(Continuação do relato escrito em 23/08/2020) Quinta, 22/08: Cheguei em Primavera do Leste às 19h30, fazendo frio e com vento gelado. Resolvi ter minhas últimas noites de sono na cidade em cama confortável e quentinho, então fui a um hotel (fui naquele primeiro que havia ficado quando cheguei à cidade). Também pelo café da manhã, pois iria comer bem e ainda faria a marmita para levar na viagem. Na sexta 21, fiquei apenas descansando, fazendo hora, para ir embora na manhã do sábado (não só descansando sem fazer nada; passei na escola para pegar minhas coisas e me despedir do pessoal. Marcamos de tomar cerveja à noite para a despedida e fomos. Infelizmente, o dono da escola tinha compromisso e chegou mais tarde, mas deu pra agradecer e nos despedirmos).
Sábado 22. Saí de Primavera do Leste às 9h15, mais tarde do que queria, pra variar. O caminho foi tranquilo. Maior parte do tempo com acostamento e poucas subidas fortes. Cheguei em Poxoréu (ou Poxoréo, em algumas escritas. Não sei qual o certo) às 12h35. 42km em 3:20h. Para quem estava a quase 1 ano sem pedalar direito, foi até bom. Parei num restaurante, comi e comecei a procurar um lugar para acampar. Eu tinha passado por um posto de gasolina, mas o dono do restaurante me falou do pátio da prefeitura, onde tem vigia e banheiro. Fui até lá e conversei com o vigia, mas ele disse que de noite é outro vigia e ele não sabia dizer se podia. Resolvi voltar ao posto e permitiram que eu acampasse lá. Posto para caminhoneiro sempre tem banheiro com chuveiro. Este só tem um chuveiro e é gelado, mas quem precisa de chuveiro quente no calor de 35ºC do MT, num final de semana que tinha frente fria no país todo e nevava no sul? Principalmente depois do pedal. Tudo o que eu queria era um banho gelado. Depois do banho, fiquei apenas me recuperando, descansando. Hoje, domingo 22, foi, novamente, dia de descansar, por dois motivos: a cidade toda fechada depois do meio dia e a final da Liga dos Campeões, apesar de que o jogo nem foi tão bom. Amanhã vou dar um rolê pela cidade.
(Novo relato, escrito em 30/08/2020) Na segunda 24, eu saí de manhã para fazer alguma coisa, que não me lembro o que, e acabei parando na secretaria de turismo. Dei sorte, pois lá estava um dos condutores de turismo dos atrativos da cidade. Ele me falou de várias cachoeiras que eu nunca tinha ouvido falar e me explicou como chegar nelas. Também me falou de dois lugares dentro da cidade: a cachoeira da Usina e o córrego Pará. Após a conversa, fui à cachoeira da Usina, que é, literalmente, uma usina hidrelétrica, mas não entrei na água. A cachoeira tem um volume de água muito alto e tinha muitas pedras, pareceu perigoso. Tinha um córrego que desaguava ali (talvez o Pará), onde eu poderia ter entrado, mas não me atraiu porque tinha um pouco de lixo. Apenas tirei algumas fotos e voltei para o posto. Almocei uma marmita do restaurante do posto, que custa R$13,00 e ainda guardei metade para a janta.
Cartão postal da cidade: Morro da Mesa. Foto tirada da estrada, antes de chegar na cidade
Cachoeira da Usina
Sequência do leito do rio
Córrego que deságua no rio
Encontro das águas do córrego e do rio da cachoeira da Usina
Paisagem típica do cerrado na época seca
Depois do almoço, dei um tempo para o sol baixar um pouco e fui até o Pará (o córrego, não o estado). Não achei tudo isso que o condutor tinha me falado, mas é dentro da cidade e serviu pra dar uma refrescada. Só que a água é escura e tinha muito mosquito, o que obrigava a ficar dentro da água. Voltei para o posto no final da tarde, comi o resto da marmita e logo fui dormir. Eu ainda estava cansado do pedal, que aumentou ainda mais na cidade, pois é só morro e, também, estava desacostumado a dormir em barraca. Eu tinha comprado outro colchonete e levado na costureira para juntar os dois, mas não mudou quase nada, para não dizer nada. Fora que, nos fundos do posto, tem uma hortinha e um galinheiro. A pessoa que falou que este animal canta antes do nascer do sol, não disse que é O TEMPO TODO antes do nascer do sol. Juntando tudo isso, resultou em noites muito mal dormidas. Mas, tinha outro motivo pra eu ir dormir cedo: eu iria acordar às 3h da manhã para subir o "Morro da Mesa" para ver o nascer do sol. E assim foi. Às 3h da manhã da terça-feira 25 eu estava de pé. Peguei água, comida, câmera... tudo pronto para subir. A entrada da trilha fica uns 5km fora da cidade. Quando a cidade acabou, eu notei que me faltava algo muito importante: lanterna na Frankenstina. Parei ao lado do último poste de luz, imaginando, observando, ponderando... Voltei para trás e adiei para o dia seguinte. Aproveitei e voltei a dormir.
Córrego Pará
Cajus que colhi do cajueiro ao fundo, dentro do posto onde estava acampando
Tirei o dia para ir ao mercado, comprar comida, pois eu pretendia, depois de descer o morro, ir até uma cachoeira que ficava a, mais ou menos, 20km da cidade. Também comprei uma lanterna, mas tive a impressão de que não resolveria (por ser muito fraca). Quando chegou a noite e eu fui fazer o lanche para os passeios da quarta, eu percebi que o sol havia me feito o favor de derreter o queijo antes de eu colocar no pão, transformando tudo em uma bola grudada de mussarela. Nem preciso de fogão, microondas ou sanduicheira. Dividi da melhor forma que deu e fui dormir.
Quarta 26. Acordei, novamente, às 3h da manhã. Um pouco mais preparado desta vez, saí da cidade (passei do último poste). Porém, como imaginei, a lanterna não resolveu de muita coisa. O foco de luz era muito fraco e iluminava muito pouco à frente. Em um dado momento, liguei a lanterna do celular e, aí sim, consegui enxergar (porém, estava com o celular na mão e estava bem arriscado, com apenas uma mão segurando o guidão apropriadamente). Cheguei até a entrada da trilha - que só depois que eu fiquei sabendo que é uma trilha secundária e "ilegal", apesar de ser a mais usada. A outra é 1km pra frente e entra por uma fazenda. Quando cheguei lá, tinha uma placa escrito "proibido o acesso". Eu olhei para aquela escuridão, a placa de proibido - que eu achei que fosse por algum problema na trilha, mas era por causa da pandemia - e fiquei com medo de subir um morro no escuro, em trilhas que eu não conhecia. De novo, voltei para trás. E voltei a dormir, lógico. Acordei por volta das 8h30 e resolvi ir até a cachoeira, como tinha programado.
Acabei saindo às 9h30. Por volta das 10h15, eu tinha pedalado só 6km. Estrada de terra, só subida, cansaço acumulado... parei numa escola agrícola para pedir informação. Ali, eu notei que eu tinha esquecido de trazer minhas ferramentas para conserto da bike, caso furasse algum pneu ou algo assim. Ainda faltavam 17km e o sol estava ficando muito forte. Então, resolvi voltar. Parece que não é pra eu fazer nada nesta cidade. Eu tinha comprado um tomate para colocar no pão com frios, para dar um gosto diferente e ficar um pouco mais saudável, mas ele encharcou tudo e azedou os pães. Só consegui comer dois e joguei outros dois fora. Não façam isso, crianças, a menos que tenham uma geladeira.
757km pedalados entre cidades.
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