cachoeira, porém com aquela sensação concreta de que havia pegado o caminho errado. E meu medo fazia sentido: eu tinha passado 20km da saída para a esquerda. Exatamente os 20 de subida. Sentei para descansar e criar coragem para voltar. Dei "sorte" que um dos caras lá estava de caminhonete, indo exatamente a Poxoréu e me deu carona. Dei sorte também que ele estava bebendo apenas refrigerante. Eu havia, naquele instante, desistido oficialmente de conhecer a cachoeira do Lucas, após a terceira tentativa frustrada (as outras duas podem ser lidas aqui neste link https://pedaladordehistorias.blogspot.com/2021/07/explorando-primavera-do-leste-parte-1.html ). Na volta, o motorista me mostrou aonde eu deveria ter virado à esquerda. Era, realmente, depois da primeira ponte, só que 5 QUILÔMETROS DEPOIS, APÓS O BAIRRO. Uma coisa é 5km de carro, outra é de bicicleta em um lugar que você não conhece. Voltei ao posto e fiquei morrendo de cansaço e calor o resto do dia. Amanhã vou até à secretaria de turismo ver se consigo convencer o guia a me levar à cachoeira.
(Relato escrito em 02/09/2020) Segunda, 31. Fiquei meio na preguiça, meio descansando do pedal do domingo, até que me lembrei que a secretaria de turismo, aliás, todas as secretarias da prefeitura da cidade, só abriam de manhã. Fui, então, correndo para a secretaria de turismo tentar falar com o guia. Cheguei lá por volta das 11h e já estava fechada. Isso fez com que eu decidisse ir embora no dia seguinte. Ainda havia várias cachoeiras a visitar, mas, os fatos de não haver sinalização, eu não conhecer a região e elas serem afastadas da cidade mais de 25km, pesaram para que eu desistisse de visitá-las.
(Por algum motivo que me foge à razão, eu deixei uma parte importante de fora das minhas anotações no caderno e a contarei agora, daqui até o final do post.)
No final da tarde da segunda-feira, um dia antes de ir embora, eu decidi subir o morro sozinho. Eu havia entrado no terreno do morro no meio da tarde do domingo, como relatei no post anterior, e já sabia mais ou menos para onde ir. Não iria ver o nascer do sol, mas iria ver o seu pôr. Assim, eu faria a trilha ainda durante o dia e seria mais difícil eu me perder. E, mesmo que eu me perdesse, seria fácil achar a trilha de volta. Cheguei na entrada secundária - e interditada - do morro, levei a Frankenstina um pouco mais para o meio do mato para escondê-la um pouco mais e trancá-la, atravessei a cerca e comecei a minha subida.
No final da tarde da segunda-feira, um dia antes de ir embora, eu decidi subir o morro sozinho. Eu havia entrado no terreno do morro no meio da tarde do domingo, como relatei no post anterior, e já sabia mais ou menos para onde ir. Não iria ver o nascer do sol, mas iria ver o seu pôr. Assim, eu faria a trilha ainda durante o dia e seria mais difícil eu me perder. E, mesmo que eu me perdesse, seria fácil achar a trilha de volta. Cheguei na entrada secundária - e interditada - do morro, levei a Frankenstina um pouco mais para o meio do mato para escondê-la um pouco mais e trancá-la, atravessei a cerca e comecei a minha subida.
Cheguei na árvore caída, que relatei no post anterior, passei pelo meio dos galhos e segui em frente, com um certo receio de estar no caminho errado. A menina local que eu havia conversado, tinha me dito que existem duas trilhas: uma para a época de chuvas e outra para a época seca. Porém, segui em frente. Logo depois da árvore, a mata fechada se abriu e eu pude ver o morro claramente e pude ver também a trilha que seguia e me deu mais confiança para continuar. Nos primeiros 15 ou 20 minutos de trilha, é plano ou com uma subida muito leve e dá pra ir com um ritmo bom. Após este tempo, começa a ficar um pouco mais difícil. Em uma das mais difíceis, senão a mais difícil, é preciso escalar minimamente para subir, apesar de já estar bem marcado pela frequente passagem de pessoas.
O morro que se abriu para mim
Depois deste trecho mais difícil, a trilha voltou a seguir em subida suave. Em um ponto, cheguei até uma cerca e passei no meio dela. Ali, eu vi uma estrada que levava, para a direita, descendo, à sede da fazenda Morro da Mesa, por onde as pessoas normalmente entram para visitar o morro e onde sobem de carro até aquele ponto onde eu estava para fazer apenas o percurso final a pé. Para a esquerda, acima, a trilha que levava ao morro. Este caminho leva para a parte de trás do morro, rodeando-o até chegar a algumas escadas e um "portal" de entrada do morro. Este trecho é o mais perigoso, pois é bem estreito e tem um abismo do seu lado esquerdo (subindo). Porém, é um trecho curto e logo chega-se ao topo do morro: uma campina descampada, com apenas alguns arbustos baixos espalhados aqui e ali. A trilha segue "cortando" o morro, de uma ponta a outra, pois o local onde as pessoas normalmente ficam para apreciar o nascer/pôr do sol, é do outro lado, de onde, também, se tem uma visão da cidade de Poxoréu.
Vista da subida antes do "portal"
O "portal". Pode-se ver que o caminho é bem estreito e ao lado de um abismo. Logo após este "portal", existe um corrimão, mas somente por alguns metros
Do outro lado do "portal"
Já no topo
Andorinhas que voavam e brincavam. Às vezes passavam bem próximo a mim e faziam um barulho que parecia que estavam querendo demarcar o território e afugentar o "invasor"
A lua já se mostrando antes do pôr-do-sol
O topo do morro em sua extensão
Após atravessar toda a extensão do topo do morro e chegar ao outro lado, parei para descansar e olhar a casa que existe lá em cima. Assim como o "portal", ela é toda desenhada, colorida e escrita. Também existe uma torre de alguma coisa lá em cima, ao lado da casa. Ali foi onde eu "me instalei" para assistir ao espetáculo de cores do fim do dia no cerrado. E, além do espetáculo do astro-rei, pude presenciar também o retorno para casa de um casal de Araras-vermelhas, que contribuiu mais ainda para o cenário colorido ao qual eu estava assistindo. Já havia um grupo de pessoas lá em cima quando eu cheguei, provavelmente uma família, que também esperava pelo espetáculo. Eles ficaram um pouco mais ao centro do morro e eu fui mais para a beirada, perto do paredão, de onde puder ver o casal de Araras.
A casa no morro
Seja e volte bem-vindo sempre
Poxoréu
O casal chegando em casa
Descansando um pouco antes de entrar em casa, tomando os últimos raios de sol
Arara-vermelha (Ara chloropterus)
"Pogo-sol". Só quem tem mais de 30 vai entender essa
Gibão-de-couro (Hirundinea Ferruginea)
Gibão-de-couro (Hirundinea Ferruginea)
Já em seu lugar de descanso, seu ninho sagrado
Fiquei ainda alguns minutos lá em cima após o sol já ter desaparecido no horizonte, mas comecei a descida quando ainda estava claro. Porém, logo isso mudou. Quando cheguei ao "portal", já estava escuro. Mas isso não foi um empecilho, tanto porque eu já esperava isso, como porque eu sabia mais ou menos o caminho, mas, também, porque eu tive uma experiência que eu não me lembro de já ter tido em minhas vidas antes: a lua cheia estava tão grande, com o céu tão limpo, que eu estava conseguindo enxergar quase tudo. Aliás, a lua estava fazendo sombra do meu corpo!!!! Se não fosse pela possibilidade de cruzar com alguma cobra, eu não precisaria ligar a minha lanterna. Pra mim, que sempre vivi em cidades grandes, isso foi uma coisa excepcional e surpreendente, sem contar que a sensação foi maravilhosa. Eu estava descendo e dando risada sozinho deste fato.
A lua brincando de esconde-esconde, saindo de trás do morro para iluminar o caminho. Por favor, não venham dizer que a lua não ilumina, que ela não produz luz própria, que ela apenas reflete a luz solar, eu sei disso
Maravilhosa
Eu estava andando e vendo luzes acendendo e apagando no meio do mato. Comecei a achar que era uma miragem, algum "espírito", mas era só uma árvore que alguém teve a ideia de colocar "pisca-pisca" - aquelas luzes de natal - nela
Achoooooouuuuuu
A descida foi bem tranquila e o caminho estava ainda fresco em minha mente. De vez em quando eu ouvia a família atrás de mim, conversando, quando eu parava para apreciar o ar, a vista no escuro iluminado ou para tirar alguma das fotos acima e também via suas lanternas aparecendo e desaparecendo. Cheguei na cerca do lado de fora, peguei a Frankenstina e voltei para a cidade para passar minha última noite em Poxoréu.
Que fotos incríveis e que experiência heim 👏🏽👏🏽👏🏽
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