(Continuação do relato escrito em 30/08/2020) Quinta 27. Saí às 7h53 decidido e preparado para ir até o fim e chegar à cachoeira. Com as ferramentas, desta vez. Como falei (no post anterior), é subida 70% do trajeto. Algumas pesadas, inclusive. Tanto pela inclinação, quanto pela presença de areia. Em alguns pontos, eu precisava descer para empurrar, pois não tinha como pedalar. Só parei para descansar às 9h15, quando encontrei uma sombra. A vegetação do cerrado, principalmente nesta época de seca, é, geralmente, baixa e com poucas folhas. Difícil encontrar uma sombra boa. Depois de alguns minutos, segui pedalando e parei um pouco mais à frente, em uma fazenda, para pedir informação. Eu estava confundindo as informações com outro trajeto para cachoeira. Estava esperando passar por 3 pontes quando, na verdade, neste trajeto era apenas uma. Aliás, a cachoeira ficava justamente abaixo desta primeira ponte. Um cara num trator, na fazenda, me informou que faltavam ainda uns 6km. Para minha felicidade, os últimos 2 ou 3km foram só descida. Eu ainda estava esperando as 3 pontes, então, quando cheguei na primeira - e única deste trajeto - e ouvi o barulho de água caindo, fiquei em dúvida. Tinha uma casa um pouco mais acima e fui até ela perguntar se era ali. Uma mulher começou a me explicar, quando saiu um senhor, com uma grande barba branca e cara de poucos amigos, dizendo que era ali mesmo e encerrou logo a conversa. Pelo menos não levei um tiro. Afinal, era ali, de fato. Cheguei às 10h30. Fiz 23km em 2h37. Foi até bom o tempo.
Era um lugar gostoso, bem fechado, água clara no poço raso e uma cachoeira forte que cai por entre duas rochas (daí o nome da cachoeira de "Pedra furada"). Não tinha ninguém!! Meio de semana, perto da hora do almoço... Ela estava só para mim. Resolvi, então, me banhar "in natura". Fiz a minha própria cachoeira naturalista, mas só dentro da água. Quando saía, vestia a bermuda de ciclismo (vai que chegasse alguém). Fora da água, eu começava a escrever, ou comer, ou tirar foto, ou apenas descansar e os mosquitos me atacavam. Aí eu voltava pra água. Fiquei nesse vai-e-volta até 14h30, quando comecei minha pedalada para voltar, exatamente na hora que uma caminhonete encostou, com algumas mulheres dentro, para ir à cachoeira. Já pensou se elas me pegam enquanto eu tomava banho? Risco que tomei... A volta, apesar do sol, foi bem mais tranquila, por ser descida a maior parte do caminho. O ponto baixo foi que minha maçã cozinhou dentro da mochilinha. Estava impossível de comer. Fiz a volta em 2h03. Quando cheguei, só tomei banho e descansei. Eu tenho acordado cedo por motivos de maritacas que, às 5h da madrugada, pousam na árvore ao lado da barraca e ficam gritando. Pelo cansaço do pedal, às 20h eu já estava me recolhendo.
Pica-pau-branco (Melanerpes candidus) que vi pelo caminho
A Cachoeira da Pedra Furada. A segurança da escola que eu havia parado no dia anterior, me falou que, alguns dias antes, haviam avistado uma sucuri ao lado da queda. Olhei, procurei, joguei o zoom da câmera e não vi nada. Nunca dou sorte
Sequência do córrego
Colmeia ao lado da queda
Sanhaçu-cinzento (Tangara sayaca)
Saí-andorinha (Tersina viridis). Aquele mesmo que eu fotografei em Barra do Garças que eu me apaixonei
Suiriri (Tyrannus melancholicus)
Graúna (Gnorimopsar chopi), conhecido no Mato Grosso como "Passo-preto", que é o jeito mato-grossense de falar "Pássaro-preto"
De novo ele
Anu-preto (Crotophaga ani)
Sexta, 28. Tirei o dia para descansar e conversar com dois senhores gaúchos que moram na cidade. Um era caminhoneiro/garimpeiro e já viajou quase o país todo, faltando apenas o Amapá, mais alguns países, como Venezuela, Guiana e Suriname. Se teve mais, não falou. O outro senhor era corretor de imóveis e virou detetive particular. Ambos me contaram histórias sensacionais. O primeiro me falou de um lugar no Pará, chamado Tapajós, que ele gostou e o detetive me falou de uma vez que ajudou um homem a reencontrar a irmã depois de 40 anos sem vê-la (foi uma delícia conversar com eles, ouvir suas histórias. Infelizmente, não me lembro de seus nomes, mas talvez seja melhor deixá-los no anonimato. O primeiro me contou também sobre quando chegou na cidade, que vivia do garimpo, contou sobre o "seu" Lucas, um dos primeiros habitantes e desbravadores da cidade e dono do posto onde eu acampava, que foi quem descobriu as cachoeiras que foram batizadas após ele. Contou sobre alguns locais que eu deveria visitar e me deu algumas ideias de como pescar quando estiver em beira de rio para ter comida). Conversei também, de noite, com o dono do posto, filho do "seu" Lucas. Eu vinha conversando com uma moradora da cidade, amiga de uma amiga minha de Primavera do Leste. Eu tinha pegado seu contato na quarta-feira, para ver se ela me dava dicas para subir o Morro da Mesa. Na quinta, ficamos conversando bastante - somente por whatsapp -, contando minha história e ela me falando dos locais legais dentro da cidade. Ficamos meio acertados de subir o morro no sábado, dependendo apenas do que iria dizer o decreto que o prefeito iria soltar no final da tarde da sexta, pois a subida estava proibida desde o começo da pandemia. Porém, mandei mensagem pra ela e não tive resposta. Acho que vou embora sem subir o morro.
Sábado, 29. Não subi o morro de madrugada para ver o nascer do sol. Fiquei descansando por dois motivos: 1- na hora do almoço, parou um cicloviajante lá no posto para almoçar e puxei papo com ele. Está na estrada faz 19 anos (o estilo de viagem dele é traçar um destino onde ele poderá trabalhar por algum tempo e guardar o dinheiro para seguir para o próximo destino. Ele me disse que enjoa rápido dos lugares. Será que um dia eu vou ser assim? Deixar de me encantar com as coisas novas e enjoar rapidamente?). Marcamos de tomar uma cerveja de noite; 2- Fui até o morro à tarde, para sondar mais ou menos a trilha (entrei, clandestinamente, pela trilha secundária, que estava interditada pela prefeitura). Logo no começo, vi duas trilhas opostas. Segui uma até uma árvore caída, mas vi que ela continuava depois, porém voltei para ver onde a outra daria. Segui-a por algum tempo, até uma parte mais alta, onde tinha mais uma trilha. Só no começo, 4 trilhas diferentes. Ainda bem que não fui de madrugada. Só não segui mais, porque estava sem a câmera e porque tinha combinado de tomar cerveja. Conversamos bastante à noite. Disse a ele que iria para a cachoeira do Lucas no dia seguinte e perguntei se ele queria ir junto. Ele até topou, mas, quando falei que eram 40km, ele desistiu. Tinha sofrido um acidente recentemente e não conseguia dobrar inteiramente o joelho. Ficamos até fechar, o que não quer dizer muita coisa, pois o decreto autorizava a abertura somente até às 21h. Nos despedimos, pois ele iria embora e eu iria à cachoeira.
Ps: Obrigado www.wikiaves.com.br
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