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sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Há males que vêm para o bem, de verdade..

Queria começar o post de hoje dizendo que eu, como um bom paulistano, não sabia a importância que tinha a chuva. Hoje, depois de quase 6 meses sem chover na região, caiu uma chuva rápida, meio que uma introdução à estação chuvosa, que já serviu para amenizar a temperatura e melhorar a qualidade do ar. Agora, voltemos no tempo até a época em que ainda estava em Bonito.

Os dias que seguiram ao passeio nas cachoeiras da Serra da Bodoquena foram de procura de emprego, em que eu havia me determinado a não fazer mais nenhum passeio até arranjar um emprego, ou fazer um último e ir embora caso não conseguisse nada.

Começando pelo dia seguinte ao passeio, eu fiquei o dia atualizando meu currículo para poder entregar na cidade. Realmente passei o dia fazendo isso. Minhas habilidades com celular não eram tão evoluídas quanto hoje, que ainda são bem diminutas. Me dou muito bem com computador/notebook, mas celular é um desafio pra mim.

Lá no couchsurfing foi a primeira vez que cozinhei na cidade. Fiz um macarrão e bife. Outra coisa que é MUITO IMPORTANTE sobre Bonito, é que a água encanada (torneira, chuveiro etc), bem como a água dos rios e nascentes, tanto de Bonito como de Jardim e Bodoquena, as duas cidades vizinhas que também possuem atrativos, tem grandes concentrações de calcário e magnésio. Para quem não está acostumado, uma quantidade ingerida não muito grande desta água pode servir como laxante natural. Eu sabia disso e estava evitando a todo custo (consciente) de beber da água calcárea. O que eu não imaginaria é que cozinhar macarrão na água calcárea daria o mesmo resultado. Pelo menos, é a única explicação que eu tenho para a diarréia que me deu de noite. Ainda demorou várias horas para fazer efeito, mas fez, e fez forte!! Mas, como venho fazendo há alguns anos já, sobrevivi.

Os dias seguintes se alternaram entre preguiça de sair de casa e ficar o dia inteiro morgando de molho, e rodar a cidade inteira atrás de emprego. Em uma das noites, fiquei sabendo de um rock'n roll que iria rolar na Bonito Beer. Fui lá conferir, mas era um acústico muito mal feito, desafinado e no embromation. Teve uma hora que eu me segurei para não tirar o microfone da mão do vocalista e cantar Learn to Fly do Foo Fighters.

Já fazia quase 10 dias que estava procurando emprego na cidade. Em todos os lugares eu ouvia que era baixa temporada, que ninguém estava contratando, que seria muito difícil, que estavam com quadro cheio... Até que uma pessoa de uma das (muitas) agências da cidade me falou que a Bonito Way estava contratando. Fui lá para uma última tentativa. Se não desse certo, iria embora. Talvez até sem fazer o tal último passeio. Cheguei lá e falei com uma das agentes, que eu, sinceramente, não lembro com certeza quem foi. Ela me mandou para a sala de uma das gerentes, a Grazielle. Conversamos alguns minutos e ela me fez duas perguntas cruciais: "você vai morar aqui definitivamente ou tá de passagem?", ao que eu respondi meio com medo de falar a verdade, dizendo que ainda não sabia, e a segunda foi "pode vir amanhã às 7 para começar o treinamento?", o que eu rapidamente respondi que sim.

No dia seguinte cheguei lá todo feliz as 7h para iniciar meu treinamento. Fomos eu e uma garota que também havia chegado recentemente na cidade, vinda do interior do estado do Rio de janeiro.

No meu segundo dia na agência eu decidi ser franco e honesto e ver o que aconteceria: cheguei na Grazi (já estava íntimo, haha) e falei que meu intuito era ficar só 3 meses para aproveitar da cidade e partir para outra. Se eles aceitassem, ótimo.  Se não, eu iria embora de consciência limpa sabendo que não enganei ninguém. Ela me disse que iria conversar com a outra gerente (a GG master Ana) e com a dona (Drica) e me daria a resposta no dia seguinte. Chegou então o dia seguinte, e ela me falou que aceitaram, que eu poderia continuar o treinamento. Mais tarde descobri que foi a Ana que me "bancou". Obrigado Ana, vai Corinthians!!! Mas agradeço também à Grazi e à Drica pela oportunidade e pela paciência que tiveram comigo.

A menina que entrou comigo era bem novinha, nunca tinha trabalhado na vida e teve bastante dificuldade em pegar o ritmo, coitada. Tinha medo, parecia. Não durou muito tempo. Saiu da agência depois de mais de um mês (pessoal lá é BEM paciente) e passar mal no expediente. Eu nunca havia trabalhado com vendas ou com atendimento, mas não tinha muito segredo. Era muito fácil o trabalho. Eu, em pouco mais de uma semana, já estava vendendo. Minha segunda venda foi para um grupo de 7 ou 8 paraguaios que foram empurrados para mim porque ninguém se arriscou a falar espanhol com eles. Não que eu estivesse reclamando, vendi bem. Achei bom, até.

Fiquei ainda alguns dias na casa do couchsurfing que estava, até que fui morar com um colega da agência que procurava alguém para dividir o aluguel. Achei que seria uma boa para nós dois e parti.

Tudo caminhando bem. Empregado, morando numa casa mobiliada e dividindo aluguel e, o mais importante, aproveitando as folgas para fazer passeios. Não vou ser hipócrita de dizer que eu tinha qualquer outro objetivo em arranjar emprego na cidade, mas isso não quer dizer que eu fazia meu trabalho de qualquer jeito também. Claro que vacilei em alguns momentos, fiz algumas besteiras, afinal era um mundo novo para mim, mas no final acredito que fui bem, para alguém totalmente inexperiente. Tenho até medo de receber feedback do pessoal da agência, prefiro ficar na ignorância, hahahaha (to rindo, mas é sério).

Havia só uma coisa que eu precisava resolver agora: eu ainda pagava aluguel da minha casa em SP (quem me acompanha desde o começo, sabe que eu pretendia voltar para SP após 4 meses de viagem. Quem chegou agora, leia os outros relatos anteriores para saber como cheguei até aqui). Mas já não era mais o caso, pois eu havia decidido morar e trabalhar. Eu precisava, então, dar um jeito de "me livrar" das minhas coisas e entregar a casa. Foi então que apareceu uma folga de 5 dias da agência, com menos de um mês que eu estava la. O pessoal lá é muito bonzinho??? Nada disso. Peguei conjuntivite e o médico deu 5 dias de atestado. Aproveitei para (acabar com minha reserva financeira) ir para SP e resolver este assunto. Foi uma via sacra para ir e para voltar. Peguei a van para Campo Grande e desci na última cidade antes de CG, chamada Sidrolândia. Lá eu peguei um taxi que me levou, pelo meio do mato, as 23h, até um local por onde o ônibus para SP iria passar. Cheguei lá me cagando de medo tanto de ser jogado no meio do mato e ninguém me encontrar nunca mais, quanto de perder o ônibus. Nenhum dos dois aconteceu e consegui embarcar. Em SP, vendi o que consegui vender, doei algumas coisas, joguei fora o que ninguém quis e guardei o resto, ou na casa do meu irmão ou na casa dos meus pais. Entreguei a casa e voltei. Na volta, peguei um avião até Presidente Prudente, de lá ônibus até CG e por último, a van para Bonito. Pronto!!! Estava, finalmente, livre de SP e livre para viajar sem rumo, sem pressa e sem destino.

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